Vicente de Carvalho

Vicente de Carvalho

Vicente Augusto de Carvalho foi um advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro.

1866-04-05 Santos, São Paulo, Brasil
1924-04-22 São Paulo
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Prémios e Movimentos

Parnasianismo

Alguns Poemas

Folha Solta

Eis o ninho abandonado
Dos sonhos do nosso amor...
É o mesmo o chão onde oscila
A mesma sombra tranquila
Dos arvoredos em flor.

É o mesmo o banco de pedra
Onde assentados nós dois
Falamos de amor um dia...
Lembras-te? Então, que alegria!
E que tristeza depois!...

Falamos de amor... E sobre
Minh'alma arqueava-se o azul
Do teu olhar transparente
Como o céu alvorecente
Das nossas manhãs do sul.

Quanta loucura sonhamos!
Quanta ilusão multicor!
Quanta risonha esperança
Nessas almas de criança
Iluminadas de amor!

.........................

Quando eu partia, choramos...
Toda a alma se me desfez.
Cada lágrima caída
Era uma folha da vida
Que eu desfolhava a teus pés.

Então amávamos tanto!
Tanto esquecemos após!
E de minh'alma, alto e doce,
Foi-se afastando... e calou-se
O último som de tua voz...

Passaram-se os anos — sombras
Que iam crescendo em redor
Daquele sol afundado
Nos abismos do passado:
— A estrela do nosso amor.

Hoje volto... É tudo o mesmo
Que quando amamos aqui:
Sombra, pássaros, fragrância,
Tudo me fala da infância,
Tudo me fala de ti.

Abril desenrola em torno
Seu esplendor festival;
Tudo é júbilo... No entanto
Não mesclas teu doce encanto
A este encanto matinal.

Não voltas, pomba emigrante,
Ao ninho de onde se ergueu
Teu vôo, abrindo caminho
Em busca de um outro ninho
Sob o azul de um outro céu...

Encontro o ninho deserto;
Volto, o seio imerso em dor,
Em pranto os olhos submersos...

............................

E aqui deixo nestes versos
o último sonho de amor.


Publicado no livro Ardentias (1885).

In: CARVALHO, Vicente de. Versos da mocidade. Porto: Chardron, 191

Palavras ao Mar

Mar, belo mar selvagem
Das nossas praias solitárias! Tigre
A que as brisas da terra o sono embalam,
A que o vento do largo erriça o pêlo!
Junto da espuma com que as praias bordas,
Pelo marulho acalentada, à sombra
Das palmeiras que arfando se debruçam
Na beirada das ondas — a minha alma
Abriu-se para a vida como se abre
A flor da murta para o sol do estio.

Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras;
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
E as leves garças, como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o vôo à tona das espumas...

É o tempo em que adormeces
Ao sol que abrasa: a cólera espumante,
Que estoura e brame sacudindo os ares,
Não os sacode mais, nem brame e estoura;
Apenas se ouve, tímido e plangente,
O teu murmúrio; e pelo alvor das praias,
Langue, numa carícia de amoroso,
As largas ondas marulhando estendes...

Ah! vem daí por certo
A voz que escuto em mim, trêmula e triste,
Este marulho que me canta na alma,
E que a alma jorra desmaiado em versos;
De ti, de ti unicamente, aquela
Canção de amor sentida e murmurante
Que eu vim cantando, sem saber se a ouviam,
Pela manhã de sol dos meus vinte anos.

Ó velho condenado
Ao cárcere das rochas que te cingem!
Em vão levantas para o céu distante
Os borrifos das ondas desgrenhadas.
Debalde! O céu, cheio de sol se é dia,
Palpitante de estrelas quando é noute,
Paira, longínquo e indiferente, acima
Da tua solidão, dos teus clamores...

Condenado e insubmisso
Como tu mesmo, eu sou como tu mesmo
Uma alma sobre a qual o céu resplende
— Longínquo céu — de um esplendor distante.
Debalde, ó mar que em ondas te arrepelas,
Meu tumultuoso coração revolto
Levanta para o céu, como borrifos,
Toda a poeira de ouro dos meus sonhos.

(...)

