Alberto de Oliveira
Antônio Mariano de Oliveira, mais conhecido pelo pseudônimo Alberto de Oliveira, foi um poeta, professor e farmacêutico brasileiro. Figura como líder do Parnasianismo brasileiro, na famosa tríade Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.
1857-04-28 Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, Brasil
1937-01-19 Niterói, Rio de Janeiro, Brasil
187871
3
1702
Velha Fazenda - III
— "... Vi um por um, oh! provação tremenda!
Nunca me há de esquecer aquele dia!
Debandar os escravos da fazenda.
A esta, em idos tempos de alegria,
Chamara, porque as tinha, de "Esperança",
"Desengano" melhor lhe chamaria.
Ah! dor nenhuma, como a da lembrança
Da ventura que foi, na desventura
Ferir mais fundo o coração alcança!
Tanta grandeza há pouco! e eis que da altura
Do meu sonho resvalo e me subverto
Chão adentro em rasgada sepultura!
Ergo-me, tonto ainda, olho — o deserto!
Falo — silêncio! movo os braços — nada!
Somente a solidão ao peito aperto.
Minha "Esperança" desesperançada!
Com que ouvidos te ouvi então o rouco
Arrastado mugido da boiada!
Pus-me a chorar, como criança ou louco,
(Esta fraqueza, amigo, não te encubro)
Pus-me a chorar. Naquele mês, em pouco,
A flor do cafezal, filha de Outubro,
Reclamando a colheita, a rir-se agora,
Já mudada se achava em fruto rubro.
Naquele mês a várzea se melhora
Com a estação mais regrada e água da serra;
Ao sol pompeando, todo caule enflora;
Viça o vesco faval, com o humor que encerra;
Os grãos amojam nas espigas de ouro;
Racha com as grossas túberas a terra.
Mas com que mãos colher tanto tesouro?
As mãos Maio as levou, levando o escravo,
Maio agora tornado sestro agouro.
Meu mal, assim pensando, aflito agravo;
Nas terras, nas lavouras em abandono
Em desesperação os olhos cravo.
Depois, a pouco e pouco, um meio sono
Me vem. Olho estas cousas com fastio,
E deixo-as ir, como se vai sem dono
Barco largado na tensão do rio."
Publicado no livro Poesias, 1904/1911: terceira série (1913). Poema integrante da série Natália.
In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.2. (Fluminense
Nunca me há de esquecer aquele dia!
Debandar os escravos da fazenda.
A esta, em idos tempos de alegria,
Chamara, porque as tinha, de "Esperança",
"Desengano" melhor lhe chamaria.
Ah! dor nenhuma, como a da lembrança
Da ventura que foi, na desventura
Ferir mais fundo o coração alcança!
Tanta grandeza há pouco! e eis que da altura
Do meu sonho resvalo e me subverto
Chão adentro em rasgada sepultura!
Ergo-me, tonto ainda, olho — o deserto!
Falo — silêncio! movo os braços — nada!
Somente a solidão ao peito aperto.
Minha "Esperança" desesperançada!
Com que ouvidos te ouvi então o rouco
Arrastado mugido da boiada!
Pus-me a chorar, como criança ou louco,
(Esta fraqueza, amigo, não te encubro)
Pus-me a chorar. Naquele mês, em pouco,
A flor do cafezal, filha de Outubro,
Reclamando a colheita, a rir-se agora,
Já mudada se achava em fruto rubro.
Naquele mês a várzea se melhora
Com a estação mais regrada e água da serra;
Ao sol pompeando, todo caule enflora;
Viça o vesco faval, com o humor que encerra;
Os grãos amojam nas espigas de ouro;
Racha com as grossas túberas a terra.
Mas com que mãos colher tanto tesouro?
As mãos Maio as levou, levando o escravo,
Maio agora tornado sestro agouro.
Meu mal, assim pensando, aflito agravo;
Nas terras, nas lavouras em abandono
Em desesperação os olhos cravo.
Depois, a pouco e pouco, um meio sono
Me vem. Olho estas cousas com fastio,
E deixo-as ir, como se vai sem dono
Barco largado na tensão do rio."
Publicado no livro Poesias, 1904/1911: terceira série (1913). Poema integrante da série Natália.
In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.2. (Fluminense
1878
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