Carol Ortiz
Nasci em Campinas, SP e vivi em muitos lugares pelo mundo. Escrevo poemas desde criança e sou apaixonada por música, literatura, viagens e pessoas
18 setembro Campinas, SP
47642
5
17
DA SERPENTE À MAÇÃ: QUAL O PECADO CAPITAL?
ATO 1
(Loucura e Sanidade conversam em um quarto escuro e abafado)
Sanidade: Que me responderia se eu te perguntasse aonde vais?
Loucura: É simples, pois diria que para todos os lados, todas as partes. Cerco rios e pontes, vou ao céu e ao inferno, porque sou a sanidade que não tem cura, sou o real, sou a Loucura!
Sanidade: De todo o modo, por onde vás estarei presente, pois sou o real sou o concreto, sou um tudo em um deserto, o que todos vêem, o que todos sentem, a loucura sem liberdade, sou fiel ao que tu vês, sou a Sanidade.
Loucura: Ora, pois, Sanidade?! Como dizes ser sã, se és louca como eu?
Sanidade: Louca? Como posso ser louca se tua única salvação sou eu? Se, modestamente sou a única cura? Se todas as coisas estranhas sou eu quem as transforma em realidade?Sou a única forma saudável de ver o mundo!
Loucura: Tudo o que é grande você reduz a quase nada, todos os ângulos de enxergar as
coisas você subtrai. Como, ainda, podes dizer que és a única salvação que existe? Só um louco para acreditar em tal coisa!
Sanidade: Ah, então afirmas que um louco acreditaria na verdade? Tens consciência de que ao afirmar isso, nada mais dizes do que concordar que tu dependes de mim?
Loucura: Agora tu te deste mal! A minha suposta dependência pode ser comparada com um pássaro que se alimenta de formigas. Os pássaros precisam de insetos para viver. Se elas morrem, eles também morrerão. Porém, vós, insetos, também precisais de nós, predadores. Compreendes? Tu precisas da minha existência para existir.
(Saem Loucura ou Sanidade e entra o Amor)
Amor: Onde estou? Qual minha identidade? Sou Loucura ou Sanidade? Preciso finalizar minha eterna busca do doentio dos apaixonados, de outro está a calmaria dos amantes. Estou sem explicação. Que dizer? Que fazer? Posso não me enquadrar nesse mundo, mas não sou louco, nem tenho razão. Os que amam estão doentes ou doentes são os que petrificam o coração?
ATO II
Em um bosque da Grécia Antiga, entram, conversando, de mãos dadas, Orfeu e Eurídice:
Orfeu: Oh! Como estás tão formosa, minha Eurídice! O sol, que hoje brilham ao se entrelaçar ao teu suave charme, é para mim o pedaço do Éden. Todas as canções que sei são para ti e, em nome de Zeus, só usarei minha voz para te amar. Sou um mero mortal aprisionado em teu amor.
Eurídice: Meu doce Orfeu, como é bom olhar para ti e ver teus olhos brilhando. Amo-te tanto, que nem o canto do mais belo pássaro, nem a mais formosa flor poderão expressar tal sentimento.
Orfeu: Eurídice, Eurídice, como é bom ouvir tais palavras e crer em tudo isso!
Eurídice: Nosso amor é tão real que a loucura está distante de alcançar nossos sonhos.
Orfeu: Tudo o que posso dizer-te, usando minha lira e minha humilde voz, é que te amo...
(entra a Serpente)
Orfeu: Eurídice, cuidado! Atrás de tua beleza, um monstro te persegue!...Oh, não! Eurídice!!!
(Serpente ataca Eurídice)
(Eurídice cai inanimada. Orfeu abraça-lhe o corpo)
Orfeu:Eurídice, como pode?! O que aconteceu contigo, minha amada?! Fala comigo! Dá-me, ao menos, um sorriso!...Juro pelas minhas lágrimas e pela minha voz que hei de ter-te novamente em meus braços. Juro por meu pai Eagro, o deus-rio, e por minha mãe, a musa Calíope, que te terei de volta! Juro que quando o sol surgiu novamente no horizonte de minha alma, estarei contigo ao meu lado e serei capaz de cantar e ver todo o brilho dos nossos planos e sonhos surgirem novamente em nossas vidas. Poderei dar-te todo o meu amor e assim poderemos juntos enxergar todas as coisas do mundo da forma como fazíamos...Eurídice!
