Ronald de Carvalho

Ronald de Carvalho

Ronald de Carvalho foi um poeta e político brasileiro.

1893-05-16 Rio de Janeiro, Brasil
1935-02-15 Rio de Janeiro
45079
0
12


Prémios e Movimentos

Orfismo

Alguns Poemas

Brasil

A Fernando Haroldo

Nesta hora de sol puro
Palmas paradas
Pedras polidas
Claridades
Faíscas
Cintilações

Eu ouço o canto enorme do Brasil!

Eu ouço o tropel dos cavalos de Iguaçu correndo na ponta
    das rochas nuas, empinando-se no ar molhado, batendo
    com as patas de água na manhã de bolhas e pingos verdes;

Eu ouço a tua grave melodia, a tua bábara e grave melodia,
    Amazonas, melodia da tua onda lenta de óleo espesso que
    se avoluma e se avoluma, lambe o barro das barrancas, morde
    raízes, puxa ilhas e empurra o oceano mole como um touro
    picado de farpas, varas, galhos e folhagens;

Eu ouço a terra que estala no ventre quente do Nordeste,
    a terra que ferve na planta do pé de bronze do cangaceiro,
    a terra que se esboroa e rola em surdas bolas pelas
    estradas de Juazeiro, e quebra-se em crostas secas,
    esturricadas no Crato chato;

Eu ouço o chiar das caatingas — trilos, pios, pipios, trinos,
    assobios, zumbidos, bicos que picam, bordões que ressoam
    retesos, tímpanos que vibram, límpidos papos que estufam,
    asas que zinem, rezinem, cris-cris, cicios, cismas, cismas
    longas, langues — caatingas debaixo do céu!

Eu ouço os arroios que riem, pulando na garupa dos dourados
    gulosos, mexendo com os bagres no limo da luras e das locas;

Eu ouço as moendas espremendo canas, o gluglu do mel
    escorrendo nas tachas, o tinir da tigelinhas nas serigueiras;
E machados que disparam caminhos,
E serras que toram troncos,
E matilhas de “Corta Vento”, “Rompe-Ferro”, “Faíscas”
    e “Tubarões” acuando suçuaranas e maçarocas,
E mangues borbulhando na luz,
E caititus tatalando as queixadas para os jacarés que
    dormem no tejuco morno dos igapós...
Eu ouço todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando, vociferando!
Redes que balançam,
Sereias que apitam,
Usinas que rangem, martelam, arfam, estridulam, ululam e roncam,
Tubos que explodem,
Guindastes que giram,
Rodas que batem,
Trilhos que trepidam.
Rumor de coxilhas e planaltos, campainhas, relinchos
    aboiados e mugidos,
Repiques de sinos, estouros de foguetes, Ouro Preto,
    Bahia, Congonhas, Sabará,
Vaias de Bolsas empinando números como papagaios,
Tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus,
Vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no sertão!

Nesta hora de sol puro eu ouço o Brasil.

Todas as tuas conversas, pátria morena, correm pelo ar...
A conversa dos fazendeiros nos cafezais,
A conversa dos mineiros nas galerias de ouro,
A conversa dos operários nos fornos de aço,
A conversa dos garimpeiros, peneirando as bateias,
A conversa dos coronéis nas varandas das roças...
Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro
Palmas paradas
Pedras polidas
Claridades
Brilhos
Faíscas
Cintilações
É o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços,
    onde dorme, com a boca escorrendo leite,
    moreno, confiante, o hemem de amanhã!


Publicado no livro Toda a América (1926).

In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.188-190. (Manancial, 44

Advertência

Europeu!
Nos tabuleiros de xadrez da tua aldeia,
na tua casa de madeira, pequenina, coberta de hera,
na tua casa de pinhões e beirais, vigiada por filas de cercas
[paralelas, com trepadeiras moles balançando
[e florindo;
na tua sala de jantar, junto do fogão de azulejos, cheirando a
[resina de pinheiro e faia,
na tua sala de jantar, em que os teus avós leram a Bíblia e
[discutiram casamentos, colheitas e enterros,
entre as tuas arcas bojudas e pretas, com lãs felpudas e linhos
[encardidos, colares, gravuras, papéis
[graves e moedas roubadas ao inútil
[maravilhoso;
diante do teu riacho, mais antigo que as Cruzadas, desse teu
[riacho serviçal, que engorda trutas e
[carpas;

