Helio Valim

Helio Valim

Alguém interessado em usar a poesia como uma crônica poética do cotidiano, com realismo e imaginação. Possuo mais de 30 anos no magistério superior tendo lecionado em Instituições de Ensino no Rio de Janeiro.

1959-10-03 Rio de Janeiro
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Seu cheiro de tangerina (Miniconto)

Meu nome é João, um jovem brasileiro, que foi pesquisar a cultura do norte da África, um amante de civilizações antigas. Entre uma civilização e outra, apaixone-me por Isis. Uma linda colega de curso de história na Universidade que frequentava.

Ela, sem que eu soubesse, era filha do líder religioso local. Certo dia, voltando do curso, o pai da garota encontrou-nos, juntos, abraçados.

Não falando a língua portuguesa, começou  discutir em espanhol, língua que dominava devido à ligação com a península Ibérica, através de Gibraltar no Mediterrâneo, e, transtornado, repetia sem parar: “Mira con los ojos no con las manos” ou “Olha com os seus olhos, não com as suas mãos”.

Sem a intensão de ser irônico, mas correndo algum risco, respondi: “En la verdad no. El contemplar completo involucra todos los sentidos. Visión, sentido de escucha, olfato, tacto y el sentido del gusto.” 
Ou seja, “Na verdade, não. A contemplação plena envolve todos os sentidos. Visão, audição, olfato, tato e paladar”.

Só, mais tarde, percebi o quanto minha petulância e insensatez o incomodou. O pai de Isis, não se conformando com a situação, retirou-a da Universidade e proibiu-a de ter qualquer relação comigo.

Confirmando a minha opinião, sobre aqueles cuja profissão de fé é castrar o sentimento dos outros e em nome de uma santa moralidade impõem burcas sobre a humanidade, crendo preservar a castidade.

Apesar de toda a pressão, nos encontramos na casa de um amigo, que aceitou ser nosso álibi. Cada momento compartilhado era intenso e nada mais importava. 

“Bastava a candura do seu olhar
para expor o contato já denunciado
no aroma de tão doce menina,
a impactar e envolver meu olfato
com seu cheiro de tangerina.”

Os encontros clandestinos continuaram até o meu retorno ao Brasil, com o fim dos estudos. Continuamos em contato, por algum tempo, mas a distância e a vida foram esvanecendo desejos “muy calientes” e os nossos caminhos seguiram seus rumos.

Hoje, já não tão jovem, quando recordo esse tempo, lembro-me com saudade do “aroma de tão doce menina, com seu cheiro de tangerina”.
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