stellarprince

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Professor aposentado, poeta, escritor e consultor pedagógico.

1950-02-24 Campo Belo, MG, Brasil
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Alguns Poemas

Morro da onça.

Era esta a visão que eu tinha do Morro da Onça da janela da sala ou do alpendre da Fazenda de vovó onde passei toda minha infância e parte de minha adolescência.
Era costume desde minha tenra idade passar a pé, a cavalo, ou de Jeep aos pés deste morro nas caminhadas com papai, com menus avós ou tios.
Depois de sete anos de idade eu já me aventurava a entear na mata ainda existente ao pé do morro ladeado a oeste e sul por cafezais e outros plantios e ao norte por baixada e a leste desenhava-se no desfiladeiro trilhos sinuosos por onde passavam o gado em busca de boa pastagem. Gostava de olhar para baixo aquela grota com seus caminhos em forma de linhas que acompanhavam a topografia formando lindas linhas ao meio da pastagem verde do capim gordura que em sua florescência proporcionava um lindo espetáculo ao roçar do vendo em suas flores roxeadas nas pontas de suas hastes. Formava se uma onda em movimento harmônica de grande beleza.
Sempre que eu podia passar por ali sozinho ensaiava a escalada entrando na mata mas nunca me arrisque a subir rumo ao topo até que num dos verões da década de sessenta Meus primos Dalmo William, Jane, Raquel e Juanita foram para a fazenda de vovó.
Nossos dias eram sempre repletos de atividades. Gostávamos de explorar os arredores, o pomar que era repleto de frutas, os morros que circundavam a fazenda a oeste, onde passava a estrada para os Maias rumo a Boa Esperança ao sul uma bela colinha com seus topos ladeados de pedras. Passávamos horas conversando, saboreando frutas frescas e observando a paisagem.

Nota.: uma das crônicas do Livro PARA QUANDO A NOITE CHEGAR... Livro que narra minha histórias e estórias desde a mais tenra infância. Praticamente desde meu primeiro ano de idade.

