Castro Alves

Castro Alves

Antônio Frederico de Castro Alves foi um poeta brasileiro. Nasceu na fazenda Cabaceiras, a sete léguas da vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje Castro Alves, no estado da Bahia.

1847-03-14 Curralinho, Castro Alves, Bahia, Brasil
1871-07-06 Salvador, Bahia, Brasil
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Prémios e Movimentos

Romantismo

Alguns Poemas

Pedro Ivo

Sonhava nesta geração bastarda
Glórias e liberdade!
....................................................
Era um leão sangrento, que rugia,
Da glória nos clarins se embriagava,
E vossa gente pálida recuava,
Quando ele aparecia.

ÁLVARES DE AZEVEDO

I

Rebramaram os ventos... Da negra tormenta
Nos montes de nuvens galopa o corcel...
Relincha — troveja... galgando no espaço
Mil raios desperta coas patas revel.

É noite de horrores... nas grunas celestes,
Nas naves etéreas o vento gemeu...
E os astros fugiram, qual bando de garças
Das águas revoltas do lago do céu.

E a terra é medonha... As árvores nuas
Espectros semelham fincados de pé,
Com os braços de múmias, que os ventos retorcem,
Tremendo a esse grito, que estranho lhes é.

Desperta o infinito... Coa boca entreaberta
Respira a borrasca do largo pulmão.
Ao longe o oceano sacode as espáduas
— Encélado novo calcado no chão.

É noite de horrores... Por ínvio caminho
Um vulto sombrio sozinho passou,
Coa noite no peito, coa noite no busto
Subiu pelo monte, — nas cimas parou.

Cabelos esparsos ao sopro dos ventos,
Olhar desvairado, sinistro, fatal,
Diríeis estátua roçando nas nuvens,
Pra qual a montanha se fez pedestal.

Rugia a procela — nem ele escutava!...
Mil raios choviam — nem ele os fitou!
Com a destra apontando bem longe a cidade,
Após largo tempo sombrio falou!...

..........................................................................

II

Dorme, cidade maldita,
Teu sono de escravidão!...
Dorme, vestal da pureza,
Sobre os coxins do Sultão!...
Dorme, filha da Geórgia,
Prostituta em negra órgia
Sê hoje Lucrécia Bórgia
Da desonra no balcão!...

Dormir?!... Não! Que a infame grita
Lá se alevanta fatal...
Corre o champagne e a desonra
Na orgia descomunal...
Na fronte já tens um laço...
Cadeias de ouro no braço,
De pérolas um baraço,
— Adornos da saturnal!

Louca!... Nem sabes que as luzes,
Que acendeu pra as saturnais,
São do enterro de seus brios
Tristes círios funerais...
Que o seu grito de alegria
É o estertor da agonia,
A que responde a ironia
Do riso de Satanás!...

Morreste... E ao teu saimento
Dobra a procela no céu.
E os astros — olhar dos mortos —
A mão da noite escondeu.
Vê!... Do raio mostra a lampa
Mão de espectro, que destampa
Com dedos de ossos a campa,
Onde a glória adormeceu.

E erguem-se as lápides frias,
Saltam bradando os heróis:
"Quem ousa da eternidade
Roubar-nos o sono a nós?"
Responde o espectro: "A desgraça!
Que a realeza, que passa,
Com o sangue de vossa raça,
Cospe lodo sobre vós!..."

Fugi, fantasmas augustos!
Caveiras que coram mais
Do que essas faces vermelhas
Dos infames pariás!...
Fugi do solo maldito...
Embuçai-vos no infinito!
E eu por detrás do granito
Dos montes ocidentais...

Eu também fujo... Eu fugindo!...
Mentira desses vilões!...
Não foge a nuvem trevosa
Quando em asas de tufões,
Sobe dos céus à esplanada,
Para tomar emprestada
De raios uma outra espada,
À luz das constelações!...

Como o tigre na caverna
Afia as garras no chão,
Como em Elba amola a espada
Nas pedras — Napoleão,
Tal eu — vaga encapelada,
Recuo de uma passada,
Pra levar de derribada
Rochedos, reis, multidões... !

