Encontro-te e não te vejo.
A bruma aperta a tua voz na garganta da serrania
numa corrente de paz descendo ligeira na nascente
cristalina e fria.
Sou ave na liberdade solta da prisão que me deste,
os voos são fugas que se despegam do chão
numa ascensão e numa ânsia de encontrar a tua porta.
Não feches, amado, a única morada
onde me encontro a sós contigo.
Prepara a minha túnica de linho
dá-me o mel da montanha
e das bodas o teu vinho.
O perfume da tua casa
é o incenso das manhãs
que atravessa as minhas mãos.
Quero abri-las e libertar-me deste visgo
que aperta a minha pele contra o suor do meu peito.
O sol vai-se abrindo
a bruma ainda dorme.
A luz é o lençol onde espero ouvir
chamar pelo meu nome.
manuela barroso, in "Luminescências", Cap. Da Essência