Patrícia Galvão

Patrícia Galvão

Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu, foi uma escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista e militante comunista da política brasileira. Teve grande destaque no movimento modernista iniciado em 1922, embora não tivesse participado da Semana de Arte Moderna, tendo na época apenas doze anos de idade. Militante comunista, foi presa por motivações políticas.

1910-06-09 São João da Boa Vista
1962-12-12 Santos
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Alguns Poemas

Patrícia Galvão nasceu em São João da Boa Vista, estado de São Paulo, em 1910. Uniu-se ao Movimento Antropófago em 1928, e, em 1931, passou a editar o jornalO Homem do Povo com Oswald de Andrade, com quem estava a esta altura casada. Foi presa neste ano pela primeira vez ao participar de um comício do Partido Comunista e da organização de uma greve de estivadores em Santos. Seria a primeira mulher no Brasil a ser presa por "crimes políticos". Ao deixar a prisão, estreia em livro em 1933 com o romanceParque Industrial, saindo logo em seguida em viagem pelos EUA, Japão, Polônia, Alemanha, URSS e França, onde, em Paris, seria hospedada pelo poeta (ligado ao Grupo Surrealista) Benjamin Péret e sua esposa, a soprano brasileira Elsie Houston. Ali estudaria com os filósofos Georges Politzer e Paul Nizan, mas acabaria detida em 1935 como comunista estrangeira e deportada para o Brasil, onde seria então novamente presa pelo regime de Getúlio Vargas, passando desta vez cinco anos na prisão.
 
 
 Seu segundo romance,A famosa revista, seria publicado apenas em 1945, com o fim do Estado Novo. Em 1946 deu início, com seu segundo marido, o crítico e escritor Geraldo Ferraz, aoSuplemento Literário doDiário de São Paulo, aos domingos, que duraria até 1948. No pós-guerra, passou a publicar poemas na imprensa santista e a dedicar-se ao teatro, sendo uma das descobridoras e incentivadoras do dramaturgo Plínio Marcos. A poeta e romancista morreu em 1962 na cidade de Santos em decorrência de um câncer, após sobreviver à tortura em mais de 20 encarceramentos pela polícia de Vargas e uma tentativa de suicídio.
 
 
 Todos nós a conhecemos como Pagu e sabemos mais sobre sua vida pessoal que sobre o seu trabalho. Esta figuralarger than life, como se diz, foi no entanto uma poeta talentosa, e os poucos poemas que deixou enquadram-na entre os autores lacônicos mas marcantes do primeiro modernismo, como foi o caso de Raul Bopp ou Luís Aranha. Um poema como "Natureza morta", que entusiasmaria Augusto de Campos em 1948 quando este o lê noSuplemento Literário doDiário de São Paulo, sem saber que sob o pseudônimo Solange Sohl escondia-se a lendária Pagu, traz-nos uma imagética sombria que lembra a poética algo onírica de Pedro Kilkerry em "É o silêncio", por exemplo.
 
 O poema "Natureza morta" apresenta-nos um ambiente opressor, e afasta-se um pouco da poética das autoras mais conhecidas do Modernismo brasileiro, como Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles, ainda que seja criticamente frutífero ler certa poesia da paulista à luz de livros comoO Mar Absoluto e Outros Poemas (1945), da carioca, ouFlor da Morte (1949), da mineira. Patrícia Galvão, em vários aspectos, adiantaria na verdade a poética de mulheres como Ana Cristina Cesar, Elisabeth Veiga, Hilda Machado e Lu Menezes. As "coisas", em seu mundo, não são geradoras daquele pavor quase psicótico e tão bem ilustrado por Fernando Pessoa no poema em que fala sobre o medo de voltar-se e descobrir as coisas tirando a máscara, ou como no famoso poema de Eugenio Montale, "Forse un mattino". Em Patrícia Galvão, o poeta está entre as coisas, é ela própria parte de uma decoração assombrada e assombrosa. Não se trata de querer equipara-la a estes que foram alguns dos maiores poetas do século XX, mas de buscar uma espécie de irmanar de preocupações políticas e metafísicas, assim como de uma teia distinta de conexões estéticas entre autores do século passado, em confluência, fora das narrativas lineares já engessadas de influências.
 