III

"Pernambuco! Um dia eu vi-te
Dormido imenso ao luar,
Com os olhos quase cerrados,
Com os lábios — quase a falar
Do braço o clarim suspenso,
— O punho no sabre extenso
De pedra — recife imenso,
Que rasga o peito do mar...

E eu disse: Silêncio, ventos!
Cala a boca, furacão!
No sonho daquele sono
Perpassa a Revolução!
Este olhar que não se move
"Stá fito em — Oitenta e Nove —
Lê Homero — escuta Jove...
— Robespierre — Dantão.

Naquele crânio entra em ondas
O verbo de Mirabeau...
Pernambuco sonha a escada
Que também sonhou Jacó;
Cisma a República alçada,
E pega os copos da espada,
Enquanto em sualma brada:
"Somos irmãos, Vergniaud."

Então repeti ao povo:
— Desperta do sono teu!
Sansão — derroca as colunas!
Quebra os ferros — Prometeu!
Vesúvio curvo — não pares,
lgnea coma solta aos ares,
Em lavas inunda os mares,
Mergulha o gládio no céu.

República!... Vôo ousado
Do homem feito condor!
Raio de aurora inda oculta
Que beija a fronte ao Tabor!
Deus! Por quenquanto que o monte
Bebe a luz desse horizonte,
Deixas vagar tanta fronte,
No vale envolto em negror?!...

Inda me lembro... Era, há pouco,
A luta! Horror!... Confusão!...
A morte voa rugindo
Da garganta do canhão!...
O bravo a fileira cerra!...
Em sangue ensopa-se a terra!...
E o fumo — o corvo da guerra —
Com as asas cobre a amplidão...

Cheguei!... Como nuvens tontas,
Ao bater no monte — além,
Topam, rasgam-se, recuam...
Tais a meus pés vi também
Hostes mil na luta inglória...
...Da pirâmide da glória
São degraus... Marcha a vitória,
Porque este braço a sustém.

Foi uma luta de bravos,
Como a luta do jaguar,
De sangue enrubesce a terra,
— De fogo enrubesce o ar!...
... Oh!... mas quem faz que eu não vença?
— O acaso... — avalanche imensa,
Da mão do Eterno suspensa,
Que a idéia esmaga ao tombar!...

Não importa! A liberdade
É como a hidra, o Anteu.
Se no chão rola sem forças,
Mais forte do chão se ergueu...
São os seus ossos sangrentos
Gládios terríveis, sedentos...
E da cinza solta aos ventos
Mais um Graco apareceu!...

.....................................................

Dorme, cidade maldita!
Teu sono de escravidão!
Porém no vasto sacrário
Do templo do coração,
Ateia o lume das lampas,
Talvez que um dia dos pampas
Eu surgindo quebre as campas
Onde te colam no chão.

Adeus! Vou por ti maldito
Vagar nos ermos pauis.
Tu ficas morta, na sombra,
Sem vida, sem fé, sem luz!...
Mas quando o povo acordado
Te erguer do tredo valado,
Virá livre, grande, ousado,
De pranto banhar-me a cruz!... "

IV

Assim falara o vulto errante e negro,
Como a estátua sombria do revés,
Uiva o tufão nas dobras de seu manto,
Como um cão do senhor ulula aos pés...

Inda um momento esteve solitário
Da tempestade semelhante ao deus,
Trocando frases com os trovões no espaço
Raios com os astros nos sombrios céus...

Depois sumiu-se dentre as brumas densas
Da negra noite — de sualma irmã...
E longe... longe... no horizonte imenso
Ressonava a cidade cortesã!...

Vai!... Do sertão esperam-te as Termópilas
A liberdade ainda pulula ali...
Lá não vão vermes perseguir as águias,
Não vão escravos perseguir a ti!

Vai!... Que o teu manto de mil balas roto
É uma bandeira, que não tem rival.
— Desse suor é que Deus faz os astros...
Tens uma espada, que não foi punhal.

Vai, tu que vestes do bandido as roupas,
Mas não te cobres de uma vil libré
Se te re

Resposta de Machado de Assis

Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 1868.