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Publicado no livro Poemas e Canções (1908).

In: CARVALHO, Vicente de. Poemas e canções. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 196

A Ternura do Mar

No firmamento azul, cheio de estrelas de ouro
Ia boiando a lua indiferente e fria...
De penhasco em penhasco e de estouro em estouro,
Embaixo, o mar dizia:

"Lua, só meu amor é fiel tempo em fora...
Muda o céu, que se alegra à madrugada, e pelas
Sombras do entardecer todo entristece, e chora
Marejado de estrelas;

Ora em pompas, a terra, ora desfeita e nua
— Como a folha que vai arrastada na brisa —
Aos caprichos do tempo inconstante flutua
Indecisa, indecisa...

Desfolha-se, encanece em musgos, aos rigores
Do céu mostra a nudez dos seus galhos mesquinhos,
A árvore que viçou toda folhas e flores,
Toda aromas e ninhos:

Cóleras de tufão, pompas de primavera,
Céu que em sombras se esvai, terra que se desnuda,
A tudo o tempo alcança, e a tudo o tempo altera...
— Só o meu amor não muda!

Há mil anos que eu vivo a terra suprimindo:
Hei de romper-lhe a crosta e cavar-lhe as entranhas,
Dentro de vagalhões penhascos submergindo,
Submergindo montanhas.

Hei de alcançar-te um dia... Embalde nos separa
A largura da terra e o fraguedo dos montes...
Hei de chegar aí de onde vens, nua e clara,
Subindo os horizontes.

Um passo para ti cada dia entesouro;
Há de ter fim o espaço, e o meu amor caminha...
Dona do céu azul e das estrelas de ouro,
Um dia serás minha!

E serei teu escravo... À noute, pela calma
Rendilharei de espuma o teu berço de areias,
E há de embalar teu sono e acalentar tua alma
O canto das sereias.

Quando a aurora romper no céu despovoado,
Tesouros a teus pés estenderei, de rastros...
Ser amante do mar vale mais, sonho amado,
Que ser dona dos astros.

Deliciando-te o olhar, afagando-te a vista,
Todo me tingirei de mil cores cambiantes,
E abrir-se-á de meu seio a brancura imprevista
Das ondas arquejantes.

Levar-te-ei de onda e monda a vagar de ilha em ilha,
Tranquilas solidões, ermas como atalaias,
Onde o marulho canta e a salsugem polvilha
A alva nudez das praias.

Ao longe, de repente assomando e fugindo,
Alguma vela, ao sol, verás alva de neve:
Teus olhos sonharão enlevados, seguindo
Seu vôo claro e leve;

Sonharão, na delícia indefinida e vaga
De sentir-se levar sem destino, um momento,
Para além... para além... nos balanços da vaga,
Nos acasos do vento.

(...)

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Publicado no livro Poemas e Canções (1908).

In: CARVALHO, Vicente de. Poemas e canções. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 196

Fugindo ao Cativeiro

III

(...)

A caravana trôpega e ansiosa
Chega ao tope da Serra...
O olhar dos fugitivos
Descansa enfim na terra milagrosa
Na abençoada terra
Onde não há cativos.

Embaixo da montanha, logo adiante,
Quase a seus pés, uma planície imensa,
Clara, risonha, aberta, verdejante:

E ao fundo do horizonte, ao fim da extensa
Macia várzea que se lhes depara
Ali, próxima, em frente,
Esfumadas na luz do sol nascente,
As colinas azuis do Jabaquara...

O dia de ser livre, tão sonhado
Lá do fundo do escuro cativeiro,
Amanhece por fim, leve e dourado,
Enchendo o céu inteiro.

Uma explosão de júbilo rebenta
Desses peitos que arquejam, dessas bocas
Famintas, dessa turba macilenta:

Um borborinho de palavras loucas,
De frases soltas que ninguém escuta
Na vasta solidão se ergue e se espalha,
E em pleno seio da floresta bruta
Canta vitória a meio da batalha.

(...)

Descem rindo, a cantar... Seguem, felizes,
Sem reparar que os pés lhes vão sangrando
Pelos espinhos e pelas raízes;
Sem reparar que atrás, pelo caminho
Por onde fogem como alegre bando
De passarinhos da gaiola escapo
— Fica um pouco de trapo em cada espinho
E uma gota de sangue em cada trapo.

