Funcionários do ódio

Chamados
raivosos de aço a convocar multidões
para jardins odiosos
onde genocídios saem dos dicionários
e empilham cadáveres na grama
enquanto os gritos do saque
e as ondas da maldade
respingam sangue distraídos.

Matar
e beber uma cerveja gelada,
matar
e ir dormir um pouco,
matar
e levar brinquedos para os filhos.

O horror da facilidade da morte e da raiva
para espalhar cadáveres homogêneos
tem a profundidade de grandes lagos alpinos
de águas límpidas, azuis, sem vida,
e as frias serras que se vêem ao longe
a carregar pedras, gêlo, vento e delírios arianos,
tem a secura dos grandes desertos a gerar deuses cruéis.
espelhados na dureza dos dias,
e a escrever o genocídio e a guerra santa
nos seus livros sagrados,
mas vai além.

Cambodja? Auschwitz?
Palestina? gueto de Varsóvia?
Ruanda? Bósnia? Soweto?
Assim os vemos e nos acalmamos,
estranhas consoantes e vogais enfileiradas
em distantes mapas,
e nós não somos eles
e nos regozijamos por sermos diferentes.

Mas, será? A distância é aparente,

o nome talvez seja sempre o mesmo
e seria fácil dizê-lo:
é a lógica das limpezas étnicas,
é a certeza dos estados nacionais,
é a manutenção da ordem social,
é o direito à revolução,
é uma única religião verdadeira
e só se diz em uma língua,
e admite apenas um alfabeto,
mas será mesmo?

Seu nome é muito mais que tudo isto,
êle é a densa maldade sem espelho
a falar calmamente
e a matar.
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