Henriqueta Lisboa

Henriqueta Lisboa

Henriqueta Lisboa foi uma poetisa brasileira.

1901-01-01 Lambari, Minas Gerais, Brasil
1985-10-09 Belo Horizonte
60030
2
50


Alguns Poemas

Lenda das Pedras Verdes

– Fernão Dias, Fernão Dias,
deixa a Uiara dormir!

Tem um sabor secular
ressoando dentro da noite,
a voz monótona do índio.

A Serra Resplandecente
fulge ao luar junto à lagoa.
Pela escada de Jacó
sobem e descem estrelas.

– Ai, Serra Resplandecente,
Lagoa Vupabuçu!
Tantos anos de procura
como é que os hei de perder!

– Fernão Dias, Fernão Dias,
deixa a Uiara dormir!
A vida da tribo está
no grande sono da Uiara.
O grande sono da Uiara
reside nos seus cabelos.
Seus cabelos eram de água,
tornaram-se em pedras verdes.

Voz de raça moribunda
Fernão Dias não escuta.

– Sete anos há que deixei
minha terra e meu sossego
em troca de uma esperança
que é meu respiro e bordão.
Da Serra da Mantiqueira
até o Rio Uaimi,
quantos montes, quantos vales
para descer e subir,
que de sombras e emboscadas
antes do raiar do dia!

Vem de mais longe, profunda,
a voz do índio recordando:

– Nas noites de lua cheia
quando a Uiara cantava
branca e linda, emoldurada
pelas ondas dos cabelos,
mais de um valente guerreiro
por ela se suicidava.
Foi então que Macachera
com prudência soube agir,
mandando Uiara dormisse
velada por sentinelas
um sono igual ao da pedra.

– Vós que velais o seu sono,
desembaraçai as armas!
Ah! esse canto escondido,
essa beleza roubada,
esses cabelos que brilham
com viva luz de esmeraldas!
Ser guerreiro, ser valente,
depois dormir para sempre
nos verdes braços da Uiara!

– Fernão Dias, Fernão Dias!
deixa a Uiara dormir!


Publicado no livro Madrinha Lua (1952)
LISBOA, Henriqueta. Obras completas: poesia geral: 1929-1983. São Paulo: Duas Cidades, 1985. p. 214-216
Henriqueta Lisboa (Lambari MG 1901 - Belo Horizonte MG 1985) publicou Fogo Fátuo, seu primeiro livro de poesia, em 1925. Havia se formado há pouco tempo no Curso Normal, em Campanha MG. Em 1929, saiu Enternecimento, pelo qual Henriqueta ganhou o Prêmio Olavo Bilac de Poesia. Nos anos seguintes, publicou Velário (1936), Prisioneira da Noite (1941), O Menino Poeta (1943), A Face Lívida (1945). Em 1945 , tornou-se Professora de Literatura Hispano-Americana na Universidade Católica de Minas Gerais. Nas décadas posteriores produziu livros de ensaios sobre literatura brasileira e estrangeira, traduções e obras poéticas, entre as quais Flor da Morte, que recebeu em 1952 o Prêmio Othon Bezerra de Mello. Em 1963 tornou-se a primeira mulher eleita membro da Academia Mineira de Letras. Entre 1961 e 1968 foi organizadora da Antologia Poética Para a Infância e a Juventude e da Literatura Oral Para a Infância e Juventude. Em 1984 recebeu, pelo livro Pousada do Ser (1982) o Prêmio de Poesia Pen Club do Brasil. Também recebeu, em 1984, o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Henriqueta Lisboa filia-se à segunda geração do modernismo, embora seus primeiros poemas apresentem inflexões simbolistas. Além da vasta obra poética para adultos, ela produziu alguns dos melhores poemas infantis brasileiros.
Henriqueta Lisboa foi uma poeta e tradutora brasileira, nascida em Lambari, Minas Gerais, a 15 de julho de 1901. Contemporânea exata de poetas como Murilo Mendes, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade, publicou seu primeiro livro em 1925, chamado Fogo fátuo. A este seguiram-se coletâneas que foram saudadas não apenas pelos melhores críticos do momento, como Sérgio Buarque de Hollanda e Otto Maria Carpeaux, mas também por seus pares, como Mario de Andrade, Manuel Bandeira e Drummond. Correspondeu-se com vários deles, cartas que vêm sendo publicadas nos últimos anos em belos volumes. Alguns de seus livros incluem A face lívida (1945), Flor da morte (1949) e Montanha viva (1959), e ainda os excelentes e necessários, a meus olhos, Além da imagem (1963), O alvo humano (1973) e Reverberações (1976). Recebeu o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra.
 
 Dentre os poetas brasileiros injustamente negligenciados nas últimas décadas, Henriqueta Lisboa figura alto em minha lista pessoal. É urgente sua recuperação. Em um artigo dedicado ao trabalho das mulheres na Literatura Brasileira, escrevi sobre a mineira, ao compará-la com sua colega mais famosa, Cecília Meireles:
 
As páginas de poesia na Rede geralmente concentram-se na obra inicial de H. Lisboa, mais mística e abstrata, dos poemas de A face lívida (1945) e Flor da morte (1949), que foram, no entanto, bem recebidos por críticos inteligentes como Sérgio Buarque de Holanda. Mas a obra final de Henriqueta Lisboa nos entregou uma poeta não apenas consciente de sua condição como mulher, como uma escritoa bastante material.
 
Publicado pela Editora Global há alguns anos, o volume Os Melhores Poemas de Henriqueta Lisboa, com organização de Fabio Lucas, traz alguns dos excelentes poemas de Além da imagem e exemplos do que há de melhor em poesia minimalista no Brasil, com textos do volume Reverberações (1976), com o qual muitos de nós hoje poderíamos aprender a escrever poesia realmente concisa, sem ser desarticulada. Os poemas destes livros prefiguram o lirismo coisista de poetas como Hilda Hilst e Orides Fontela.
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
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giulliana pivato campos
ola!eu sou apaixonada pela Henriqueta Lisboa e vou recontar uma poesia dela se chama:Pirilampos.devem conheser e adorei mais foi o final.tenho que fazer a biografia dela e a poesia que amo!

bjoos

giulliana

08/novembro/2011

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