Viriato da Cruz

Viriato da Cruz

Viriato Francisco Clemente da Cruz foi considerado um importante impulsionador de uma poesia angolana, nas décadas de 1940, 1950 e 1960, e um dos líderes da luta pela libertação de Angola.

1928-03-25 Kikuvo, Porto Amboim, Angola
1973-06-13 Pequim, China
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Alguns Poemas

Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.
Poeta. Fez estudos liceais em Luanda e foi depois ali funcionário público. Fundador e primeiro secretário do MPLA, viu-se forçado a seguir os caminhos do exílio que o levaram por Portugal, França, Inglaterra e Suécia até à China, onde viria a falecer. Estreou-se na primeira revista Cultura, de Luanda, em 1950, tendo colaborado, depois, naquela cidade, em Mensagem (1952), no Jornal de Angola (1954 e 1960) e na segunda Cultura (1957). Tem poesia dispersa por outras publicações, nomeadamente: Mensagem, da Casa dos Estudantes do Império de Lisboa, O Comércio do Porto (suplemento «Cultura e Arte»), Itinerário, de Lourenço Marques (hoje Maputo) e revista de poesia Notícias do Bloqueio, do Porto. Está representado no caderno de Mário de Andrade e Francisco José Tenreiro, Poesia Negra de Expressão Portuguesa (Lisboa, 1953), na Antologia de Poesia Negra de Expressão Portuguesa, também de Mário de Andrade (Paris, 1958) e em numerosas antologias de poesia africana editadas em Portugal, Brasil, França, Argélia, Checoslováquia, Holanda, Quénia e Angola.
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