LAGO AVISA TUPÃ [Manoel Serrão]
[Dedico-o ao poeta-amigo e irmão de poesia João Batista do Lago]
Ó rio gesta uterina nascente... Água das serras vertente que medra limpa.
Ó rio parido, remanso valente, serpentina rio cortante e corrente.
Ó rio calmaria silente que a verde mata ciliar eterno em seu colo o aninha, ó rio semente.
Ó flúmen rio cristalino... Diarreico que à escansão separa onde o verbo de ondulado a suave a pouco o fizera.
Há em ti um rio que enche a casa de luz como aqueles ribeiros versos do poeta;
Há em ti um rio vivente que o traga de fora para dentro d’alma.
Há em ti um rio de tudo! O chão, o mar, sagrado com os teus ossos a poeira da Terra num tempo qualquer que não conta...
Há em ti um rio onde o ralo estropiado d’um só gole bebera a penúltima sílaba tônica da tua várzea e quase o secara.
Há em ti um rio-mor, o Riomar... Ó raio Tupi o lamento! Avisa Tupã: “o alto alui sem asa e o médio veio abaixo navegar sem água”.
Há em ti um rio calhau aluvião assoreado de suas calhas; rio rimado “sujo” are no perene açodado.
Há em ti um rio barro-argiloso “poesia” das encostas desmatadas; um rio dos socorros nós...
O “mar” aquém da foz corrente que aspira à vida a se fazer voz.
Mas onde apascentas? Mas onde descansas?
Ó Rio redivivo como os verbos possíveis acuram passantes nas águas dos mares...
Rio Chuá... Chuá...
Rio doce coração valente onde a bravura não desertou, ó “oceano d’alma sozinha”... Ó Poesia de acreditar no contrário do que a fé lhe impõe, teus canhões berram fogo.
Nunca morrerás por teres vivido.
...
[Faz-nos saber, ó tu a quem m’alma reclama].
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