Henriqueta Lisboa
Henriqueta Lisboa foi uma poetisa brasileira.
1901-01-01 Lambari, Minas Gerais, Brasil
1985-10-09 Belo Horizonte
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A Face Lívida [De súbito cessou a vida
.De súbito cessou a vida.
Foram simples palavras breves.
Tudo continuou como estava.
O mesmo teto, o mesmo vento,
o mesmo espaço, os mesmos gestos,
Porém como que eternizados.
Unção, calor, surpresa, risos
tudo eram chapas fotográficas
há muito tempo reveladas.
Todas as cousas tinham sido
e se mantinham sem reserva
numa sucessão automática.
Passos caminhavam no assoalho,
talheres batiam nos dentes,
janelas se abriam, fechavam.
Vinham noites e vinham luas,
madrugadas com sino e chuva.
Sapatos iam na enxurrada.
Meninas chegavam gritando.
Nasciam flores de esmeralda
no asfalto! mas sem esperança.
Jornais prometiam com zelo
em grandes tópicos vermelhos
o fim de uma guerra. Guerra?...
Os que não sabiam falavam.
Quem não sentia tinha o pranto.
(O pranto era ainda o recurso
de velhas cousas coniventes.)
Nem o menor sinal de vida.
Tão-só no fundo espelho a face
lívida, a face lívida.
Publicado no livro A Face Lívida: poesia, 1941/1945 (1945).
In: LISBOA, Henriqueta. Obras completas I: poesia geral, 1929/1983. Pref. Fábio Lucas. São Paulo: Duas Cidades, 198
Foram simples palavras breves.
Tudo continuou como estava.
O mesmo teto, o mesmo vento,
o mesmo espaço, os mesmos gestos,
Porém como que eternizados.
Unção, calor, surpresa, risos
tudo eram chapas fotográficas
há muito tempo reveladas.
Todas as cousas tinham sido
e se mantinham sem reserva
numa sucessão automática.
Passos caminhavam no assoalho,
talheres batiam nos dentes,
janelas se abriam, fechavam.
Vinham noites e vinham luas,
madrugadas com sino e chuva.
Sapatos iam na enxurrada.
Meninas chegavam gritando.
Nasciam flores de esmeralda
no asfalto! mas sem esperança.
Jornais prometiam com zelo
em grandes tópicos vermelhos
o fim de uma guerra. Guerra?...
Os que não sabiam falavam.
Quem não sentia tinha o pranto.
(O pranto era ainda o recurso
de velhas cousas coniventes.)
Nem o menor sinal de vida.
Tão-só no fundo espelho a face
lívida, a face lívida.
Publicado no livro A Face Lívida: poesia, 1941/1945 (1945).
In: LISBOA, Henriqueta. Obras completas I: poesia geral, 1929/1983. Pref. Fábio Lucas. São Paulo: Duas Cidades, 198
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