Uma aventura no Quartel

Era ano de 1969, havia me inscrito no Serviço Militar no 17º Regimento de Cavalaria que ficava na cidade onde estava, em Pirassununga, interior de São Paulo.
Um dos motivos que me atraiu foi a Cavalaria, sempre gostei de cavalos e por isso achei que ia me dar bem.
Realmente, desde os primeiros dias isto foi comprovado. Mas as atividades eram muito diversificadas e os cavalos ocupavam apenas uma parte de nossas tarefas.
Recebi o meu cavalo, não era aquele cavalo, mas logo me entendi com ele e por um ano fomos bons amigos. Conheci seus pontos fracos e ele, acredito, os meus também.
Os exercícios eram coisas fáceis para mim já acostumado com montaria desde criança. Apenas a equitação foi novidade. Saltar obstáculos, trincheiras, etc. Mas logo eu e meu cavalo entramos no ritmo e não houve problemas!
Passado alguns meses foi anunciado que o Quartel todo participaria de uma Manobra Militar em conjunto com a Aeronáutica na Fazenda dos Ingleses!
Sabia que seria um exercício de guerra! Apesar de tudo fiquei dividido entre a aventura de ir e a de escapar de tal façanha!
Foi ai que tive uma idéia!
Procurei o meu superior imediato, o Sargento Gregório e Wantuil e comuniquei, como era estudante na Escola Pública da cidade não poderia faltar à semana de provas!
(Na verdade não era semana de provas, apenas um pretexto para escapar e ficar na cidade)
Apresentei-me ao Sargento, bati continência e disse:
- Sargento Gregório, eu estou com um problema, não poderei faltar às provas da semana!
Com olhar severo, olhou-me e disse:
- Descansar soldado!
- À vontade!
- Vou comunicar ao Major e logo trarei a resposta para você. Mesmo assim continue com os preparativos.
- Obrigado Sargento, disse eu.
Passado algum tempo veio em minha direção o Sargento Gregório, para o qual me coloquei em continência.
- Fique a vontade soldado.
- O major Lara não lhe dispensou das manobras, porém após os exercícios uma das viaturas o trará para a cidade e no dia seguinte o levará ao campo de treinamento!
- Obrigado Sargento - e logo me desfiz da continência.
Chegou o dia da partida, às seis horas o soldado corneteiro toca o toque de alvorada e toda a tropa já com suas mochilas corre em direção ao Rancho para a primeira refeição do dia e logo em seguida partir.
A viagem foi longa, os pelotões seguidos de seus batedores seguiam em fila indiana trotando pelas colinas e serras verdejantes.
Ao atravessar a Rodovia Dutra, uma operação foi montada em conjunto com a polícia Rodoviária para a Tropa passar!
Armamentos, munições e rações eram carregados por cavalos que seguiam a tropa.
A viagem corria tranqüila até o momento que veio um:
- Alto Companhia!!!
Correu a notícia alvissareira de que um incidente havia ocorrido com um dos Pelotões.
Logo vimos um dos veículos de retaguarda passar pela tropa, era um carro de ambulância.
A notícia logo veio.
- Pessoal um dos cavalos foi atingido por uma mina (de festim)!
A exclamação ecoou pelas colinas num só “ ohhhhhh ”.
A indagação permaneceu no ar.
- Quem estaria no cavalo ?
- O soldado também se feriu!?
- Foi grave, o que realmente acontecera!?
Felizmente o incidente apenas feriu o cavalo que pisou numa das minas espalhadas no trajeto. Foi colocado no caminhão ambulância e levado ao Quartel para cuidados médicos!
- Ufa ! – todos respiraram aliviados!
A viagem continuou tranqüila, às vezes até cochilávamos em cima dos cavalos visto que estávamos marchando todos em fila indiana.
Passamos por uma fazenda com imensos laranjais e logo ao me aproximar me estranhei ao ver muitos soldados, dos que estavam à frente, invadindo o laranjal.
Alguém me encorajou a fazer o mesmo dizendo:
- Não se preocupe, todo prejuízo do laranjal é ressarcido pelo Exército.
Foi ai que tranquilamente eu desci do meu cavalo, amarrei-o numa árvore e me uni aos demais que estavam a saborear doces laranja e outras frutas.
Depois de um bom descanso recebemos ordem para entrar em forma e marchar.
Passamos por algumas ruínas de velhas senzalas e fomos comunicados que ali há poucos dias o Exército havia desmantelado alguns guerrilheiros de São Paulo. (Era plena ditadura militar da Revolução de 1964).
Logo chegamos a Fazenda dos Ingleses. Passamos em frente à sede e depara com um senhor magro de boné sentado em sua cadeira de balanço a espreitar a tropa que passava.
Apenas alguns oficiais rumaram em direção a varando onde estava aquele senhor. Parece que para cumprimentá-lo, pois a fazendo a ele pertencia.
Ficamos sabendo depois que aquele senhor de aparência esquia e tranqüila fora um oficial do Exército Britânico.
As primeiras atividades foram montar o Acampamento. As barracas eram utilizadas por dois soldados cada uma.
À tarde rápida chegou e antes mesmo de terminarmos as tarefas ouvi o meu nome ser chamado por um dos oficiais!
- Soldado 294 favor apresentar-se!
- Soldado 294, Neves apresentando! (Corri e coloquei-me à ordem.)
Mas uma dúvida surgiu logo em seguida. Em forma e batendo continência parei-me em frente ao oficial perguntando.
- Senhor! E como faço com o meu cavalo.
Numa rápida atitude o Tenente olhou para o primeiro soldado a sua frente e pediu que além do seu cuidasse também do cavalo 132, o meu!
Fiquei sem palavras, pois era um de meus amigos e sabia que ele ficaria com responsabilidade dobrada. Mas o que eu poderia fazer. Ordens são ordens!
Logo embarquei numa viatura que saiu ainda antes do sol se por e em pouco tempo estava na cidade longe daquele território de treinamento de guerra.
Não pude deixar de lembrar dos colegas que lá no campo estavam a enfrentar uma noite repleta de incidentes.
Mas este segredo eu tinha que guardar, não podia mais voltar atrás.
E assim perdurou a situação durante toda a manobra na Fazenda dos Ingleses. De dia eu participava dos exercícios e a noite ia para a cidade numa viatura do Exército especialmente destacada para isso!
Esta é uma das doces lembranças que o tempo não apagou

