Castro Alves
Antônio Frederico de Castro Alves foi um poeta brasileiro. Nasceu na fazenda Cabaceiras, a sete léguas da vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje Castro Alves, no estado da Bahia.
1847-03-14 Curralinho, Castro Alves, Bahia, Brasil
1871-07-06 Salvador, Bahia, Brasil
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Poeta
Meditar é trabalhar. Pensar é obrar.
O olhar fito no céu é uma obra.
V. HUGO.
Lunivers est ]e temple, et Ia serre rautel.
Les cieux sont le dbme; et les astres vans nombre
Sont les sacrés flambeaux pour ce temps aliurptés.
LAMARTINE.
POETA, às horas mortas que o cálice azulado
— Da etérea flor — a noite — debruça-se pra o mar,
E a pálida sonâmbula, cumprindo o eterno fado,
As gazas transparentes espalha do luar,
Eu vi-te ao clarão, trêmulo dos astros lá naltura
Pela janela aberta às virações azuis,
— A amante sobre o peito sedento de ternura,
A mente no infinito sedenta só de luz.
Perto do candelabro teu Lamartine terno
À tua espera abria as folhas de cetim;
Mas tu lias no livro, onde escrevera o Eterno
Letras — que são estrelas — no céu — folha sem fim —
Cismavas... de astro em astro teu pensamento errava
Rasgando o reposteiro da seda azul dos céus:
E teu ouvido atento... em êxtase escutava
Nas virações da noite o respirar de Deus.
O oceano de tua alma, do crânio transbordando,
Enchia a natureza de sentimento e amor,
As noites eram ninhos de amantes socultando,
O monte — um braço erguido em busca do Senhor.
Nas selvas, nas neblinas o olhar visionário
Via serguer fantasmas aqui... ali... além,
Pra ti era o cipreste — o dedo mortuário
Com que o sepulcro aponta no espaço ao longe... alguém
No cedro pensativo, que a sós no descampado
Geme e goteja orvalhos ao sopro do tufão,
Vias um triste velho — sozinho, desprezado
Molhando a barba em prantos coa fronte para o chão.
Aqui — ondina louca — vogavas sobre os mares —
Ali — silfo ligeiro — na murta ias dormir,
Anjo — de algum cometa, que vaga pelos ares,
Na cabeleira fúlgida brincavas a sorrir.
Sublime panteísta, que amor em ti resumes,
Sentes a alma de Deus na criação brilhar!
Perfume — tu subias, de um anjo entre os perfumes,
Ave do céu — nas nuvens teu ninho ias buscar.
Canta, poeta, os hinos, com que o silêncio acordas,
A natureza — é uma harpa presa nas mãos de Deus.
O mundo passa... e mira o brilho dessas cordas...
E o hino?... O hino apenas chega aos ouvidos teus.
Todo o universo é um templo — o céu a cúpula imensa,
Os astros — lampas de ouro no espaço a cintilar,
A ventania — é o órgão que enche a nave extensa,
Tu és o sacerdote da terra — imenso altar.
O olhar fito no céu é uma obra.
V. HUGO.
Lunivers est ]e temple, et Ia serre rautel.
Les cieux sont le dbme; et les astres vans nombre
Sont les sacrés flambeaux pour ce temps aliurptés.
LAMARTINE.
POETA, às horas mortas que o cálice azulado
— Da etérea flor — a noite — debruça-se pra o mar,
E a pálida sonâmbula, cumprindo o eterno fado,
As gazas transparentes espalha do luar,
Eu vi-te ao clarão, trêmulo dos astros lá naltura
Pela janela aberta às virações azuis,
— A amante sobre o peito sedento de ternura,
A mente no infinito sedenta só de luz.
Perto do candelabro teu Lamartine terno
À tua espera abria as folhas de cetim;
Mas tu lias no livro, onde escrevera o Eterno
Letras — que são estrelas — no céu — folha sem fim —
Cismavas... de astro em astro teu pensamento errava
Rasgando o reposteiro da seda azul dos céus:
E teu ouvido atento... em êxtase escutava
Nas virações da noite o respirar de Deus.
O oceano de tua alma, do crânio transbordando,
Enchia a natureza de sentimento e amor,
As noites eram ninhos de amantes socultando,
O monte — um braço erguido em busca do Senhor.
Nas selvas, nas neblinas o olhar visionário
Via serguer fantasmas aqui... ali... além,
Pra ti era o cipreste — o dedo mortuário
Com que o sepulcro aponta no espaço ao longe... alguém
No cedro pensativo, que a sós no descampado
Geme e goteja orvalhos ao sopro do tufão,
Vias um triste velho — sozinho, desprezado
Molhando a barba em prantos coa fronte para o chão.
Aqui — ondina louca — vogavas sobre os mares —
Ali — silfo ligeiro — na murta ias dormir,
Anjo — de algum cometa, que vaga pelos ares,
Na cabeleira fúlgida brincavas a sorrir.
Sublime panteísta, que amor em ti resumes,
Sentes a alma de Deus na criação brilhar!
Perfume — tu subias, de um anjo entre os perfumes,
Ave do céu — nas nuvens teu ninho ias buscar.
Canta, poeta, os hinos, com que o silêncio acordas,
A natureza — é uma harpa presa nas mãos de Deus.
O mundo passa... e mira o brilho dessas cordas...
E o hino?... O hino apenas chega aos ouvidos teus.
Todo o universo é um templo — o céu a cúpula imensa,
Os astros — lampas de ouro no espaço a cintilar,
A ventania — é o órgão que enche a nave extensa,
Tu és o sacerdote da terra — imenso altar.
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Eu amo esse poema desde quando o conheci na minha adolescência porque ele me descreve quando eu preciso ficar entre as árvores e as plantas e a luz do céu à noite ou a luz do sol ao fim de tarde para escrever meus poemas.
26/janeiro/2022