Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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O Primeiro Amor
certa vez
quanto eu tinha 14 anos
os criadores me trouxeram
meu único sentimento de
chance.
meu pai não gostava
de livros e
minha mãe não gostava
de livros (porque meu pai
não gostava de livros)
sobretudo aqueles que eu trazia
da biblioteca:
D.H. Lawrence
Dostoiévski
Turguêniev
Górki
A. Huxley
Sinclair Lewis
outros.
eu tinha meu próprio quarto
mas às 8 da noite
devíamos estar todos indo dormir:
“Cedo na cama e cedo desperto:
o homem fica saudável, rico e esperto”,
meu pai costumava dizer.
“LUZES DESLIGADAS!”, ele gritava.
então eu pegava o abajur de cabeceira
colocava embaixo das cobertas
e com o calor e a luz escondida
eu continuava lendo:
Ibsen
Shakespeare
Tchékhov
Jeffers
Thurber
Conrad Aiken
outros.
eles me trouxeram chance e esperança e
sentimento num lugar sem chance,
sem esperança, sem sentimento.
eu trabalhei duro.
ficava quente embaixo das cobertas.
às vezes o abajur começava a soltar fumaça
ou os lençóis – começavam a
pegar fogo;
aí eu desligava o abajur,
segurava fora da janela para
esfriar.
sem esses livros
não tenho bem certeza
no que teria dado a minha
vida:
desvario; o
assassinato do pai;
idiotismo; imbecilidade;
insípida desesperança.
quando meu pai gritava
“LUZES DESLIGADAS!”
tenho certeza de que ele temia
a palavra bem escrita
que aparecia com suavidade
e razoabilidade
em nossa melhor e
mais interessante
literatura.
e foi ali
perto de mim
embaixo das cobertas
mais mulher do que mulher
mais homem do que homem.
eu tinha tudo
e
não deixei escapar.
quanto eu tinha 14 anos
os criadores me trouxeram
meu único sentimento de
chance.
meu pai não gostava
de livros e
minha mãe não gostava
de livros (porque meu pai
não gostava de livros)
sobretudo aqueles que eu trazia
da biblioteca:
D.H. Lawrence
Dostoiévski
Turguêniev
Górki
A. Huxley
Sinclair Lewis
outros.
eu tinha meu próprio quarto
mas às 8 da noite
devíamos estar todos indo dormir:
“Cedo na cama e cedo desperto:
o homem fica saudável, rico e esperto”,
meu pai costumava dizer.
“LUZES DESLIGADAS!”, ele gritava.
então eu pegava o abajur de cabeceira
colocava embaixo das cobertas
e com o calor e a luz escondida
eu continuava lendo:
Ibsen
Shakespeare
Tchékhov
Jeffers
Thurber
Conrad Aiken
outros.
eles me trouxeram chance e esperança e
sentimento num lugar sem chance,
sem esperança, sem sentimento.
eu trabalhei duro.
ficava quente embaixo das cobertas.
às vezes o abajur começava a soltar fumaça
ou os lençóis – começavam a
pegar fogo;
aí eu desligava o abajur,
segurava fora da janela para
esfriar.
sem esses livros
não tenho bem certeza
no que teria dado a minha
vida:
desvario; o
assassinato do pai;
idiotismo; imbecilidade;
insípida desesperança.
quando meu pai gritava
“LUZES DESLIGADAS!”
tenho certeza de que ele temia
a palavra bem escrita
que aparecia com suavidade
e razoabilidade
em nossa melhor e
mais interessante
literatura.
e foi ali
perto de mim
embaixo das cobertas
mais mulher do que mulher
mais homem do que homem.
eu tinha tudo
e
não deixei escapar.
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