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Jabuti 2017

Alguns Poemas

Os amigos

1.
Os amigos se encontram tantos anos depois,
os amigos começam a acreditar que os anos
não passaram de certa forma não passaram
ou que o passado está ali tão fácil entrar no
seu círculo encantado os amigos estão maravilhados
com isso e querem marcar outro encontro
os amigos voltam para casa pensando nisso

2.
Um dos amigos tem três lojas de móveis
um dos amigos tem uma loja de roupas
um dos amigos tem dois filhos
um dos amigos também tem dois filhos
os filhos de um dos amigos ainda estão
meio perdidos com suas escolhas profissionais
os filhos de um dos amigos já estão se formando
em medicina no final deste ano
o amigo quer fechar as três lojas de móveis
quando os filhos se formarem
o amigo quer abrir uma loja de
relógios relógios são mercadorias
mais fáceis do que armários modulados
e têm também mais valor agregado
o amigo pai dos filhos que ainda não se
formaram acha que tem ainda muito que trabalhar
os amigos só compram carros com airbags
os amigos moram em casas muito confortáveis
têm muitas histórias do comércio para contar

3.
A amiga é professora de português para
sobreviver
a amiga tem sobrevivido
o que falta aos amigos
não falta à amiga
a amiga tem tempo de sobra
embora seu tempo não sobre nunca
a amiga sempre precisa de
mais tempo
a amiga falou vagamente
nisso
O melhor da noite
foi que ela adorou
as histórias
do comércio

4.
Os amigos prometeram que não demorariam
trinta anos para se encontrar ademais os amigos
sabem que não terão todo esse tempo
os amigos já começam a fazer os cálculos do tempo
razoável que lhes resta e talvez pensem vagamente
que esse desejo de rever esses amigos faça parte
de um desejo de dar passos atrás de arrastar
o tempo para trás ou é possível que pensem
sem muita clareza que há ilhas poças largos
um pequeno enclave ou algo como dobras do tempo
aonde a morte parece não chegar os amigos quando
se encontram de certo modo visitam algo que parece
viver sem a sua presença que parece não depender
mais deles como os filhos que não param de crescer
Simone Brantes nasceu em Nova Friburgo-RJ.

É autora de três livros de poemas: Pastilhas brancas (1999), O caminho de Suam (2002) e Quase todas as noites (2016), que recebeu em 2017 o Prêmio Jabuti.

Publicou poemas em vários jornais e revistas e participou de várias antologias, como as recém-publicadas Simultâneos pulsando – uma antologia da poesia fescenina brasileira e O nervo do Poema.
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