Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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Meu Pai
meu pai gostava de regras e de fazer as coisas
do jeito difícil.
ele falava de responsabilidades e leis
e coisas que só tinham que ser feitas corretamente.
um homem tem que trabalhar, um homem tem que comer.
um homem tem que ter sua propriedade e aparar seu gramado.
acabei me tornando um bêbado e um andarilho
e seus pacotes de cartas me seguiam por todo lugar.
eu olhava para os pombos na chuva em
Nova Orleans enquanto as cartas diziam,
vá em frente, dê um jeito na sua vida!
com que dificuldade o mundo tenta e como tudo
foi difícil para mim.
meu pai agora está velho e grisalho e quando
eu entro na casa dele se queixa
do barro que trago para dentro. ele
se orgulha da sua casa e jardim e
fica sentado à espera. mas eu
fico horrorizado enquanto ele fala comigo:
ele nunca pensou na morte! ele não
pensa em morrer! enquanto fala, sua
boca é um buraco redondo; ele se reclina contente
em suas almofadas. quando me vou ele diz,
volte de novo, volte de novo.
quantas vezes e por quê?
quem é meu pai? alguma vez ele
tocou uma guitarra ou nadou em águas geladas?
conheço meu pai: ele está morto. há lama
morta e há um galho de árvore. o galho
de árvore balança suave ao vento e
entre as folhas você vê lampejos do sol.
é sossegado. é real. é tépido.
e o barro no assoalho é o coração do meu pai
e seu cérebro.
do jeito difícil.
ele falava de responsabilidades e leis
e coisas que só tinham que ser feitas corretamente.
um homem tem que trabalhar, um homem tem que comer.
um homem tem que ter sua propriedade e aparar seu gramado.
acabei me tornando um bêbado e um andarilho
e seus pacotes de cartas me seguiam por todo lugar.
eu olhava para os pombos na chuva em
Nova Orleans enquanto as cartas diziam,
vá em frente, dê um jeito na sua vida!
com que dificuldade o mundo tenta e como tudo
foi difícil para mim.
meu pai agora está velho e grisalho e quando
eu entro na casa dele se queixa
do barro que trago para dentro. ele
se orgulha da sua casa e jardim e
fica sentado à espera. mas eu
fico horrorizado enquanto ele fala comigo:
ele nunca pensou na morte! ele não
pensa em morrer! enquanto fala, sua
boca é um buraco redondo; ele se reclina contente
em suas almofadas. quando me vou ele diz,
volte de novo, volte de novo.
quantas vezes e por quê?
quem é meu pai? alguma vez ele
tocou uma guitarra ou nadou em águas geladas?
conheço meu pai: ele está morto. há lama
morta e há um galho de árvore. o galho
de árvore balança suave ao vento e
entre as folhas você vê lampejos do sol.
é sossegado. é real. é tépido.
e o barro no assoalho é o coração do meu pai
e seu cérebro.
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