Cassiano Ricardo

Cassiano Ricardo

Cassiano Ricardo Leite foi um jornalista, poeta e ensaísta brasileiro. Representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta, foi o fundador do ...

1895-07-26 São José dos Campos, São Paulo, Brasil
1974-01-14 Rio de Janeiro RJ
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Prémios e Movimentos

Jabuti 1965Jabuti 1961

Alguns Poemas

Café-Expresso

1

Café-expresso — está escrito na porta.
Entro com muita pressa. Meio tonto,
por haver acordado tão cedo...
E pronto! parece um brinquedo...
cai o café na xícara pra gente
maquinalmente.

E eu sinto o gosto, o aroma, o sangue quente de São Paulo
nesta pequena noite líquida e cheirosa
que é a minha xícara de café.
A minha xícara de café
é o resumo de todas as coisas que vi na fazenda e me vêm à memória
[apagada...

Na minha memória anda um carro de bois a bater as porteiras da
[estrada...
Na minha memória pousou um pinhé a gritar: crapinhé!
E passam uns homens
que levam às costas
jacás multicores
com grãos de café.

E piscam lá dentro, no fundo do meu coração,
uns olhos negros de cabocla a olhar pra mim
com seu vestido de alecrim e pés no chão.

E uma casinha cor de luar na tarde roxo-rosa...
Um cuitelinho verde sussurrando enfiando o bico na catléia cor de
[sol que floriu no portão...
E o fazendeiro, calculando a safra do espigão...

Mas acima de tudo
aqueles olhos de veludo da cabocla maliciosa a olhar pra mim
como dois grandes pingos de café
que me caíram dentro da alma
e me deixaram pensativo assim...

2

Mas eu não tenho tempo pra pensar nessas coisas!
Estou com pressa. Muita pressa.
A manhã já desceu do trigésimo andar
daquele arranha-céu colorido onde mora.
Ouço a vida gritando lá fora!
Duzentos réis, e saio. A rua é um vozerio.
Sobe-e-desce de gente que vai pras fábricas.

Pralapracá de automóveis. Buzinas. Letreiros.
Compro um jornal. O Estado! O Diário Nacional!
Levanto a gola do sobretudo, por causa do frio.
E lá me vou pro trabalho, pensando...

Ó meu São Paulo!
Ó minha uiara de cabelo vermelho!
Ó cidade dos homens que acordam mais cedo no mundo!

Imagem - 00700005


In: RICARDO, Cassiano. Martim Cererê: o Brasil dos meninos, dos poetas e dos heróis. Ed. crít. Marlene Gomes Mendes, Deila Conceição Perez e Jayro José Xavier. Pref. Telê Ancona Lopez. Rio de Janeiro: Antares; Brasília: INL: Fundação Pró-Memória, 198

Meus Oito Anos

No tempo de pequenino
eu tinha medo da cuca
velhinha de óculos pretos
que morava atrás da porta...
Um gato a dizer currumiau
de noite na casa escura...
De manhã, por travessura,
pica-pau, pica-pau.

Quando eu era pequenino
fazia bolotas de barro
que punha ao sol pra secar.
Cada bolota daquela,
dura, redonda, amarela,
jogada com o meu certeiro
bodoque de guatambu
matava canário, rolinha,
matava inambu.

Quando eu era pequenino
vivia armando arapuca
pra caçar "vira" e urutau.
Mas de noite vinha a cuca
com o seu gato currumiau...
Como este menino é mau!

Rolinha caiu no laço...
Ia contar, não conto não.
Como batia o coração
daquele verde sanhaço
na palma da minha mão!

Ah! se eu pudesse, algum dia,
caçar a vida num poema,
em seu minuto de dor
ou de alegria suprema,
que bom que pra mim seria
ter a vida em minha mão
pererecando de susto
como um sanhaço qualquer
na grade de um alçapão!

Mas... de noite vinha a cuca
(e por sinal que a noite parecia uma arapuca
com grandes pássaros de estrelas)
vinha com o gato currumiau:
menino mau, menino mau,
meninomaumeninomau.