Osso da sorte

Domingo na roça … Nos tempos de criança os almoços na roça eram frequentes ora na sede da fazenda da vovó,ora na fazenda do tio Orozimbo, ou nalguma outra fazenda de parentes e amigos.
Uma coisa era certa eu e meus primos ” Tonho”, Jane, Ariete, Cida, Denise frequentemente estávamos juntos.
Após o almoço o osso da sorte, geralmente uns três ou quatro já desossados eram colocados no sol ou na chapa do fogão a lenha para secar e depois tirar a sorte.
Sorte? Sorte de quê? Não sei!
Mas antes mesmo de ficar a posto para a disputa, a ansiedade era era grande.
– Eu vou ganhar. ( dizia Adauto)
– Não quem vai ganhar sou eu. ( em voz chorosa dizia Tonho.)
Assim era os momentos angustiantes antes de ter os ossos secos e prontos para a disputa.
Geralmente. Jane por ser mais velha era a juíza. Mas as vezes tio Orozimbo ou mamãe fazia o papel de coordenadora.
Chegada a hora… Olhos fixos no osso… Aguardava a contagem.
Um… Dois… Três …já!
O momento chegava… Independente do resultado… O perdedor sempre reclamava. Uns choravam, outros ficavam emburrados.
Mas a tradição era perpetuada e com o tempo a tradição foi ficando apenas na lembrança, por falta da presença dos jogadores que uns partiram pra bem longe, outros separados por longos kilomentros.
Assim é o mundo encantado das crianças…
Pequenos eventos, costumam fazer a diferença.
É muito importante perpetuar tradições, costumes e passar através da escrita para gerações futuras.É muito importante perpetuar tradições, costumes e passar através da escrita para gerações futuras.

Homem do Saco

Era uma criança, desde pequena, que gostava de brincar sozinho, absorto em meus pensamentos.
Tinha pouco mais de um aninho de idade, meus pais moravam numa casa simples cercada por terrenos baldios. Lembro-me que não havia muros e nem cercas.
Ao lado de nossa modesta casa havia um terreno onde eu costumava brincar.
Certo dia estava eu brincando na areia quando de repente... Olhei para frente e deparei-me com uma imagem assustadora.
Vi a pouca distância um senhor caminhando lentamente pelo terreno, um pouco agachado, mas o que mais me chamou atenção era o enorme saco que levava nas costas!
Num desespero tremendo gritei por minha mãe:
- Mãeeeeeeeeee ! Mãeeeeeeeeêêê!
E comecei a correr em direção a porta de minha casa sem olhar para trás!
Foi ai que deparei com minha mãe assustada vindo ao meu encontro.
- Que foi menino!?
- o homem do saco!
Repeti assustado:
- O homem do saco mãe !
Olhando assustado para trás, já amparado por mamãe pude perceber o sorriso inocente, daquele homem que tanto me apavorou, olhando para minha mãe sem saber o que dizer.
Foi quando ela sorrindo me disse:
- Não filho, este não é o homem do saco, ele está apenas trabalhando!
- Ele está procurando ferro velho e material usado para vender.
Apesar de estar agora tranqüilo sobre a proteção de mamãe continuei sem entender muito bem.
Afinal ele era o "homem do saco" - eu vi!
E acho que foi um dos maiores sustos que levei em minha vida.
Mais tarde aprendi que nem tudo o que nós vemos é a realidade!
Então fui aprendendo as aparências se enganam.
E que temos que ser cautelosos e nunca tomar decisões precipitada!

