A Passagem
Diante de ti, mãe Idoto,
eu me posto nu;
Diante de tua presença aquosa,
Um pródigo
Encostado na acácia,
Absorto em tua lenda.
Sob teu domínio eu aguardo
Descalço,
Sentinela para a senha
No portão celeste;
Das profundezas meu grito:
Dá ouvidos e atenta...
Água escura dos primórdios.
Raios, violáceos e curtos, perfurando a tristeza,
Sugerem o fogo que é sonhado.
Arco-íris na distância, arqueado como cobra em bote à presa,
Sugere a chuva que é sonhada.
À estufa
A solidão me convida,
Uma alvéloa, para contar
O conto da mata-em-cipós;
Nectarinia, em luto
Por uma mãe entre galhos.
Sol e chuva num combate único;
Sobre uma só perna,
Em silêncio na passagem,
O jovem pássaro na passagem.
Rostos silenciosos nas encruzilhadas:
Festividade em negro...
Rostos em negro como longas negras
Colunas de formigas,
Detrás da torre do sino,
Entrando no ardente jardim
Onde todas as estradas se encontram:
Festividade em negro...
Oh Ana às maçanetas do painel alongado,
Ouve-nos às encruzilhadas nas grandes dobradiças
Onde os tocadores de orgão nas galerias
Ensaiam o doce velho fragmento, a sós -
Marcas de folhas de laranjeira impressas nas páginas,
Desbotar da luz de anos entrelaçados no couro:
Pois estamos à escuta nos campos de milho,
Entre os instrumentos de sopro,
Escutando o vento debruçar-se sobre
O seu mais doce fragmento...
(tradução de Ricardo Domeneck)
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