ESCULPIR...
ESCULPIR...
Construo um perfil de mulher,
cubro com um vestido de retalhos,
e os cabelos longos com cores hilariantes,
complementam a forma do ser...
Não lhe permito a voz,
para que o encanto não se quede,
para que a paixão seja eterna,
para que o não, imagine proximidade...
Sei que depois dos olhares vem o namorar,
depois o conquistar, e o propenso estar,
mas, se o amor tomar conta pode tudo estragar,
tal qual um perfume exalando-se, desprotegido...
Todos os movimentos do corpo criado,
todos os sentidos latentes,
todos os olhares observantes,
mas, não permitidos...
Permitido apenas o pensar,
o sorrir,
o se encantar,
e nada mais...
Refestelo-me diante desta escultura volátil,
e busco por palavras para iniciar uma inefável escrita...
Vislumbro e materializo uma semente;
depois de cuidada,
nasce uma roseira,
com galhos que se sustentam na raiz inocente...
A roseira caminha em direção aos céus,
e nesse caminhar libertam os seus espinhos,
e os botões se espalham por cada ponta de galho,
e ternamente as rosas florescem...
E os agressivos predadores se aproximam,
e perplexos as admiram,
e os seus olhos resplandecentes veem,
suas mãos que a vida das rosas detém...
E a escultura volátil ao meu lado abismada,
aterroriza-se com o meu descrever pensante,
deixa escapar dos cílios uma lágrima perolada,
e que nada quer encontrar nesse instante;
apenas,
volatilmente microdissipar-se...