Descem rindo e cantando, em vozeria
E em confusão. Toda a floresta, cheia
Do murmúrio das fontes, da alegria
Deles, da voz dos pássaros, gorjeia.
Tudo é festa. Severos e calados,
Os velhos troncos, plácidos ermitas,
Os próprios troncos velhos, remoçados,
Riem no riso em flor das parasitas.

Varando acaso às árvores a sombra
Da folhagem que à brisa arfa e revoa,
Na verde ondulação da úmida alfombra
O ouro leve do sol bubuia à-toa;
A água das cachoeiras, clara e pura,
Salta de pedra em pedra, aos solavancos;
E a flor de S. João se dependura
Festivamente à beira dos barrancos...

(...)

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Publicado no livro Poemas e Canções (1908).

In: CARVALHO, Vicente de. Poemas e canções. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 1965

NOTA: Poema composto de 4 parte
Vicente de Carvalho (Santos SP, 1866 - 1924) publicou seu primeiro livro de poesias, Ardentias, em 1885. No ano seguinte, formou-se bacharel na Faculdade de Direito de São Paulo SP. Na época, colaborou nos jornais O Patriota, A Idéia Nova, Piratini, O Correio da Manhã e A Tribuna. Foi membro do Diretório Republicano de Santos SP e participou na Boemia Abolicionista, encaminhando escravos fugitivos para o Quilombo Jabaquara. Candidatou-se a deputado provincial no Congresso Republicano, em 1887, em São Paulo. Em 1889 foi redator do Diário de Santos, e fundou o Diário da Manhã em Santos. Tornou-se Deputado no Congresso Constituinte do Estado em 1891, vindo a participar na Comissão Redatora da Constituinte. Entre 1894 e 1913 foi colaborador em O Estado de S. Paulo, sob o pseudônimo de João d'Amaia. Fundou O Jornal, em Santos, em 1905, e colaborou na Revista dos Educadores, em 1912. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1909. No período de 1914 a 1920 foi Ministro do Tribunal de Justiça do Estado, em Santos. Em 1924 publicou Luizinha, comédia em dois atos. Fazem parte de sua obra poética os livros Relicário (1888), Rosa, Rosa de Amor (1902), Poemas e Canções (1908), Verso e Prosa (1909), Páginas Soltas (1911) e Versos da Mocidade (1912). Vicente de Carvalho é um dos principais nomes da poesia parnasiana brasileira; em seus versos, tematizou com freqüência a natureza, principalmente o mar, alguns momentos da história brasileira e o amor.
COMÉRCIO DE VICENTE DE CARVALHO - GUARUJÁ-SP
Saudade | Poema de Vicente de Carvalho com narração de Mundo Dos Poemas
Vicente de Carvalho / Shopping Carioca / MADRUGADA RJ 😱😱
AV VICENTE DE CARVALHO DE MADRUGADA 😱😱😱
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Velho Tema I | Poema de Vicente de Carvalho com narração de Mundo Dos Poemas
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vts 01-1 prainha vicente de carvalho
pai cará . Vicente de carvalho .Guarujá
Guarujá já teve ferrovia que ligava Vicente de Carvalho a Praia das Pitangueiras
Vicente de Carvalho 2023 – Samba Oficial l TV SUPERLIGA
Dirigindo de Vicente de Carvalho até o centro do Guarujá sp.#guaruja #litoral #praias .
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Vicente de Carvalho 2020 Letra e Samba
tá sorridente de Vicente de Carvalho Guarujá!!!!
Poesia II (Do Velho Tema) | Poema de Vicente de Carvalho com narração de Mundo Dos Poemas
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Carnaval 2022: Mocidade de Vicente de Carvalho - Desfile Oficial
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31 - Vicente de Carvalho X Alvorada (Semi Direto)
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Vicente de Carvalho 2020
Vicente de Carvalho 2019 parte 02
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vicente de carvalho
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Vicente de carvalho
2005 Mocidade de Vicente de Carvalho GRUPO B
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