(Aproxima-se a Serpente)
Serpente: O veneno do ser humano mostra-se na hora de dor, de desespero. O homem pode até ser bom em dias de sol, em dias de glória, mas quando surge a angústia, aí sim é que ele mostra sua face sombria e seus gestos se tornam hostis, na busca desesperada e muitas vezes inútil de obter algo valioso de volta. Seus dias se transformam em horas vazias e sem sentido, sua vida fica oca e ele é reduzido a nada. A realidade o invade de tal forma que a loucura começa a persegui-lo. Todo o seu desejo de vingança torna-se o único motivo para agir. Ah, Orfeu, tu não serás diferente do resto dos mortais! Vais sofrer, desesperar-te, maltratar-te e, enfim, a realiade terá tamanho peso que a loucura o alcançará. Serás como o pior verme que já habitou o mundo.
ATO III
(Novamente no quarto escuro conversam Loucura e Sanidade)
Loucura: Orfeu ficou louco! Orfeu ficou louco!
Sanidade: Presta atenção ao desfecho da história! Orfeu não enlouqueceu porque se entregou à realidade!
Loucura: Estúpida, ele enlouqueceu porque fugiu de ti!
(Entra o Amor)
Amor: Acalmem-se, meninas! Orfeu adoeceu de amor, vocês foram mera consequência.
Loucura e Sanidade: Verdade?!
Amor: Observem que a cada caso de loucura, a causa principal foi um forte sentimento por alguém ou algo. Isso se chama amor mal resolvido, logo, vocês são apenas um acessório do amor.
(Humilhadas, saem Loucura e Sanidade. Entra a Serpente)
Serpente: Sabes, Amor, descobri teu segredo.
Amor: Ora, já era tempo, afinal, alguém teria que saber que sou o melhor e mais profundo sentimento!
Serpente: Engana-te, medíocre! Tu não passas de um amador. Finalmente descobri que da maçã à serpente, do Éden ao Inferno, tu és o pecado capital.
Amor: Vais morder-me e espalhar o teu veneno, monstro bestial?
Serpente: Jamais sujaria meus lábios em ti, pois meu pior e mais letal veneno seria mais limpo que teu caráter.
(Serpente esfaqueia Amor, matando-o. Fecham as cortinas)
ANO: 1999
(Loucura e Sanidade conversam em um quarto escuro e abafado)
Sanidade: Que me responderia se eu te perguntasse aonde vais?
Loucura: É simples, pois diria que para todos os lados, todas as partes. Cerco rios e pontes, vou ao céu e ao inferno, porque sou a sanidade que não tem cura, sou o real, sou a Loucura!
Sanidade: De todo o modo, por onde vás estarei presente, pois sou o real sou o concreto, sou um tudo em um deserto, o que todos vêem, o que todos sentem, a loucura sem liberdade, sou fiel ao que tu vês, sou a Sanidade.
Loucura: Ora, pois, Sanidade?! Como dizes ser sã, se és louca como eu?
Sanidade: Louca? Como posso ser louca se tua única salvação sou eu? Se, modestamente sou a única cura? Se todas as coisas estranhas sou eu quem as transforma em realidade?Sou a única forma saudável de ver o mundo!
Loucura: Tudo o que é grande você reduz a quase nada, todos os ângulos de enxergar as
coisas você subtrai. Como, ainda, podes dizer que és a única salvação que existe? Só um louco para acreditar em tal coisa!
Sanidade: Ah, então afirmas que um louco acreditaria na verdade? Tens consciência de que ao afirmar isso, nada mais dizes do que concordar que tu dependes de mim?
Loucura: Agora tu te deste mal! A minha suposta dependência pode ser comparada com um pássaro que se alimenta de formigas. Os pássaros precisam de insetos para viver. Se elas morrem, eles também morrerão. Porém, vós, insetos, também precisais de nós, predadores. Compreendes? Tu precisas da minha existência para existir.
(Saem Loucura ou Sanidade e entra o Amor)
Amor: Onde estou? Qual minha identidade? Sou Loucura ou Sanidade? Preciso finalizar minha eterna busca do doentio dos apaixonados, de outro está a calmaria dos amantes. Estou sem explicação. Que dizer? Que fazer? Posso não me enquadrar nesse mundo, mas não sou louco, nem tenho razão. Os que amam estão doentes ou doentes são os que petrificam o coração?