Exmo. Sr. — É boa e grande fortuna conhecer um poeta; melhor e maior fortuna é recebê-lo das mãos de V. Exa, com uma carta que vale um diploma, com uma recomendação que é uma sagração. A musa do Sr. Castro Alves não podia ter mais feliz intróito na vida literária. Abre os olhos em pleno Capitólio. Os seus primeiros cantos obtêm o aplauso de um mestre. — Mas se isto me entusiasma, outra coisa há que me comove e confunde, é a extrema confiança, que é ao mesmo tempo um motivo de orgulho para mim. De orgulho, repito, e tão inútil fera dissimular esta impressão, quão arrojado seria ver nas palavras de V. Exa. mais do que uma animação generosa. — A tarefa da crítica precisa destes parabéns; é tão árdua de praticar, já pelos estudos que exige, já pelas lutas que impõe, que a palavra eloqüente de um chefe é muitas vezes necessária para reavivar as forças exaustas e reerguer o ânimo abatido. — Confesso francamente, que, encetando os meus ensaios de crítica, fui movido pela idéia de contribuir com alguma coisa para a reforma do gosto que se ia perdendo, e efetivamente se perde. Meus limitadíssimos esforços não podiam impedir o tremendo desastre. Como impedi-lo, se, por influência irresistível, o mal vinha de fora, e se impunha ao espírito literário do país, ainda mal formado e quase sem consciência de si? Era difícil plantar as leis do gosto, onde se havia estabelecido uma sombra de literatura, sem alento nem ideal, falseada e frívola, mal imitada e mal copiada. Nem os esforços dos que, como V. Exa, sabem exprimir sentimentos e idéias na língua que nos legaram os mestres clássicos, nem esses puderam opor um dique à torrente invasora. Se a sabedoria popular não mente, a universalidade da doença podia dar-nos alguma consolação quando não se antolha remédio ao mal. — Se a magnitude da tarefa era de assombrar espíritos mais robustos, outro risco havia: e a este já não era a inteligência que se expunha, era o caráter. Compreende V. Ex.a que, onde a crítica não é instituição formada e assentada, a análise literária tem de lutar contra esse entranhado amor paternal que faz dos nossos filhos as mais belas crianças do mundo. Não raro se originam ódios onde era natural travarem-se afetos. Desfiguram-se os intentos da crítica, atribui-se à inveja o que vem da imparcialidade: chama-se antipatia o que é consciência. Fosse esse, porém, o único obstáculo, estou convencido que ele não pesaria no ânimo de quem põe acima do interesse pessoal o interesse perpétuo da sociedade, porque a boa fama das musas o é também. — Cansados de ouvir chamar bela à poesia, os novos atenienses resolveram bani-la da república. — O elemento poético é hoje um tropeço ao sucesso de uma obra. Aposentaram a imaginação. As musas, que já estavam apeadas dos templos, foram também apeadas dos livros. A poesia dos sentidos veio sentar-se no santuário e assim generalizou-se uma crise funesta às letras. Que enorme Alfeu não seria preciso desviar do seu curso para limpar este presepe de Augias? — Eu bem sei que no Brasil, como fora dele, severos espíritos protestam com o trabalho e a lição contra esse estado de coisas: tal é, porém, a feição geral da situação, ao começar a tarde do século. Mas sempre há de triunfar a vida inteligente. Basta que se trabalhe sem trégua. Pela minha parte, estava e está acima das minhas posses semelhante papel, contudo. entendia e entendo — adotando a bela definição do poeta que V. Exa dá em sua carta — que há para o cidadão da arte e do belo deveres imprescritíveis, e que, quando uma tendência do espírito o impele para certa ordem de atividade, é sua obrigação prestar esse serviço às letras. — Em todo o caso não tive imitadores. Tive um antecessor ilustre, apto para este árduo mister, erudito e profundo, que teria prosseguido no caminho das suas estréias, se a imaginação possante e vivaz não lhe estivesse exigindo as criações que depois nos deu. Será preciso acrescentar que aludo a V. Ex.a? — Escolhendo-me