Renato Rezende

Renato Rezende

1964-04-08 São Paulo
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[O Outro]

Se todas as pessoas que estão nesses prédios descessem à rua agora seria uma grande confusão, as ruas ficariam entupidas de gente veríamos quantos somos, olharíamos um a um nos olhos

Muitas dessas pessoas devem sentir o que eu sinto esse sentimento de inadequação, esse não-pertencimento

(talvez, todos juntos, num grande abraço da cidade inteira, no meio da rota do planeta pelo universo, num momento diante do sol, nos ajudaria)

Uma amiga diz que é a vista embaçada, não ver

o seio...

Eu não sou escritor. Não sou poeta. Não sou artista. O artista é aquele que se utiliza da linguagem para criar mensagens, conteúdos, novos significados. Eu sou uma pessoa que se utiliza desesperadamente da linguagem para criar-me a mim mesmo, para outorgar conteúdo e significado a mim mesmo. Quando e se alcançar meu objetivo, não precisarei mais escrever. Não sou um poeta, não sou um escritor, não, não sou um artista.

E às vezes viver é um mar de doçura.

Vontade de vadiar o dia todo

Eu sempre quis que uma mulher se apaixonasse por mim

(mulher)

Eu sou alguém que não sabe quem é e tenta se inventar com palavras, fora esse esforço, sou mudo—isso é ser poeta?

Sou um homem quebrado.
Talvez de alguma forma mais humano
Que todos os outros homens, funcionando.

Eu não sou teu inimigo
Sou apenas outro.

Uma voz tentando dizer alguma coisa.

Na escuridão—ou na luz
Tão ofuscante que cega—na escuridão.

Alguém tentando nascer.
Talvez uma menina.

Talvez um menino. Algo de bom
Algo de gentil. Talvez uma flor...

Para ser cuidada. Poderia ser sua filha
Poderia ser
Seu maior sonho de amor.

A poesia serve para desmascarar.
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