Primeiro Papagaio

O primeiro papagaio ninguém esquece!
Costumava ficar em frente à casa de minha bisavó na saída da cidade aguardando meu avô chegar com a camionete para irmos para roça.enquanto isso ficava num canto observando os meninos da Cidade soltando seus apagados coloridos.
Lá na cidade em que nasci em Minas Gerais assim como no Rio de Janeiro o que em São Paulo as crianças chamam de pipa lá é papagaio.
Eu ficava esperando a saída para a roça, muitas vezes, na caixa d' água admirando e sonhando um dia brincar assim como eles
Papai de longe estava a observar-me e sem eu perceber ele foi até uma mercearia e voltou com duas folhas de papel de seda uma vermelha e outra roxa. É um carretel de linha grossa num saquinho de papel e disse vou fazer um papagaio pra você quando chegar na roça.
Não me contive de tanta alegria, felicidade, ansiedade e anseio de chegar na fazenda e ver como papai faria.
Chegando papai ajudou vovó e mamãe descarregar e levar as compras que trouxeram e depois calmamente foi até a dispensa pegou um pouco de polvilho...(eu ainda sem saber pra quê) fiquei só observando...
Papai foi até a cozinha e preparou uma cola (grude) e eu ainda sem entender fiquei atento e observando que seria feito.
Papai chamou me até a copa desembrulhou as duas folhas de seda que trouxe da cidade e estendeu-as sobre a mesa no centro da copa.
Dispôs a folha roxa estendida primeiro na posição horizontal e em seguida abriu a folha vermelha posicionando-a na posição vertical abaixo e centralizando-sem baixo da primeira. Cuidadosamente passou cola na borda superior da folha vermelha para em seguida colara folha roxa formando um triângulo com o bico para baixo.
Até aí ainda estava sem entender o que seria feito.
Tomou-se o cuidado de estender as folhas bem estendidas e com o peso em cima para o vento não soprar para o chão.
Fui chamada para acompanhá-lote o terreiro em frente à cozinha. Papai tomou umas varetas de bambu,acho que já estava lá de propósito, e começou a raspar e deixá-las lisas e alinhada. Prontas foi até a mesa e mediu a maior a extensão de baixo até em cima e cortou no cumprimento certo e depois pegou a menor e mediu a extremidade horizontal da folha roxa e cortando na medida certa.
Mediu a vareta menor no meio certo marcando com lápis e calculou um ponto da vareta maior de modo que formasse uma cruz.
Feito estás marcações tomamos o carretel e partiu um pedaço de linha, mais ou menos um metro e cuidadosamente começou a amarrar as duas varetas em forma de cruz. Eu apenas observava atentamente a trabalho de papai.
Feito isso tomou novamente o carretel de linha e cuidadosamente amarrou a ponta superior da vareta a seguir procedeu da mesma forma em cada ponta até fechar a cruz.
A armadura do papagaio estava pronta. Colocada em cima das folhas antes coladas e com uma tesoura papai foi cortando as pontas e depois foi dobrando as bordas a com a linha por dentro colando cuidadosamente toda a lateral e com as pontas cortadas e guardadas foram feitas tirinha retangulares para colar sobre as varetas fixando as na folha. Logo faltava apenas o estirante pelo qual seria presa a linha que o levaria para o ar, para ó céus!
Assim foi que ganhei o meu primeiro papagaia. Não era pesado porém de altura era mais alto do que eu. As primeiras vezes papai ajudou me a colocar no alto, mas logo aprendi a pô-lo no céu e trazê-lo à terra.
Na fazenda não havia mais crianças para brincar portanto logo tornou um tanto monótono. Percebendo isso mamãe sempre atendia meu chamados para ir ver o papagaio lá no céu. Prontamente ela corria lá na frente da fazendo onde eu estava e ficava um pouca lá vendo e ensinando me mais diversão.
Dizia vamos mandar cartas para o céu. Pegava um pedaço de papel cortava em forma de círculos com um furo no cento contando um lado para colocá-lo na linha de modo que o vento rapidamente o empurrasse até estirante e subiu como inúmeras cata-vento. Assim passava horas por dia invertido com meu papagaio com o qual tinha maior zelo. Chegou a rasgar por esbarrar num galho ou noutro objeto mas logo aprendi a consertar e a brincadeira estava sempre garantida. Ao anoitecer guardava-o cuidadosamente no porão pendurado em lugar seguro.

