Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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9
27
Vivendo
quero dizer, apenas dormi
acordei com uma mosca no cotovelo e
eu a batizei de Benny
então a matei
e então me levantei e fui ver a caixa de
correspondência
e havia algum tipo de aviso do
governo
mas já que não havia ninguém em guarda entre os arbustos
com uma baioneta
eu o rasguei
e voltei para a cama e fiquei olhando para o teto
e pensei, realmente gosto disso,
vou ficar assim deitado por mais uns dez
minutos
e ali fiquei por mais dez minutos
e pensei,
isso não faz sentido, tenho tantas coisas a
fazer mas ficarei deitado aqui por mais
meia hora,
e me estiquei
estiquei
e fiquei vendo o sol atravessar as pequenas folhas de uma árvore
lá fora, e não tive nenhum pensamento mirabolante,
não tive nenhum pensamento imortal,
e essa foi a melhor parte
e ficou um pouco quente
e eu me livrei da coberta e segui dormindo –
mas um sonho dos diabos:
eu estava de volta ao trem
de volta àquela viagem circular de 5 horas,
sentado junto à janela,
vencendo o mesmo triste oceano, a China lá fora murmurando
peculiaridades no fundo de meu
cérebro, e então alguém sentou ao meu lado
e falou sobre cavalos
uma conversa cheia de naftalina que me rasgou em dois como a
morte, e então lá estava eu
de novo: os cavalos correndo como alguma coisa vista numa
tela e os jóqueis com rostos muito brancos
e não importava quem finalmente
vencesse e todo mundo o
sabia. o retorno dos cavalos no sonho era igual
ao retorno na realidade:
toneladas negras de noite ao redor
as mesmas montanhas envergonhadas de estarem
ali, o mesmo mar outra vez, outra vez,
o trem avançando como um caralho através de um olho de
agulha
e eu tive que levantar e ir até o banheiro
e eu odiava ter de levantar e ir até o banheiro
porque alguém tinha jogado papel no vaso, algum otário tinha jogado
papel ali de novo e a porra não daria
descarga, e quando eu voltasse
ninguém tinha nada para fazer senão olhar para a minha
cara
e eu estava tão cansado
que eles souberam isso ao ver meu rosto
que eu os
odiava
e que eles me odiavam
e queriam
me matar
mas não o faziam.
despertei mas como não havia ninguém
na minha cama
para me dizer que agia
errado
dormi mais um
pouco.
quando acordei desta vez
era quase
noite. as pessoas vinham chegando do trabalho.
me levantei e me sentei numa cadeira e fiquei olhando eles
entrarem. eles não pareciam muito bem.
mesmo as jovens garotas não pareciam tão bem como à hora que
partiram.
e os homens entravam: assassinos com machadinhas, homicidas, ladrões, fraudadores,
o time inteiro, e seus rostos eram mais horrendos que quaisquer
máscaras de halloween jamais divisadas.
encontrei uma aranha azul num canto e a matei com uma
vassoura.
olhei um pouco mais para as pessoas e então me cansei e
parei de olhar e resolvi fritar uns dois ovos e me sentei
e tomei um pouco de chá com pão.
me senti bem.
depois tomei um banho e voltei para a
cama.
acordei com uma mosca no cotovelo e
eu a batizei de Benny
então a matei
e então me levantei e fui ver a caixa de
correspondência
e havia algum tipo de aviso do
governo
mas já que não havia ninguém em guarda entre os arbustos
com uma baioneta
eu o rasguei
e voltei para a cama e fiquei olhando para o teto
e pensei, realmente gosto disso,
vou ficar assim deitado por mais uns dez
minutos
e ali fiquei por mais dez minutos
e pensei,
isso não faz sentido, tenho tantas coisas a
fazer mas ficarei deitado aqui por mais
meia hora,
e me estiquei
estiquei
e fiquei vendo o sol atravessar as pequenas folhas de uma árvore
lá fora, e não tive nenhum pensamento mirabolante,
não tive nenhum pensamento imortal,
e essa foi a melhor parte
e ficou um pouco quente
e eu me livrei da coberta e segui dormindo –
mas um sonho dos diabos:
eu estava de volta ao trem
de volta àquela viagem circular de 5 horas,
sentado junto à janela,
vencendo o mesmo triste oceano, a China lá fora murmurando
peculiaridades no fundo de meu
cérebro, e então alguém sentou ao meu lado
e falou sobre cavalos
uma conversa cheia de naftalina que me rasgou em dois como a
morte, e então lá estava eu
de novo: os cavalos correndo como alguma coisa vista numa
tela e os jóqueis com rostos muito brancos
e não importava quem finalmente
vencesse e todo mundo o
sabia. o retorno dos cavalos no sonho era igual
ao retorno na realidade:
toneladas negras de noite ao redor
as mesmas montanhas envergonhadas de estarem
ali, o mesmo mar outra vez, outra vez,
o trem avançando como um caralho através de um olho de
agulha
e eu tive que levantar e ir até o banheiro
e eu odiava ter de levantar e ir até o banheiro
porque alguém tinha jogado papel no vaso, algum otário tinha jogado
papel ali de novo e a porra não daria
descarga, e quando eu voltasse
ninguém tinha nada para fazer senão olhar para a minha
cara
e eu estava tão cansado
que eles souberam isso ao ver meu rosto
que eu os
odiava
e que eles me odiavam
e queriam
me matar
mas não o faziam.
despertei mas como não havia ninguém
na minha cama
para me dizer que agia
errado
dormi mais um
pouco.
quando acordei desta vez
era quase
noite. as pessoas vinham chegando do trabalho.
me levantei e me sentei numa cadeira e fiquei olhando eles
entrarem. eles não pareciam muito bem.
mesmo as jovens garotas não pareciam tão bem como à hora que
partiram.
e os homens entravam: assassinos com machadinhas, homicidas, ladrões, fraudadores,
o time inteiro, e seus rostos eram mais horrendos que quaisquer
máscaras de halloween jamais divisadas.
encontrei uma aranha azul num canto e a matei com uma
vassoura.
olhei um pouco mais para as pessoas e então me cansei e
parei de olhar e resolvi fritar uns dois ovos e me sentei
e tomei um pouco de chá com pão.
me senti bem.
depois tomei um banho e voltei para a
cama.
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