Herberto Helder
Herberto Helder de Oliveira foi um poeta português, considerado por alguns o 'maior poeta português da segunda metade do século XX' e um dos mentores da Poesia Experimental Portuguesa.
1930-11-23 Funchal
2015-03-23 Cascais
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Quem sabe é que é alto para dentro até apanhá-la:
leva tempo a amadurecer na minha mão,
e depois fica amarela. Quando se diz: está madura
na mão a rematada curva da pêra.
Faz anos que comi a fruta quando se olha.
Tão bem que o ar se ajusta
ao contorno do peso concêntrico depois de madura.
Até a lua romper o saco de ar.
Até ficar fria.
Espero que apodreça.
Já me não amedronta.
Porque as crianças na ponta dos pés, fincadas
na terra que doía, vi-as fazendo
o uso supremo de toda a parte direita até o esplendor
arrancar o braço, e os dedos
rodarem à procura. Vi
a luz esquartejada na parte exposta do corpo.
É quando estão na voragem da infância:
a pêra levanta fogo,
a mão levanta fogo, troca-se o fogo
entre mão e pêra.
Já me não importa.
Não me exalta a montagem do estio pêra sobre pêra.
Nem espero que fique madura: não me ergo,
não toco, não sopro, não empurro a luz.
Tanto se me dá que estremeça na bolsa de ar,
que a maturidade estremeça.
Não cômo.
Não tenho medo.
Há-de formar-se no seu elemento profundo,
atingir uma proximidade última,
ser plena,
ficar pôdre. Mas tanto se me dá,
já me não amedronta.
Porque estou perto.
Porque a não comerei nunca.
Porque morro.
leva tempo a amadurecer na minha mão,
e depois fica amarela. Quando se diz: está madura
na mão a rematada curva da pêra.
Faz anos que comi a fruta quando se olha.
Tão bem que o ar se ajusta
ao contorno do peso concêntrico depois de madura.
Até a lua romper o saco de ar.
Até ficar fria.
Espero que apodreça.
Já me não amedronta.
Porque as crianças na ponta dos pés, fincadas
na terra que doía, vi-as fazendo
o uso supremo de toda a parte direita até o esplendor
arrancar o braço, e os dedos
rodarem à procura. Vi
a luz esquartejada na parte exposta do corpo.
É quando estão na voragem da infância:
a pêra levanta fogo,
a mão levanta fogo, troca-se o fogo
entre mão e pêra.
Já me não importa.
Não me exalta a montagem do estio pêra sobre pêra.
Nem espero que fique madura: não me ergo,
não toco, não sopro, não empurro a luz.
Tanto se me dá que estremeça na bolsa de ar,
que a maturidade estremeça.
Não cômo.
Não tenho medo.
Há-de formar-se no seu elemento profundo,
atingir uma proximidade última,
ser plena,
ficar pôdre. Mas tanto se me dá,
já me não amedronta.
Porque estou perto.
Porque a não comerei nunca.
Porque morro.
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