Alguns Poemas
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Na sequência da sua temporã adesão à militância republicana, funda no Porto, em plena juventude, os jornais O Norte Republicano, O Combate, Estado do Norte, etc. Datam de então as suas primeiras manifestações literárias, aliás de espírito diverso: A Velhice da Madre Eterna, paródia de sucesso ao livro de Junqueiro, e Apoteose Camoniana, que se assemelha a uma versão sintética de Campos Júnior em oito sonetos introduzidos por poema em sextilhas. Em 1885 dá o passo decisivo da sua vida, instalando-se em Paris. Torna-se logo colaborador de Mariano Pina em A Ilustração e correspondente de A Província, portuense, e do Diário Popular de São Paulo; depois escreverá sempre para numerosos jornais e revistas, ganhando relevo em certos períodos as suas crónicas para O Século ou as «Cartas de Paris» que, sob o pseudónimo de Octávio Mendes, enviará para O Mundo. Ao mesmo tempo estabelece relações nos meios políticos progressistas e nos círculos literários. Ao lado do possibilista B. Malon e do deputado italiano A. Cipriani, é um dos fundadores da Fédération Universelle des Peuples, de feição socializante; franco-mação, figura no comité director da revista Révolution Cosmopolite (1886-1887); representante oficial em Paris do P. R. P., nessa qualidade percorre a França, a Itália, a Alemanha, a Bélgica, a Suíça, discursa em 1890 em Madrid, etc. Por outro lado, está então em condições de, com os seus artigos na imprensa portuguesa, contribuir para a renovação literária do nosso fim-de-século; e no mesmo sentido actuam, quase só pelo carácter ostensivamente insólito da sua temática, os poemas que então começa a publicar. As «Crónicas de Paris» em A Província preparam, desde Setembro de 1886 e sobretudo nos finais de 1888, o caminho para a Boémia Nova (onde colaborará); na efervescência Coimbrã de 1889, o seu nome é brandido como um trunfo pelos contendores; em Paris, A. Baju, que tentou lançar o decadismo como movimento autónomo, elogia-o na revista Le Décadent (1886) e no opúsculo L' École décadente (1887). Também desde Setembro de 1886, com o poema «As anémicas» (em A Província), Xavier de Carvalho cria a reputação de «um dos introdutores, se não o primeiro introdutor e primeiro apóstolo do decadentismo em Portugal» (cf. A Ilustração, Maio de 1890). Na realidade, além de dispersa, a poesia de Xavier de Carvalho revelava-se também já incôngrua: em Março de 1889, o soneto «Simbólica», dedicado a Mallarmé, exemplificava em A Ilustração o abalo rebuscado da tentação sensual num sujeito ascético; logo em Maio, o poema «A Torre Eiffel» cantava a gestação de um novo e pujante mundo no seio do progresso técnico; em Setembro, na revista ilustrada coimbrã Jornal para Todos, o soneto «As impuras» dissolvia a potencial visão baudelairiana da cortesã na sentimental lamentação da venalidade da mulher desprotegida; em Maio de 1890, A Ilustração voltava a mostrar a faceta decadentista do estro incerto de Xavier de Carvalho, pois o soneto «A nevrose do gás» tentava dizer, na adjectivação e na sufixação de escola («histeriais flamas», «Luz lirial»), a modernidade psicológica da vida miasmada pelo tédio ou agitada pelo vício, a alternância de absinto e nevrose. Depois de alguns anos em que está ausente dos principais periódicos novistas, Xavier de Carvalho volta à ribalta literária, em A Arte (Porto), de 1898: com o lesbianismo do poema «Na alcova de Safo» ilustrava ele o gosto epocal pela temática da anomalia erótica; e, por seu turno, a revista propagandeava-lhe a «técnica bizarra» e a dilecção por «assuntos escabrosos», que em breve deveriam ser consagrados em livro «dum decadentismo refinado». Entretanto, não descora o seu papel de catalisador das ligações culturais entre a França e Portugal: dinamiza nos últimos anos do século XIX comemorações públicas e colabora em homenagens (livros, revistas) a João de Deus, a Garrett, a Eça; há indícios de haver redigido, por essa altura, um estudo das relações que a geração de 90 estabelecera com a vida literária francesa; em 1900 surge como um dos co-autores do volume panorâmico Le Portugal, editado pela Larousse. Funda e anima, como secretário-geral, a Société d' Études Portugaises, dedicada ao ensino da língua pátria; no âmbito dessa associação, faz sair, com o visconde de Faria, uma revista bilingue paralela à Exposição Internacional de Paris (1900) – Le Portugal à l' Exposition; mais tarde (1909-1910), a mesma parceria lança a revista Latina. Entretanto, o poeta não fora de todo submerso em Xavier de Carvalho e em 1908 decide recolher os poemas dispersos ou inéditos, publicando o volume Poesia Humana, encerrado por uma «Nota» que reivindica (com alguns equívocos) a sua importância para o esteticismo finissecular. Poesia Humana é obra de facto representativa, mas justamente como heteróclito e quase sempre apagado registo dos vários pendores, atardamentos, avanços e malogros da poesia portuguesa nos últimos lustros de Oitocentos. Muitas das suas composições relevam afinal daquele tenaz veio de sub-romantismo feito de idealização convencional e de transposição litúrgica da pulsão amorosa – em consonância com uma poética expressivista de matriz mussetiana («Serviu-me de tinteiro o coração!»). Outros poemas inflectem para um decadentismo de nítida inspiração cosmopolita, na linha dos motivos atrás referidos; destaque-se, todavia, o significado dos «Versos para o duque Jean des Esseintes», por fixarem bem a condição humana da crise decadentista. Finalmente, outros tantos poemas reflectem a percepção da nova discursividade lírica e da nova imagística trazidas por Cesário Verde e exemplificam a sua assimilação no quadro do neo-romantismo vitalista («O rebelde»), quer na euforia sensual («As papoulas», «Em plena vida», «Epopeia do verde», «Os teus seios de neve»...), quer no humanitarismo jacobino («Nuova Gerusalemme Liberata»), quer na faceta mais prospectiva de exaltação prometeica do trabalho e da técnica («A forja», «A Torre Eiffel»). Com a eclosão da Primeira Grande Guerra Xavier de Carvalho surge no centro da propaganda beligerante, porta-voz dos nossos republicanos francófilos; organiza festas em honra dos voluntários da Legião, desdobra-se em artigos e palestras, vindo mesmo a Portugal em Janeiro de 1917 proferir conferências, como Pela França Heróica, Portugal Amigo e Aliado (depois publicada com prefácio de Sebastião de Magalhães Lima); mas o maior tributo que paga à pátria adoptiva é a vida do filho Rafael, morto em 1915 na Batalha do Marne. Marcando-lhe assim os derradeiros anos da vida, o conflito europeu fá-lo retomar à criação poética: Cantos Épicos da Guerra (1918). Breve colectânea, que maioritariamente retoma, em alexandrinos violentos e baços, a poesia de exaltação e combate à maneira do Junqueiro e do Gomes Leal presentes em testemunhos preambulares, os Cantos Épicos da Guerra distinguem-se, todavia, por três composições de assimetria estrófica e de heterometria que vão desde a bela transfiguração expressionista de «Os campos de batalha» à glorificação histórica de «Portugal em Verdun», passando pelo quase futurismo de «Aeroplanos em plena noite» (onde a fascinação perante a força e a beleza dos frutos da inventiva técnica dá prossecução ao vector verhaereniano de Poesia Humana).