Europeu!
Em frente da tua paisagem, dessa tua paisagem com estradas,
[quintalejos, campanários e burgos, que
[cabe toda na bola de vidro do teu
[jardim;
diante dessas tuas árvores que conheces pelo nome- o carvalho
[do açude, o choupo do ferreiro, a tília
[da ponte — que conheces pelo nome
[como os teus cães, os teus jumentos e as
[tuas vacas;

Europeu! filho da obediência, da economia e do bom senso,
tu não sabes o que é ser Americano!
Ah! os tumultos do nosso sangue temperado em saltos e disparadas
[sobre pampas, savanas, planaltos,
[caatingas onde estouram boiadas tontas,
[onde estouram batuques de cascos, tropel
[de patas, torvelinho de chifres!
Alegria virgem das voltas que o laço dá na coxilha verde,
Alegria virgem de rios-mares, enxurradas, planícies cósmicas,
[picos e grimpas, terras livres, ares livres,
[florestas sem lei!
Alegria de inventar, de descobrir, de correr!
Alegria de criar o caminho com a planta do pé!

Europeu!
Nessa maré de massas informes, onde as raças e as línguas se
[dissolvem,
o nosso espírito áspero e ingênuo flutua sobre as cousas, sobre
[todas as cousas divinamente rudes, onde
[bóia a luz selvagem do dia americano!


Publicado no livro Toda a América (1926).

In: CARVALHO, Ronald de. O espelho de Ariel e poemas escolhidos. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976. p.187-188. (Manancial, 44

Entre Buenos Aires e Mendoza

(...)

Onde estão os teus poetas, América?

Onde estão eles que não vêem o alarido
construtor dos teus portos,
onde estão eles que não vêem essas bocas
marítimas que te alimentam de
homens,
que atulham de combustível as fornalhas
dos teus caldeamentos,
onde estão eles que não vêem todas essas
proas entusiasmadas,
e esses guindastes e essas gruas que se
cruzam,
e essas bandeiras que trazem a maresia
dos fiordes e dos golfos,
e essas quilhas e esses cascos veteranos
que romperam ciclones e pampeiros,
e esses mastros que se desarticulam,
e essas cabeças nórdicas e mediterrânicas,
que os teus mormaços vão fundir em
bronze,
e esses olhos boreais encharcados de luz
e de verdura,
e esses cabelos muito finos que procriarão
cabelos muito crespos,
e todos esses pés que fecundarão os teus
desertos!

Teus poetas não são dessa raça de servos
que dançam no compasso de gregos
e latinos,
teus poetas devem ter as mãos sujas de
terra, de seiva e limo,
as mãos da criação!
E inocência para adivinhar os teus
prodígios.
e agilidade para correr por todo o teu
corpo de ferro, de carvão, de cobre, de
ouro, de trigais, milharais e cafezais!

Teu poeta será ágil e inocente, América!
a alegria será a sua sabedoria,
a liberdade será a sua sabedoria,
e sua poesia será o vagido da tua própria
substância, América, da tua própria
substância lírica e numerosa.

Do teu tumulto ele arrancará uma energia
submissa,
e no seu molde múltiplo todas as formas
caberão,
e tudo será poesia na força da sua
inocência.

América, teus poetas não são dessa raça
de servos que dançam no compasso de
gregos e latinos!

(...)

Imagem - 01650002


Publicado no livro Toda a América (1926).