ATO II
Em um bosque da Grécia Antiga, entram, conversando, de mãos dadas, Orfeu e Eurídice:
Orfeu: Oh! Como estás tão formosa, minha Eurídice! O sol, que hoje brilham ao se entrelaçar ao teu suave charme, é para mim o pedaço do Éden. Todas as canções que sei são para ti e, em nome de Zeus, só usarei minha voz para te amar. Sou um mero mortal aprisionado em teu amor.
Eurídice: Meu doce Orfeu, como é bom olhar para ti e ver teus olhos brilhando. Amo-te tanto, que nem o canto do mais belo pássaro, nem a mais formosa flor poderão expressar tal sentimento.
Orfeu: Eurídice, Eurídice, como é bom ouvir tais palavras e crer em tudo isso!
Eurídice: Nosso amor é tão real que a loucura está distante de alcançar nossos sonhos.
Orfeu: Tudo o que posso dizer-te, usando minha lira e minha humilde voz, é que te amo...
(entra a Serpente)
Orfeu: Eurídice, cuidado! Atrás de tua beleza, um monstro te persegue!...Oh, não! Eurídice!!!
(Serpente ataca Eurídice)
(Eurídice cai inanimada. Orfeu abraça-lhe o corpo)
Orfeu:Eurídice, como pode?! O que aconteceu contigo, minha amada?! Fala comigo! Dá-me, ao menos, um sorriso!...Juro pelas minhas lágrimas e pela minha voz que hei de ter-te novamente em meus braços. Juro por meu pai Eagro, o deus-rio, e por minha mãe, a musa Calíope, que te terei de volta! Juro que quando o sol surgiu novamente no horizonte de minha alma, estarei contigo ao meu lado e serei capaz de cantar e ver todo o brilho dos nossos planos e sonhos surgirem novamente em nossas vidas. Poderei dar-te todo o meu amor e assim poderemos juntos enxergar todas as coisas do mundo da forma como fazíamos...Eurídice!
(Aproxima-se a Serpente)
Serpente: O veneno do ser humano mostra-se na hora de dor, de desespero. O homem pode até ser bom em dias de sol, em dias de glória, mas quando surge a angústia, aí sim é que ele mostra sua face sombria e seus gestos se tornam hostis, na busca desesperada e muitas vezes inútil de obter algo valioso de volta. Seus dias se transformam em horas vazias e sem sentido, sua vida fica oca e ele é reduzido a nada. A realidade o invade de tal forma que a loucura começa a persegui-lo. Todo o seu desejo de vingança torna-se o único motivo para agir. Ah, Orfeu, tu não serás diferente do resto dos mortais! Vais sofrer, desesperar-te, maltratar-te e, enfim, a realiade terá tamanho peso que a loucura o alcançará. Serás como o pior verme que já habitou o mundo.
ATO III
(Novamente no quarto escuro conversam Loucura e Sanidade)
Loucura: Orfeu ficou louco! Orfeu ficou louco!
Sanidade: Presta atenção ao desfecho da história! Orfeu não enlouqueceu porque se entregou à realidade!
Loucura: Estúpida, ele enlouqueceu porque fugiu de ti!
(Entra o Amor)
Amor: Acalmem-se, meninas! Orfeu adoeceu de amor, vocês foram mera consequência.
Loucura e Sanidade: Verdade?!
Amor: Observem que a cada caso de loucura, a causa principal foi um forte sentimento por alguém ou algo. Isso se chama amor mal resolvido, logo, vocês são apenas um acessório do amor.
(Humilhadas, saem Loucura e Sanidade. Entra a Serpente)
Serpente: Sabes, Amor, descobri teu segredo.
Amor: Ora, já era tempo, afinal, alguém teria que saber que sou o melhor e mais profundo sentimento!
Serpente: Engana-te, medíocre! Tu não passas de um amador. Finalmente descobri que da maçã à serpente, do Éden ao Inferno, tu és o pecado capital.
Amor: Vais morder-me e espalhar o teu veneno, monstro bestial?
Serpente: Jamais sujaria meus lábios em ti, pois meu pior e mais letal veneno seria mais limpo que teu caráter.
(Serpente esfaqueia Amor, matando-o. Fecham as cortinas)
ANO: 1999
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