É tão coice e vento
esta espinha vegetal
de verde quase catavento.
Na copa do coqueiro
(sob o azul, apenas finge que fere),
a mão de espinhos espetando o firmamento.
É pura motriz: nervosa asa
fazendo-se abano e muitos
tapas
“ – Asa, cavas o vento ou cavalgas?”
Moenda de giros alíseos
(não mói nem trava)
roda tão maremoto, chicote sem dor
só esmerilha o vento, sem mágoa.
Folh-asas: espetadas em vão
e do chão
por uma perna fixa, quase tão curva
de tão perene e parada.
Tão inocente e dócil
assim é o coqueiro
seus cachos de pedra verde
entre folhas de bravura e afago
– quando a ventania compõe este azedume
de palhas ainda tenras, finas
costelas assustadas.
Oh palhas tenras
sem sonhar cobertura alguma ou feno raro
mas já garimpam o ar, o nada
em seu esperneio de aflição represada
são folhas ao vento:
asas sem pássaro.
E assim,
querer-se fuga e voo
onde só há prisão,
o coqueiro e suas folhas
(verdura e convulsão)
num bamboleio sibite, som somente
sonhando um dia, serão só vento
sem fruto, sem folha, sem asa, sem nada.
Do livro "Litorâneos", 2016.