Na minha imaginação
ficou pra sempre o pica-pau.

Pica-pau batendo o bico
numa casca de pau.
Pica-pau, pau-pau.

Currumiau miando de noite...
Currumiau, miau-miau.


In: RICARDO, Cassiano. Martim Cererê: o Brasil dos meninos, dos poetas e dos heróis. Ed. crít. Marlene Gomes Mendes, Deila Conceição Perez e Jayro José Xavier. Pref. Telê Ancona Lopez. Rio de Janeiro: Antares; Brasília: INL: Fundação Pró-Memória, 198
Cassiano Ricardo ( São José dos Campos SP, 1895 - Rio de Janeiro RJ, 1974) publicou, em 1915, o volume Dentro da Noite, primeira reunião de sua produção poética, então de estética parnasiana. Em 1917 formou-se em Direito, no Rio de Janeiro RJ, fundou a revista Panóplia e publicou o livro de poesia Evangelho de Pã. Aderiu ao Modernismo, com o livro Vamos Caçar Papagaios (1926), principalmente ao núcleo formado por Menotti del Picchia, Cândido Motta Filho e Plínio Salgado, de linha nacionalista. Em 1932 foi secretário do governador paulista Pedro de Toledo, sendo preso durante a Revolução Constitucionalista. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1937. Dois anos depois, tornou-se diretor da revista Brasil Novo, do Departamento Nacional de Propaganda (DIP). Entre 1948 e 1952 foi criador, diretor e presidente do Clube de Poesia de São Paulo, além de idealizador do Iº Congresso Paulista de Poesia. Em 1951 dirigiu a editora A Noite. Entre 1953 e 1972 publicou estudos sobre vários poetas, entre os quais Cecília Meireles, Gonçalves Dias e Guilherme de Almeida, e também sobre poesia na técnica do romance e poesia práxis. Em 1960 recebeu o prêmio Jabuti, pelo livro A Difícil Manhã (1960) e, em 1965, ganhou o Prêmio Juca Pato - Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores. No período de 1967 a 1974 foi membro do Conselho Federal de Cultura. A poesia de Cassiano Ricardo está vinculada à primeira geração modernista; no entanto, segundo a crítica Nelly Novaes Coelho, “desde os idos de 1915 (quando Cassiano inicia sua tarefa de poeta) até hoje, sua poesia vem sendo o índice mais eloquente das várias mutações por que tem passado a poesia brasileira nestes últimos cinquenta anos.”.
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CASSIANO RICARDO Nasceu a 26 Julho 1895 (São José dos Campos, São Paulo, Brasil) Morreu em 14 Janeiro 1974 (Rio de Janeiro RJ) Cassiano Ricardo Leite foi um jornalista, poeta e ensaísta brasileiro. Representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta, foi o fundador do ... 33 2 A RUA Bem sei que, muitas vezes, o único remédio é adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem, a dívida, o divertimento, o pedido de emprego, ou a própria alegria. A esperança é também uma forma de contínuo adiamento. Sei que é preciso prestigiar a esperança, numa sala de espera. Mas sei também que espera significa luta e não, [apenas, esperança sentada. Não abdicação diante da vida. A esperança nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da [espera. Nunca é a figura de mulher do quadro antigo. Sentada, dando milho aos pombos. Publicado no livro Um dia depois do outro, 1944/1946 (1947). In: RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Pref. Tristão de Athayde. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1957. p.26 × Comentários Nome... Deixe um comentário... EnviarCancelar Samara Vitória Rodriguês Bueno A RUA é um texto lindo ?? Quem ler vai amar ?? É um pouco emocionante ?????? Adorei esse texto ?????? Parabéns pros editores deste texto Também ???? ???? Samara Vitória Rodriguês Bueno A RUA é um texto lindo ?? Quem ler vai amar ?? É um pouco emocionante ?????? Adorei esse texto ?????? Parabéns pros editores deste texto Também
16/abril/2021
Samara Vitória Rodriguês Bueno
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Samara Vitória Rodriguês Bueno
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