TENTAME

e entre nós e as palavras, o nosso querer falar
                                                                                                                                          M. Cesariny

não havia palavra que coubesse
na carícia que os dedos fazem nas cordas
palavra que frutificasse ao falar
do deserto

um instrumento desafinado
que arranha a plenitude do lago
que quase inexiste
traz uma dor desconcebível e úmida
de dia frio                 de voz rachada     
de sobreavisos

não havia palavra que se aproximasse
da carícia feita nas cordas deste instrumento inabitado
e a voz desconjuntada se esforçava para trazer
a manhã de volta

eu permeável pudesse nesta giga saber
que uma aridez ternária jamais não dói
não esboça certeza nem parelha
é arrítmica esta inquietação de perfumes abandonados

voz subsistida no som das carícias
nas horas eriçadas                na suspensão


e eu aqui querendo que a palavra que fala
não seja só
o próprio deserto
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