para Virgílio do jovem Dante que nos vem da pátria de Moema, impõe-me um dever, cuja responsabilidade seria grande se a própria carta de V. Exa não houvesse aberto ao neófito as portas da mais vasta publicidade. A análise pode agora esmerilhar nos escritos do poeta belezas e descuidos. O principal trabalho está feito. — Procurei o poeta cujo nome havia sido ligado ao meu, e, com a natural ansiedade que nos produz a notícia de um talento robusto, pedi-lhe que me lesse o seu drama e os seus versos. — Não tive, como V. Exa, a fortuna de os ouvir diante de um magnífico panorama. Não se rasgavam horizontes diante de mim: não tinha os pés nessa formosa Tijuca, que V. Exa chama um escabelo entre a nuvem e o pântano. Eu estava no pântano, em torno de nós agitava-se a vida tumultuosa da cidade. Não era o ruído das paixões nem dos interesses; os interesses e as paixões tinham passado a vara à loucura: estávamos no carnaval. — No meio desse tumulto abrimos um oásis de solidão. — Ouvi o Gonzaga e algumas poesias. — V. Exa já sabe o que é o drama e o que são os versos, já os apreciou consigo, já resumiu a sua opinião. Esta carta, destinada a ser lida pelo público, conterá as impressões que recebi com a leitura dos escritos do poeta. — Não podiam ser melhores as impressões. Achei uma vocação literária, cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro. Achei um poeta original. O mal da nossa poesia contemporânea é ser copista — no dizer, nas idéias e nas imagens. Copiá-las é anular-se. A musa do Sr. Castro Alves tem feição própria. Se se adivinha que a sua escola é a de Vítor Hugo, não é porque o copie servilmente, mas porque uma índole irmã levou-o a preferir o poeta das Orientais ao poeta das Meditações. Não lhe aprazem certamente as tintas brancas e desmaiadas da elegia; quer antes as cores vivas e os traços vigorosos da ode. — Como o poeta que tomou por mestre, o Sr. Castro Alves canta simultaneamente o que é grande e o que é delicado, mas com igual inspiração e método idêntico a pompa das figuras, a sonoridade do vocábulo, uma forma esculpida com arte, sentindo-se por baixo desses lavores o estro, a espontaneidade, o ímpeto. Não é raro andarem separadas estas duas qualidades da poesia: a forma e o estro. Os verdadeiros poetas são os que as têm ambas. Vê-se que o Sr. Castro Alves as possui; veste as suas idéias com roupas finas e trabalhadas. O receio de cair em um defeito, não o levará a cair no defeito contrário? Não me parece que lhe haja acontecido isso; mas indico-lhe o mal, para que fuja dele. É possível que uma segunda leitura dos seus versos me mostrasse alguns senões fáceis de remediar; confesso que os não percebi no meio de tantas belezas. — O drama, esse li-o atentamente; depois de ouvi-lo, li-o, e reli-o, e não sei bem se era a necessidade de o apreciar, se o encanto da obra, que me demorava os olhos em cada página do volume. — O poeta explica o dramaturgo. Reaparecem no drama as qualidades do verso; as metáforas enchem o período; sente-se de quando em quando o arrojo da ode. Sófocles pede as asas a Píndaro. Parece ao poeta que o tablado é pequeno; rompe o céu de lona e arroja-se ao espaço livre e azul. — Esta exuberância que V. Exa com justa razão atribui à idade, concordo que o poeta há de reprimi-la com os anos. Então conseguirá separar completamente a língua lírica da língua dramática; e do muito que devemos esperar temos prova e fiança no que nos dá hoje. — Estreando no teatro com um assunto histórico, e assunto de uma revolução infeliz, o Sr. Castro Alves consultou a índole do seu gênio poético. Precisava de figuras que o tempo houvesse consagrado; as da Inconfidência tinham além disso a auréola do martírio. Que melhor assunto para excitar a piedade? A tentativa abortada de uma revolução, que tinha por fim consagrar a nossa independência, merece do Brasil de hoje aquela veneração que as raças livres devem aos seus Espártacos. O insucesso fê

