Sebastiana e a Pedrap

Todo o dia que amanhece
Com chuva ou com sol, sempre acontece
Sebastiana devagarinho, como um anjo
Chega `a nascente da água mineral

Rác, rác, rác, rác
Sebastiana raspa o pé na pedra
O pé raspa a pedra de Sebastiana
(Será que a pedra tem espírito?)

Sebastiana, sim, tem a pedra preferida
Áspera, redonda e oferecida
Pedaço de rocha primitiva e úmida
De uma razão qualquer que desconheço

Testemunho o encontro todos os dias
Nas brumas das manhãs tão frias
E fico cismando, como de hábito
Sobre fatos pretéritos e misteriosos

Quando na terra primeva do planalto central
Entre raios e abalos sísmicos de força brutal
Feios dinossauros passearam pelo parque
E a água fria brotou da rocha

Cristalina e pura, correu por milhões de anos
No santuário mágico do poço dos anjos
Alvoradas e arrebóis sem conta se sucederam
O tempo hipnotizado se liquefez em eras...

No fundo do poço desde sempre e agora
A pedra, fico pensando, esperou a hora
De passar a magia destas eras
A quem, no fundo, sempre soubesse

Alguém como Sebastiana, de outras vidas
(Imagino que tão antigas e sofridas)
Para trazer a manhã sempre calma
Deste suceder infinito, presente para mim

Sebastiana rala o pé na pedra
O pé rala a pedra de Sebastiana
O tempo vira água pura e pedra
Como se não existisse
Ou como se fosse Sebastiana...

Rác, rác, rác, rác....

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