 
 Os versos que abrem "Natureza morta", publicado em 1948: "Os livros são dorsos de estantes distantes quebradas. / Estou dependurada na parede feita um quadro. / Ninguém me segurou pelos cabelos" parecem unir-se em arco sincrônico ao "poema de terror" que é "É o silêncio", de Kilkerry: "É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa. / Olha-me a estante em cada livro que olha. / E a luz nalgum volume sobre a mesa...", ainda que Patrícia Galvão não recorra ao animismo como Pedro Kilkerry. Como disse, os dois autores estão mais interessados em uma atmosfera de pesadelo, que a eles parece reger a realidade, do que em uma descrição objetivizante daquilo que os cerca. Ela mimetiza a objetificação de sua subjetividade. Não umcoisismo, mas acoisificação. Pedro Kilkerry e Patrícia Galvão, assim como Murilo Mendes por exemplo, são poetas que tendem a borrar a fronteira que uns querem demasiado clara entre mundo externo e mundo interno, e, portanto, entre objetividade e subjetividade - são autores do que eu já chamei de umasobjetividade. Neste aspecto, seria muito interessante discutir no mesmo contexto a poética de autores norte-americanos da década de 30 como osObjectivists (George Oppen, Louis Zukofsky, Lorine Niedecker, Charles Reznikoff, Carl Rakosi, etc), contemporâneos exatos de Patrícia Galvão e Oswald de Andrade e que compartilham com eles a preocupação política anticapitalista comum do entreguerras (basta pensar também no círculo de poetas em torno de W.H. Auden na Inglaterra): lidos ainda hoje como celebradores de um coisismo, até que ponto não foram, ao mesmo tempo e pelos mesmos meios, também os detratores de uma coisificação?
 
 
 Sua escrita recorre à ironia, e quando pensamos que ela está prestes a lacrimejar, percebemos que ela está na verdade armando o bote da agressão logo a seguir. Há um inflar e desinflar do ritmo, geralmente formando-se em anticlímax. "Estou espichada na tela como um monte de frutas apodrecendo" parece-me uma das comparações mais agressivas da poesia brasileira moderna, extremamente crítica da própria entronização que ela, Patrícia Galvão, sofrera como "a musa Pagu", sem mencionar o verso (um dos meus favoritos): "Por que este mar idiota não cobre o telhado das casas?", e o excelente e sinestésico "Vertem os meus olhos uma fumaça salgada".
 
 Escrito em seu leito de morte, é também difícil ler um poema como "Nothing" e não pensar na poética apocalíptica de Álvaro de Campos, como em "Lisbon revisited", ou, em clave muito distinta, em certos textos da americana Laura Riding e sua desconfiança do signo, distinta da celebração sígnica que vemos na poesia brasileira do pós-guerra.
 Para nossa sensibilidade contemporânea, o uso que Patrícia Galvão faz da anáfora pode incomodar, mas é necessário perceber que sua escrita pressupõe a oralização. Tal tática foi comum entre osBeats, por exemplo, que tanto basearam seu trabalho na performance oral. Basta pensar em um poema como "Howl", fortemente baseado na anáfora.
 
 Patrícia Galvão merece ser lembrada primordialmente como autora em e de si, permitindo que a historiografia literária brasileira registre sua contribuição pessoal à literatura moderna do País, e não apenas através do filtro daquilo que os homens do movimento escreveram sobre ela, pois foi poeta talentosa, mais do que mera personagem coadjuvante na biografia de artistas mais ilustres. E é por estes poemas e o que ainda há de vivo neles que Patrícia Galvão adentra a sintonia de nossa sincronia.
 
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
 
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