José Blanc de Portugal

escritor português

1914-03-08 Lisboa
2000-05-13 Lisboa
8039
0
0


Alguns Poemas

Ode a Lisboa

Ó cidade, ó miséria
Ó tudo que entediava
Meus dias perdidos no teu ventre
Ó tristeza, ó mesquinhez cativa
Ó perdidos passos meus cansados
Ó noites sem noite nem dia
Ó dias iguais às noites
Sem esperança de outros melhor haver
Ou, pior, esperando alguém que não havia
Ó cidade, ó meus amigos idos
(tive-os eu ao menos como tal um dia dia?)
Ó cansaço de tudo igual a chuva e o céu azul imenso
Igual em toda a volta, meses de calor,
Ou água suspensa, nuvens indistintas
Ou cordas de chuva a não poupar-me!
Igual, igual, igual por toda a banda
Ó miséria de sempre!
Tua miséria, ó cidade
Minha miséria igual em tudo
Igual às tuas ruas cheias
Igual às tuas ruas desertas
Igual às tuas ruas de dia
Igual às tuas ruas de noite
Igual à dos teus grandes
E das tuas prostitutas
Igual às dos teus homens corrompidos
E,
piormente igual à dos teus sábios!

Ó cidade igual inigualada
Por que te chamo perdidamente igual?

Tua miséria não é miséria,
Tua tristeza não é tristeza
Tudo que me perdeste para ti não é perdido:
Meus passos firmaram-te as pedras;
Tuas noites foram o meu sol;
Teus dias me foram descanso...
Iguais, dias, noites, minha desesperança
Era o próprio esperar doutras certezas:
A certeza de só poder tornar-se
O alguém que é forçoso haver!

Os meus amigos idos
Por tal seriam por certo perdidos
Sei — como não? que existiram:
Lá estão.

Ó cidade! o cansaço seguiu-me
— não era teu.
Igual o tempo está comigo
— não era teu...
Igual, igual, igual por toda a banda. . .
A miséria, o desalento aqui os tenho
— Também não eram teus.

Mas a gente era tua e eu também.
Lá ficou; e eu,
Ó cidade, ó miséria,
Ó tudo que me entediava,
Meus dias perdidos no teu ventre!...
Sei que nada me pertence
É tudo teu!
E eu me glorifico por eu e os meus
Sermos só de ti que és de Deus!

O Carpinteiro de Cenários

Sou um carpinteiro de cenários
Dum ballet russo ou doutro qualquer.
Guardo as ferramentas do ofício
Pregos, dobradiças, apetrechos vários;
Um ar canhestro de quem é sempre mandado
E a certeza do acaso quando quer
Que alguém nos tome pela mão numa aventura
Inesperada só do outro lado dessa pobre alma
("Pobre alma" vem do russo).
Ela ganha a certeza de que nada é por acaso
Perdendo a certeza de que nada dura
E alguma coisa fica do que era nada
Desespero da impossível calma
Esperança de que fique vício ou piedade
Em pedacinhos fragmentários
Pregos, dobradiças e a tinta escura ou viva
Que o sol ausente do teatro não comeu.
Cravo os pregos do amor por todo aquele armazém dos desperdícios
Que nenhuma vassoura limpará do pó das glórias mortas.
Fixo as dobradiças que me unirão pra sempre a tais memórias
Experimentando com cuidado e sem saber a serventia dessas portas
Que porão em cena novas glórias das ocasiões fatais
Pra eu sofrer do alto da urdidura.
Anos de acaso fizeram-me um perito
A que recorrem os que não têm coragem
De mostrarem que não se admiram a si próprios
Senão quando todos aplaudem
E se revoltam com a confiança dos maítres de ballet
que falam duro.
Mas, nos dias mornos, lhes é tudo indiferente.

A estrela untando as sapatilhas na resina
Olhou-me com os olhos a piscar, vermelhos.
Cairia se a não agarrasse e no escuro lhe dissesse
Porque atrasara o sexto fouetté do seu allegro.

Em cena todos os desculparam porque era estrela
Porque trinta e oito anos são uma idade perigosa
E amanhã não sucederia o mesmo
E há muitos anos não tinha amores a comentar e estava triste.
Mas eu sabia que onde ela passara o tablado tem sulcos que o tempo
Usou como fez para abrir as duas rugas
Que a pobre alma tem, como parênteses, em volta da pequena boca
Que floriu tantas Giselles e Odettes.
Não me casei porque vivo demais neste teatro
Que então já seria a minha casa que afinal não tenho.
Todos me tomam como uma parte desta casa.
E talvez sem o saberem me invejem
Tantos que nunca tiveram uma casa
Ou a que têm é apenas quanto dura

A Companhia ou a ligação de acaso.
As vezes é um grande sol de amor que a ilumina
Sol de teatro como os velhos arcos voltaicos
Choques e carvões sempre sujos que eu dantes ajudava a limpar.
Eu encontrei a casa que é minha por não ser.
Sabe-lo foi tudo o que encontrei.

Aquela rapariga que iria longe
E ao primeiro grand pas de deux classique
Partiu um braço porque julgara já poder esquivar-se
Aos desejos naturais do premier danseur
Foi pena ter esquecido depressa demais o tempo em que podia
Tomar comigo um café e achar-me um pouco filósofo.
É tarde. Tudo isto é escuro e amanhã
— Cedinho, é preciso que cá estejas... —
Bem sei. já não preciso dormir muito.
Guardo na caixa os pregos e as dobradiças.
Ao menos hoje a grande estrela
Aprendeu um segredo do palco.

