Charlanes Olivera Santos

Charlanes Olivera Santos

Sou Poeta, escritor 2 livros publicados, cineasta diretor de cinema amador, Enxadrista amador-pro jogo Xadrez, Estudo Frances, fui candidato a vereador em 2016, Presidente da ANJOS Associação Nacional dos Jovens Solidários, Trabalhei na Prosoft e Prefeitura da cidade

08/09/1992
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Liturgia do Tempo e do Fogo

Outrora, nas arcadas do firmamento ignoto,

verteu-se o mosto do tempo em ânforas de sombra,

e o vento, em súbita vertigem, arrastou consigo

o fulgor mineral das constelações dispersas.

Submerso no âmago dos pomares órficos,

o sangue solar cintilava em crisólitas ardentes;

o estio, em paroxismo de febre antiga,

devorava as nervuras da macieira hipostática.

O céu, em sua liturgia sideral,

concedia apenas instantes de clarividência.

As raposas ululavam nos meandros glaciais,

sob a tessitura espectral dos seixos numinosos.

Eis que os cavalos ígneos, em relinchos de eternidade,

transpunham os umbrais da estrebaria verdejante,

abrindo veredas para os campos heterofônicos

onde a luz se fazia verbo primordial.

O tempo órfico e inflexível

circundava o espaço em espirais de ouro,

e nas órbitas inefáveis da manhã,

a melodia abscôndita dos astros

se desvelava em cântico inaugural.

E tudo, em combustão mística,

feneceu no instante de sua própria origem:

o feno em labaredas, a noite em ascensão,

e o sol, em último clarão,

reencarnou na vastidão do ser.

Outrora, a seiva do outono verteu-se

nas videiras esquecidas,

e as folhas, em fulgor crepuscular,

recobriram o chão com brasas mansas.

Na colina, um eco de sinos dissolvia-se

no vento errante,

e o sangue da terra pulsava como cântico em transe.

Nos antanhos dos círculos insondáveis,

quando o éter ainda palpitava

em silêncio de cristal,

o vinho arcano dos céus verteu-se

em cálices de sombra,

e o fogo oculto gravou seu selo

nos ossos do tempo.

Ergueram-se colunas de névoa hierática,

pórticos da noite em combustão seráfica,

onde os astros, como lâminas apotropaicas,

rasgavam o véu da matéria

em arabescos de ouro negro.

As águas primevas recitavam cifras abissais;

cada seixo guardava o oráculo dos abismos,

e no sopro gélido das raposas estelares

ressoava o cântico interdito das constelações.

Eis que os corcéis ígneos das estrelas,

em relinchos de magma e aurora,

atravessaram os umbrais do não-ser,

trazendo consigo a música cifrada

do nascimento da luz elementar.

O tempo, em órbitas cabalísticas,

traçava mandalas de fogo sobre o espaço;

e nas suas esferas melódicas,

a manhã se erguia como hieróglifo ardente

de uma verdade jamais pronunciada.

Tudo era rito, e tudo era enigma:

o feno em pira votiva,

a treva em clarão litúrgico,

o sol em êxtase abscôndito.

E quando a eternidade se voltou para si mesma,

no instante inefável do retorno,

a aurora coroou os mundos ocultos

com o selo indecifrável do ser.

Suspenso, o firmamento vertia clarões azuis

sobre os vales imemoriais;

as estrelas, como lâminas antigas,

fendiam o véu da noite.

O tempo pássaro invisível

permitia que eu tocasse o silêncio

e me erguia em claridade.

Nas margens do rio secreto,

corriam os cavalos de fogo,

ardentes, exalando orvalho em cada relincho sagrado;

e o dia nascia de suas crinas

como aurora primeira.

A luz inaugural rasgava os campos

e devolvia-lhes a eternidade.

Eis que o vento, em sua órbita translúcida,

trazia cânticos remotos de abismos e marés,

e tudo fluía em círculo perfeito

as nuvens, o feno flamejante, o astro cansado

até que o sol, desfazendo-se em ouro,

voltou a ser o silêncio do princípio. 

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