In: CARVALHO, Ronald. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. p.52-60. (Nossos clássicos, 45
Ronald de Carvalho (Rio de Janeiro RJ, 1893 – 1935) formou-se bacharel em Direito em 1912, no Rio de Janeiro, mesmo ano em que era publicado seu primeiro livro de poesias, Luz Gloriosa. Na época, já atuava como colaborador da revista A Época e do jornal Diário de Notícias, de Rui Barbosa. No ano seguinte, embarcou para a França, para estudar Filosofia e Sociologia. Em 1914, ingressou na carreira diplomática e estabeleceu-se em Lisboa, onde participou do Grupo Literário do Orpheu, dirigindo o primeiro número da revista. De volta ao Brasil, participou da Semana de Arte Moderna, em 1922, e publicou os livros de poesia Poemas e sonetos (1919), Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922), Toda a América e Jogos Pueris (1926), além de obras críticas como a Pequena História da Literatura Brasileira. Para o crítico Mário da Silva Brito, o poeta, "simbolista e parnasiano, nos primeiros livros, e modernista nos subsequentes, deixou em todos a marca da cor, da luminosidade fulgurante, realizando uma poesia gráfica e nítida”.
PODFalando#44 - RONALD DE CARVALHO ( GRUPO MBP)
Empresário Ronald de Carvalho é alvo de busca e apreensão em Piraí
RONALD DE CARVALHO | Escritores da Semana de Arte 22
Sabedoria | Poema de Ronald de Carvalho com narração de Mundo Dos Poemas
100 anos Semana de Arte Moderna- Ronald de Carvalho
Conheça o autor: Ronald de Carvalho (1893-1935)
Ronald de Carvalho - Bucólica
Ronald de Carvalho - Brasil
Ronald de Carvalho - Sabedoria
Mirhiane Mendes de Abreu: Cartas de Ronald de Carvalho
BRAZIL - Ronald De Carvalho speech choir
Mirhiane Abreu: Correspondência de Ronald de Carvalho
dica de experiência no Rio ✨ | Bar Os Imortais, rua Ronald de Carvalho - Copacabana
Pílulas: De um poeta russo, de Ronald de Carvalho
Interior - Ronald de Carvalho | por Gisele Eberspächer | Especial Semana de Arte Moderna #4
Ronald de Carvalho - Poema Écloga Tropical | Poesia Declamada | Poeta Brasileiro | CLIQUE para OUVIR
Rua Ronald de Carvalho 3 quartos com varanda em Copacabana
#17 - Interior (Klaxon) - Ronald de Carvalho - Semana de 22: Poemas.
Ronald de Carvalho ✦ Dois poemas
Ronald de Carvalho
Ronald de Carvalho
el galleto Rio de janeiro, Rua Ronald de Carvalho 57, Rio de Janeiro, Brasil
Ronald de Carvalho no Jornal Nacional
Apartamento - Rua Ronald De Carvalho, Copacabana; Ref:61183 - Nova Época Imóveis
Propostas Ronald de Carvalho - 14.061 - Distrital.mov
Rua Ronald de Carvalho
Ronald de Carvalho - Copacabana (Locação)
RIO DE JANEIRO - COPACABANA - FEIRA LIVRE NA RUA RONALD DE CARVALHO
#15 - Jogos do tempo (Jogos pueris) - Ronald de Carvalho - Semana de 22: Poemas.
Apartamento à venda na Rua Ronald de Carvalho em Copacabana Rio de Janeiro/RJ
Apartamento - Rua Ronald de Carvalho, Copacabana; Ref:82180 - Nova Época Imóveis
#14 - O canto que me ensinaste (Jogos pueris) - Ronald de Carvalho - Semana de 22: Poemas.
Apartamento para alugar na Rua Ronald de Carvalho, 2 quartos com dependência - Copacabana. Cód 4599
RONALD CARVALHO - FOTOGRAFIA
Copacabana; Rua Ronald de Carvalho; 2 Qts; 47177
#02 - Os modernos - Ronald de Carvalho - Semana de 22: Ensaios, conferências, capítulos.
#SEMIC2021PUCPR - SEMIC 2021 - PUCPR - Ronald de Carvalho
Ronald de Carvalho 266/703
Apartamento - Rua Ronald de Carvalho, Copacabana; Ref:69753 - Nova Época Imóveis
#03 - A arte no século XX - Ronald de Carvalho - Semana de 22: Ensaios, conferências, capítulos.
Ronald de Carvalho
COPACABANA - FEIRA LIVRE NA RUA RONALD DE CARVALHO
Epigrama, Ronald de Carvalho
Sandra Brown e Ronald de Carvalho em "Falando de amor" de Tom Jobim
Ronald de Carvalho - 3° Ano "A" 2015 EREMPA
Box Tv com Ronald de Carvalho
Epigrama (Ronald de Carvalho Poem)
Viviane Bezerra e Ronald de Carvalho - De volta pro aconchego 😍❤💃🎤🎶
Xochimilco Ou O Epigrama Da ndia Exilada (Ronald de Carvalho Poem)
O canto que me ensinaste, Ronald de Carvalho

Quem Gosta

Seguidores