Renato Rezende

Renato Rezende

1964-04-08 São Paulo
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[Oceano]

Círculos de luz opaca, em vibrações, como se saíssem de mim, da região entre os olhos: a sensação de levantar-me dentro de mim mesmo, e ascender, ao ver um objeto caindo, caindo, caindo sem fim e se espatifando junto a uma grande encosta murada, uma muralha que parecia erguer-se indefinidamente, e de repente, eu vendo, lá de cima, o infinito vale muito embaixo, onde corre o rio que era eu o objeto espatifado.

—Então me mata?

[Ela está pedindo para você matá-la]

Não Posso.

—Então me carrega no colo, em silêncio.

Sou uma pepita de ouro no seu ventre.

No fim de todos os caminhos, de todos os atalhos, de todas as vielas, de todos os declives, de todos os abismos, de todas as picadas e veredas está o mar.

O oceano iluminado.

Sonhei com você. A gente estava num bar do aeroporto, se despedindo, você ia viajar para algum lugar e usava umas roupas meio estranhas, tipo assim, roupas de peregrino. Aí você me disse que quando voltasse ia se casar com alguém do seu passado, você disse: “essa pessoa sempre esteve lá, acho que no fundo sempre soube que era ela”.

Uma voz agora:
Que me diga que eu existo, que eu estou vivo.

O sentimento de desamparo, no tudo estar de pernas para o ar, é facilmente sanado pelo Amor. Não o que vem de fora, mas o Amor que vem de dentro: substituir essa sensação por Amor: e tudo volta ao seu lugar, sobre esta terra, ao rés do chão: tudo volta a ter sentido.

Ser como um cão farejador de Amor.

Eu não quero ir a lugar algum.

—se for preciso, cavo.

Escorrer a vida e gozar de suas dádivas, sem cobiçar nada.

O Amor transforma o Tempo num oceano.

Cruzam monstros marinhos, disformes, horrorosos,
escuros
e eu os amo

a todos

Lá vou eu
choramingando de ternura pelos cantos.

Sou muito grata por existir.

Tudo é a Verdade.

Sou
partícula de fogo que retorna ao Sol

Esse corpo nunca mais.

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