A Órfã na Sepultura

Minha mãe, a noite é fria,
Desce a neblina sombria,
Geme o riacho no val
E a bananeira farfalha,
Como o som de uma mortalha
Que rasga o gênio do mal.

Não vês que noite cerrada?
Ouviste essa gargalhada
Na mata escura? ai de mim!
Mãe, ó mãe, tremo de medo.
Oh! quando enfim teu segredo,
Teu segredo terá fim?

Foi ontem que à Ave-Maria
O sino da freguesia,
Me fez tanto soluçar.
Foi ontem que te calaste...
Dormiste . . os olhos fechaste...
Nem me fizeste rezar! ...

Sentei-me junto ao teu leito,
Stava tão frio o teu peito,
Que eu fui o fogo atiçar.
Parece que então me viste
Porque dormindo sorriste
Como uma santa no altar.

Depois o fogo apagou-se,
Tudo no quarto calou-se,
E eu também calei-me então.
Somente acesa uma vela
Triste, de cera amarela,
Tremia na escuridão.

Apenas nascera o dia,
À voz do maridedia
Saltei contente de pé.
Cantavam os passarinhos
Que fabricavam seus ninhos
No telhado de sapé.

Porém tu, por que dormias,
Por que já não me dizias
"Filha do meu coração?"
Stavas aflita comigo?
Mãe, abracei-me contigo,
Pedi-te embalde perdão...

Chorei muito! ai triste vida!
Chorei muito, arrependida
Do que talvez f iz a ti.
Depois rezei ajoelhada
A reza da madrugada
Que tantas vezes te ouvi:

"Senhor Deus, que após a noite
"Mandas a luz do arrebol,
"Que vestes a esfarrapada
"Com o manto rico do sol,

"Tu que dás à flor o orvalho,
"Às aves o céu e o ar,
"Que dás as frutas ao galho,
"Ao desgraçado o chorar;

"Que desfias diamantes
"Em cada raio de luz,
"Que espalhas flores de estrelas
"Do céu nos campos azuis;

"Senhor Deus, tu que perdoas
"A toda alma que chorou,
"Como a clícia das lagoas,
"Que a água da chuva lavou;

"Faze da alma da inocente
"O ninho do teu amor,
"Verte o orvalho da virtude
"Na minha pequena flor.

"Que minha filha algum dia
"Eu veja livre e feliz! ...
"Ó Santa Virgem Maria,
"Sê mãe da pobre infeliz."

Inda lembras-te! dizias,
Sempre que a reza me ouvias
Em prantos de a sufocar:
"Ai! têm orvalhos as flores,
"Tu, filha dos meus amores,
"Tens o orvalho do chorar".

Mas hoje sempre sisuda
Me ouviste... ficaste muda,
Sorrindo não sei pra quem.
Quase então que eu tive medo...
Parecia que um segredo
Dizias baixinho a alguém.

Depois... depois... me arrastaram...
Depois... sim... te carregaram
Pra vir te esconder aqui.
Eu sozinha lá na sala...
Stava tão triste a senzala...
Mãe, para ver-te eu fugi...

E agora, ó Deus!... se te chamo
Não me respondes!... se clamo,
Respondem-me os ventos suis...
No leito onde a rosa medra
Tu tens por lençol a pedra,
Por travesseiro uma cruz.

É muito estreito esse leito?
Que importa? abre-me teu peito
— Ninho infinito de amor.
— Palmeira — quero-te a sombra.
— Terra — dá-me a tua alfombra.
— Santo fogo — o teu calor.

Mãe, minha voz já me assusta...
Alguém na floresta adusta
Repete os soluços meus.
Sacode a terra... desperta!...
Ou dá-me a mesma coberta
Minha mãe... meu céu... meu Deus...

Boa Noite

Veux-tu donc partir? Le jour est encore éloigné:
Cétait le rossignol et non pas lalouette,
Dont le chant a frappé ton oreílle inquiète;
Il chante Ia nuit sur les branches de ce granadier
Crois-moi, cher ami, cétait le rossignol.

Shakespeare

Boa noite, Maria! Eu vou,me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde. .
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite! ... E tu dizes - Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos!

Julieta do céu! Ouve... a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti? ... pois foi mentira...
Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-dalva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo dalvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua. . .

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores.
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora. . .
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa noite! — formosa Consuelo.

