Escrevo para não esquecer-me das coisas!
Não é medo,
Escrever é um porto
No meio do
seio
De um oceano azul gigante
colossal.
Escrevo para lembrar
Que não há fim,
Que não se procura
A perder-se em agonia:
Onde só há imensidão
Entrega-se.
Dá.
Dispõe-se à vida:
Das cóleras às vésperas,
Ao que se sonha
Às ásperas esperas,
Às horas esfomeadas de gente
De mala e coragem.
Por isso escrevo
Porque sei que assim
A vida não se encarcera
Não se circunscreve
Não se desaquece e passa frio
Pela ausência da flor-es(s)cência das palavras.
O que elas transportam
Em suas asas
No mar despedem.
Velejam e ancoram
Ancoram e velejam
Na sombra e na luz
do mar (a) mar incomensurável
da coragem, da essência do que se conhece profundo,
do que se é.
É o encontro da alma com a vida!
Esqueço para me lembrar
Que tenho de escrever
E não é medo!
É que eu balbucio
As ideias mais trêmulas
Que me arrancam da cama
Entregam-me à trama estonteante
da caçada pela imensidão da mulher-lida.
Escrevo quando vejo o sol,
Ele é um espelho cortinado
de sombra penetrante, raios
tocando a pele dos olhos
e a pele da pele
de tudo o que vive, tudo
existe.
O sol é um espelho,
Seus raios são mulheres sonoras
Apelidando pássaros-pessoas.
O sol é um espelho. `
Mágico-real.
Admirável realeza sem condecorações
Sem excessos, sem ausências.
Minhas palavras podem dizê-lo agora.
Escrevo para guardar comigo
As labaredas solares,
Mulheres-aves de toda a química do ar.
Escrevo para lembrar-me de coisas
- Que não sei o nome –
Escrevo para guardar-me com elas
Para correr distâncias delas
E depois...
...Perto dum sangrador de águas
Debaixo de uma aroeira e um vendaval
Encontrar-nos
Veementes.