MARIA DE FATIMA FERREIRA RODRIGUES

MARIA DE FATIMA FERREIRA RODRIGUES

Sou um ser humano em constante construção. Me sinto parte da natureza e a ela vinculada no sentido material e imaterial. Gosto de lidar com as palavras construindo e desconstruindo castelos. Portanto, escrevo como um exercício de compreensão de mim e do mundo.

1957-12-21 Farias Brito - Ceará
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Alguns Poemas

A ira sem compaixão

A ira sem compaixão 

Segurei a caneta como se fosse amolá-la e o papel como se fosse uma pedra.  Pensei na pedra, sobre a pedra e com a pedra: rocha impenetrável que me ocupava mentalmente. Insisti em enfrentar  a rocha mais dura, só para treinar a minha resistência.  Como seria escrever na pedra quando nos acostumamos a escrever  em belos e variados papéis e, sobretudo, na tela? 
A escrita me possuiu. 
Pensei em suar sobre a palavra, em moldá-la com formas e grafias para somente depois acariciá-la. 
- Carinho a vir ?
- Sim!
Pensava que, depois do esforço para demarcar um episódio  tão cruel, a 
brisa  soprada sobre o pó desnudaria as letras, os sons, os sentidos, a ideia.
Um ato assim, violentamente amoroso, me possuia  e me empurrava a traduzir as dores, a ausência, o desamparo.  a guerra.
Bombardeios, crianças desnudas, sangue jorrando, a fome doendo e na memória, não só na minha, na memória coletiva, assomaria o talmud, o torá, o hezbollah, o semitismo, o antissemitismo, o cristianismo e  as explosões de ira. 
-De ondevirá  tanta ira? 
Lembrei de Aquiles e da sua ira, de sua dor diante do cadáver de Patroclus, lembrei, também, da sua brutalidade incontrolável, sem esquecer da sua compaixão diante da dor do rei Príamo, que ansiava por dar um funeral digno ao seu filho Heitor. 
- E nós? Ainda temos compaixão?!
- Que mundo pensamos para nós e para os que virão?
Que os tiranos cessem com a sua ira sobre a Palestina para ceder lugar à vida e a paz.

Fátima Rodrigues.
 Expedicionários. João Pessoa. Paraiba, Brasil.  10 de novembro
de 2023.

A Terceira Via “à direita”


A Terceira Via sentada em berço esplêndido, combina submissão e alienação à direita de todas as situações;

A Terceira Via ignora as veias abertas e sangrentas do Brasil na pandemia;

A Terceira Via ignora até mesmo cenas que no carnaval promovem os cortes-reais, quando vidas negras são negligenciadas nas alturas de modernos edifícios, expressão e ápice do racismo estrutural;

A Terceira Via esconde de si as mulheres e nega-lhes a política, deixando ao seu encargo o sangue escorrendo por suas virilhas, enquanto o presidente veta a lei e vocifera: segurem suas veias, estômagos e ventres!

A Terceira Via ignora os inocentes ardendo em febre e fome,  enquanto esses famélicos esperam os céus dos evangélicos e concordam com os católicos negacionistas;

A Terceira Via desconhece as famílias unidas nos cruzamentos urbanos, com suas placas encardidas, a nos lembrarem da crua miséria humana;

A Terceira Via é o leite e o pão de cada dia entregues em fartas cotas ao agro pop no Congresso Nacional, e se “à direita” em todas as estações e dias do ano;

A Terceira Via agrega bilionários arrumadinhos que sonham em colonizar Marte, para não ouvir os ecos dos tiros das favelas, e às escondidas higienizam suas mãos sujas de sangue;

A Terceira Via tenta roubar a cena da luta dos trabalhadores contra a mentira, golpes de consciência desfechados por diferentes linguagens nas Ditaduras: ecos do Auto do Frade, o Frei Caneca, executado nos teatros das salas de aula, narrativas como Os Sertões sobre a destruição de Canudos casa a casa, e filmes como Mariguella, enredo de um militante executado em via urbana;

A Terceira Via esmaga - sob o jugo do capataz da vez no Congresso Nacional -, a memória da Guerra dos Bárbaros, enquanto avança em territórios indígenas com toda a sua boiada;

A Terceira Via oculta, com suas potentes mídias, as mãos solidárias das periferias posicionadas em defesa dos que tombaram em prol da Reforma Agrária, e de Mariele Franco, executada no Brasil, e em Paris homenageada;

A Terceira Via legítima a Necropolítica fascista de todos os dias, mantida pelas milícias-militantes-militares do Estado;

Sentados na precária invenção da Terceira Via os ricos dizem-se sem liberdade para respirar ar puro, e reclamam da opressão em seus carros blindados, helicópteros, heliportos, enquanto gravitam assombrados com as hélices giratórias dos seus pesadelos em noites insones;

Estão os ricos acuados pelas imagens de famílias pobres e confinadas em sua horrível miséria, por idosos- fantasmas e suas famílias piedosas, todos a clamarem por justiça em depoimentos na CPI da Covid 19;

Os ricos do Brasil engasgados com a própria comida - que regurgita em suas estreitas gargantas, em seus estômagos azedos, nas suas bocas sedentas de moedas-, são espectros harmonizados por cirurgias sem-fim, e navegam em busca do desfiladeiro da Terceira Via, sua grande esperança de redenção, Via que os manterão no mesmo lugar, no conforto do seus bankers, ressecados e retesados pelos marca-passos dos dólares, e dos paraísos monetários, confinados e alimentados pelos grilhões insanos da miséria humana.

Será mesmo essa a nossa via?
Fàtima Rodrigues,
João Pessoa, 15 de novembro de 2021
Sou um ser humano em constante construção. Me sinto parte da natureza e a ela vinculada no sentido material e imaterial. Gosto de lidar com as palavras construindo e desconstruindo castelos. Portanto, escrevo como um exercício de compreensão de mim e do mundo. Além de escrever e ler gosto de cinema, de música e de praticar jardinagem. Sou mãe e essa é uma experiência de vida que me fascina e desafia permanentemente.
https://www.facebook.com/faatimarodrigues
faatimarodrigues@yahoo.com.br
Tatiane Viegas
Parabéns! É muito bonito.
30/dezembro/2020
Helder Roque
Gostei imenso.
16/dezembro/2020
Helder Roque
Belissimo poema.
12/dezembro/2020
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lagazaz
Belos versos
27/julho/2020
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jeiancoski
Achei muito lindo!
02/julho/2020

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