TRAVESSIA A CAVALO NA BALSA

Era final da década de 50, a vida no Morro Grande era demasiadamente pacata, passávamos dias sem ver a presença de uma pessoa estranha a família. Na divisa de nosso sítio havia uma estrada, mas dificilmente se via alguém passar por ela. Algumas vezes se via algum caminhante que ia a direção do Porto dos Mendes. A estrada, mais adiante, do outro lado do morro que ligava a Cidade e o Porto passava a velha Jardineira pela manhã indo para a cidade e a tardezinha ouvia se o ronco do motor cansado voltando. Um dia ou outro ouvia se o ronco do motor de algum caminhão ou a caminhonete “pick up William” de um fazendeiro lá da beira do rio que ia ou voltava da cidade. A noite sim se via, com mais freqüência, a luz ao longe, no pé da serra os carros que vinham da Rodovia Fernão Dias em direção a cidade de Boa Esperança. Do mais não se ouvia nem o barulho de avião cortando os céus. Mas a natureza era pródiga em pássaros e grande variedade de outros animais que quebravam a monotonia do lugar com seus cantos e sons específicos.
Raramente íamos ao povoado de Ribeirão ou Porto dos Mendes, a não ser quando meu pai precisava comprar alguma coisa na venda ou quando me mandava ir vender hortaliças no povoado - jiló, tomate, repolho ou outro produto de nosso sítio.
Logo de manha papai preparava duas *caçambas cheias dos produtos a serem vendidos, colocava na sela do cavalo e não esquecia da medida, uma lata de óleo vazia, para medir o produto. Acontece que eu sempre queria agradar aos fregueses e colocava sempre um pouco mais que a unidade da medida padrão (o litro). Quando chegava a casa sempre era questionado pelo resultado da venda que era sempre menos do previsto. Explicava que eu sempre colocava um pouco mais da medida para cativar as pessoas para de outras vezes comprarem de mim e não de outros. Lembro que isso justificava um pouco, mas não agradava totalmente papai.
O povoado era pequeno, muita gente possuía a sua própria horta, o que dificultava a venda, por isso às vezes ia até o povoado do Sapecado que ficava na outra margem do Rio Grande. Mas papai alertava sempre que eu deveria deixar o cavalo do lado de cá, no Porto para não ter que pagar duas passagens na Balsa.
Mas certa vez resolvi ir ao Sapecado a cavalo, era mais cômodo, tomei a Balsa e embarquei o cavalo também pagando duas passagens, papai não precisaria saber, o dia parecia estar produtivo já havia vendido boa parte e sabia que lá no Sapecado venderia o restante. Não havia o que se preocupar. Mas papai não poderia saber, pois certamente haveria uma boa bronca. Atravessei o rio com o meu cavalo e lá fui eu pelas poucas ruas que havia todo imponente levando meus produtos e oferecendo de casa em casa.
Qual não foi a minha surpresa ao passar pela praça, em frente à Capela vejo surpreso o tio Pedrinho lá aguardando a hora do horário da Balsa para o Porto dos Mendes. Não pude deixar de mostrar meu contentamento ao ver meu tio por lá, mas por outro lado subiu um arrepio de medo do que poderia acontecer se ele se encontrasse com meu pai e falasse que me encontrou no Sapecado e a cavalo! O que tivesse que acontecer aconteceria, nada mais poderia fazer e passei o resto do meu tempo ao lado do meu tio até a travessia do rio.
Ao final da tarde, já a noitinha, cheguei a casa e encontrei papai e mamãe aflitos querendo saber como foi o dia e porque chegara tão tarde. Contei que havia vendido tudo e que havia encontrado o tio Pedrinho lá no Sapecado e que havíamos atravessado a Balsa juntos, depois passei para ver a tia e por isso a demora.
Nem queria imaginar se o tio Pedrinho viesse a contar-lhe sobre o cavalo. Porém sabia que assim que meu pai estivesse com ele isso seria inevitável. A verdade é que comecei a sofrer antecipadamente. Certo dia meu pai esteve no Porto e quando voltou veio direto ralhar comigo. Ele não costuma bater em mim, nem nos meus irmãos, mas só o modo que falava ralhando era o suficiente para ficar muito triste e até chorar. Vez ou outra, em caso mais grave levava-se uma palmada ou um puxão de orelha. Não mais que isso.
Mas atravessar a balsa com o cavalo nunca mais! Voltei mais vezes em busca da freguesia lá para os lados do Sapecado, mas sempre deixando o cavalo amarrado ao bambuzal que fica ao lado da base da Balsa. E jamais esqueci do encontro inesperado com meu tio.
Depois de quase cincoenta anos, outro dia destes, falei com meu tio sobre essa passagem, ele sorriu e com sentimento de culpa disse-me: - Uai, você me desculpa então, eu não sabia que você teria problemas.
Sou um viajante do tempo, em busca de meus sonhos; na minha caminhada costumo ser alegre... rio, choro, me emociono com o olhar de uma criança, com o brilho do sol, da lua; o cantar dos pássaros. Sou um simples mortal que acredita na imortalidade da essência do Ser, do espírito . . As coisas que eu gosto? ... são as mais simples que existem. Gosto de ver o sol nascer, se por... ver a lua bailar no infinito espaço, e as estrelas enfeitando o manto negro e majestoso da noite... (e só de pensar que viemos e iremos ainda para alguma delas, chega a dar saudade ... !) Ver o rio correr tranqüilo seguindo seu curso sem reclamar, ouvir o sussurro do vento, o som dos pardais ao entardecer, o sorriso de uma criança, a sensualidade feminina, e tantas outras coisas mais que nos rodeiam!Como eu vejo as pessoas? ... Vejo as todas companheiras de viagem, indo em busca de algo; são viajantes das mais diferentes origens, oriundas de algum lugar do Universo e na maioria das vezes perdidas sem saber para onde irão e o que buscam ! Isto é triste! Sonhos ? ... sou um eterno sonhador ! " Sei, que n'algum lugar, muito além dos horizontes... nossos sonhos realmente acontecem! " Vou-me embora para PASARGADA , sonho de todo poeta, ir se embora para Pasárgada,..... Sinto-me privilegiado possuidor das chaves deste lugar, entretanto, sei que nada vale a pena se não for fruto de nosso próprio esforço... Do que adianta ser amigo do rei, ter tudo que se imagina e não ser feliz ? Prefiro seguir meu caminho, colhendo todas as pedras que encontro na estrada e utiliza-las para meu caminhar. Quem quiser ... acompanhe-me e caminhemos juntos!
Diones
Esse escrito me fez lembrar a minha amada! Gostei muito. Parabéns...
05/novembro/2018

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