Possa ela não se vingar aconselhando aquela diagonal
À pequena em que o diretor põe agora todas as esperanças
Só lhe direi o que ela quiser.
É tarde. É melhor ficar cá no teatro.
A única luz dá sobre a caixa da resina.
Basta-me apagá-la para adormecer.

Poeta e crítico musical português, natural de Lisboa. Licenciou-se em Ciências Geológicas e frequentou algumas cadeiras da Faculdade de Letras, nomeadamente a de História da Música. Ingressou no Serviço Meteorológico Nacional, trabalhando, entre 1955 e 1960, nos Serviços Meteorológicos em Angola e Moçambique. Em 1973, foi adjunto do conselheiro cultural da embaixada de Portugal em Brasília. Como crítico musical, colaborou nas publicações Acção, Diário da Manhã, Flama, Ocidente e Diário de Notícias, entre outras. Trabalhou ainda na Emissora Nacional, onde também fez crítica literária. Como poeta, foi um dos fundadores e directores dos Cadernos de Poesia, no início dos anos 50. Estreou-se com o volume Parva Naturalia (1960, Prémio Fernando Pessoa), a que se seguiram, O Espaço Prometido (1960), Anticrítico (1960, obra de reflexão ensaística), Odes Pedestres (1965, Prémio da Imprensa), Descompasso (1987) e Enéadas (1989). Neste ano, foi-lhe atribuído o Prémio da Crítica, consagrando a sua vida literária. A sua poesia, de grande contenção formal, caracteriza-se por uma temática densa, ligada por vezes à reflexão religiosa, a que se alia ocasionalmente um forte tom satírico. Nas áreas do ensaio e da crítica, é autor da já referida obra Anticrítico (1960) e ainda de Quatro Novíssimas da Música Actual (1962). Publicou, também, o estudo científico Introdução ao Estudo das Correntes de Jacto (1955)
José Blanc de Portugal
JOSÉ MARIA ALVES - JOSÉ BLANC DE PORTUGAL - SONETO MARTELADO
EM VOZ ALTA OS NOSSOS POETAS | Lírica de José Blanc de Portugal por Nuno Gonçalo Rodrigues
Blanc Mapa do Coração Ana Moura Nuno Miguel Guedes José Blanc
d'jal annonce de décès chez les Portugais
The Forgotten Legend Who Sacrificed His Legacy To Save His Childhood Club
Legionarios cantando El Novio de la Muerte - Semana Santa de Málaga 2016
José Mota presenta 'Planeta colleja' Karra Elejalde
Roy Keane and Beckham confronts Zlatan Ibrahimović (mostly Beckham)
Funny Red Card Moments
The Greatest Football Players Who Have Died.
José Blanc no Colóquio "Orpheu, e agora?" na Casa Fernando Pessoa, 16/12/2015
Spanish Monarchs Family Tree | Pelayo to Felipe VI
Thomas LOKOFE - ACOUSTIQUE DU ROYAUME VOL.1
Zé Amaro Malhão do Beijo
Ana Moura no Forte da Trafaria - para além da saudade (letra)
Andrea Bocelli - Angels We Have Heard On High
Andrea Bocelli - The Lord's Prayer - Live From The Kodak Theatre, USA / 2009
Mamma Maria (Mamma Maria)
360° video: S.L. Benfica's mascot gives eagle's-eye view of the Lisbon stadium
Maman a fait zim - Comptine antillaise pour bébés (avec paroles)
The Day Young Ronaldo Phenomenon Played His Best Football (1996)
Colores y números. Song to learn Numbers and colors in Spanish for kids and children
Céline Dion - Encore un soir (Audio)
Depardieu le casseur de chiotte
The Pink Panther in "Pinto Pink"
New heart-stopping footage of massive great white shark attack
AC/DC - For Those About to Rock (We Salute You) (Live At River Plate, December 2009)
El Borrego
Zé Neto e Cristiano - TEXTÃO - DVD Por mais beijos ao vivo
Isabelle & Felicien - Soha Mil Pasos (Kizomba remix)
How the Wine Glass Got its Shape
Me Gustas Tu
Morango do Nordeste - Karametade
Cristiano Ronaldo meet Thierry Henry!!😂😆
LAGOS, PORTUGAL | 6 BEST Things To Do In Lagos
Massive Attack - Teardrop (Official Video)
Chris De Burgh - Lady In Red (Official Video)
How To Make Slow Roasted Pork Belly | Gordon Ramsay
The Super Rainbow Friends vs Jumbo Josh
The Plug, Lacrim, Morad, SRNO - DE AQUI PA YA (Official Video)
Gloria Estefan - Mi Tierra (Official Video)
Cet homme se changeait quand il va se faire prank
This is Why You Never Mess With a Royal Guard...
J'aime la galette
Untouched for 5 Decades! ~ Abandoned Palace of a Miserable Couple!
Tierry - Cabeça Branca (Letra/Lyrics) | Super Letra
Paulo Dybala’s English is pretty solid! 👏
Gran Orquesta Internacional ft. Tommy Portugal - Mala (Álbum Seguimos Imparables 2021)
Lio, Tony Carreira, José Rodrigues dos Santos et D’Jal - C à vous - 10/06/2022

Quem Gosta

Seguidores