São Paulo 27 de agosto de 1868

Castro Alves (Curralinho [Castro Alves] BA, 1847 – Salvador BA, 1971) viveu na Bahia até 1862, quando mudou-se para Recife, onde iniciou, em 1864, os estudos na Faculdade de Direito. Em Recife ele publicou seu primeiro poema, Destruição de Jerusalém, fundou uma sociedade abolicionista, com Rui Barbosa, e se apaixonou pela atriz portuguesa Eugênia Câmara, para quem escreveu a peça Gonzaga ou a Revolução de Minas. Em 1867 a peça estreou em Salvador, trazendo consagração ao poeta e à atriz. No ano seguinte, Castro Alves, então no Rio de Janeiro, a leria para José de Alencar, que o apresentaria a Machado de Assis. No mesmo ano, 1868, o poeta chegou a São Paulo, onde continuou seus estudos de Direito. Na sessão magna promovida pela faculdade para comemorar a independência do Brasil, ele declamou pela primeira vez o poema Navio Negreiro. Seu único livro publicado em vida foi Espumas Flutuantes (1870). Pertencente à última geração romântica, Castro Alves cantou o amor e a mulher de forma sensual e inovadora, mas é por sua poesia de temática social, que denuncia a escravidão e as desigualdades de classe, que é considerado um dos maiores e mais populares poetas brasileiros.
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Castro Alves x Crisópolis | Oitavas de Final do Intermunicipal 2023 - Itatim News
A 3ª Geração do Romantismo - Castro Alves - O Navio Negreiro
pedro
alguém pode me ajudar?
28/abril/2021
pedro
A poesia de caráter político-social de Castro Alves é marcada pela grandiloquência e pela oratória inflamada. Para traduzir o movimento de forças que se opõem, o poeta faz uso exagerado das antíteses. destaque, do poema, três exemplos dessa figura de linguagem.
28/abril/2021
Pedro
tem alguém ai?
28/abril/2021
Joao
Este poema LINDOOOO
12/março/2021
Jéssica Passos
Castro Alves nasceu as cabeceiras, na margem, do rio Paraguaçu, na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu.
01/março/2021
Jéssica Passos
A fazenda Cabaceiras, localiza-se na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu -BA e não na cidade Castro Alves.
01/março/2021
Felícia Sales
sou da cidade natal de castro alves e tenho uma admiração imensa por ele adoro os poemas dele!!!
20/janeiro/2021
Echos Rodrigues
Lindo demais... Toda uma história em apenas um poema... Maravilha...
29/dezembro/2020
.........
.
05/novembro/2020
Isadora
Maravilhoso
05/novembro/2020
M
Junho de 1865
26/junho/2020
...
Alguém sabe qual foi o ano de publicação??
13/maio/2020
..
Qual foi o ano ?
07/maio/2020
ALTAIR CASCAES
hÁ QUE TER MAIS CUIDADO QUANDO TRANSCREVER O POEMA DO CASTRO ALVES, POIS NO SEGUNDO QUARTETO VOCÊ ESCREVE : ó NOITE CÚMPLICE! NOITE DE MAIOR, não, não é maior é MAIO
05/maio/2020
Kenji
De q ano é a obra?
05/maio/2020
Romilson Damaceno
Pensamento de Amor, uma obra prima desse gênio do romantismo brasileiro, leiam também Gesso e Bronze que ele escreveu para Agnese, sua última paixão.
25/março/2020
Joana Darc
Amo todos os poemas dele!
10/janeiro/2020
pedro
maravilhoso
08/novembro/2019
Mickeilla🍃🍃
Uai
11/outubro/2019
Mickeilla
Ele viveu por 24 anos apenas??
11/outubro/2019
lale
top
09/outubro/2019
Gilvana Dias
Castro Alves nasceu na Fazenda Cabaceiras, freguesia de Muritiba, hoje Cabaceiras do Paraguacú-Bahia. Quem morava em Curralinho era a mãe dele antes de casar.
09/agosto/2019
Talita de Menezes Cerqueira
Castro Alves nasceu em Cabaceiras do Paraguaçu, na época era um pequeno distrito da cidade de Muritiba-BA.
10/março/2018

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