

Charlanes Olivera Santos
Sou Poeta, escritor 2 livros publicados, cineasta diretor de cinema amador, Enxadrista amador-pro jogo Xadrez, Estudo Frances, fui candidato a vereador em 2016, Presidente da ANJOS Associação Nacional dos Jovens Solidários, Trabalhei na Prosoft e Prefeitura da cidade
Liturgia do Tempo e do Fogo
Outrora, nas arcadas do firmamento ignoto,
verteu-se o mosto do tempo em ânforas de sombra,
e o vento, em súbita vertigem, arrastou consigo
o fulgor mineral das constelações dispersas.
Submerso no âmago dos pomares órficos,
o sangue solar cintilava em crisólitas ardentes;
o estio, em paroxismo de febre antiga,
devorava as nervuras da macieira hipostática.
O céu, em sua liturgia sideral,
concedia apenas instantes de clarividência.
As raposas ululavam nos meandros glaciais,
sob a tessitura espectral dos seixos numinosos.
Eis que os cavalos ígneos, em relinchos de eternidade,
transpunham os umbrais da estrebaria verdejante,
abrindo veredas para os campos heterofônicos
onde a luz se fazia verbo primordial.
O tempo órfico e inflexível
circundava o espaço em espirais de ouro,
e nas órbitas inefáveis da manhã,
a melodia abscôndita dos astros
se desvelava em cântico inaugural.
E tudo, em combustão mística,
feneceu no instante de sua própria origem:
o feno em labaredas, a noite em ascensão,
e o sol, em último clarão,
reencarnou na vastidão do ser.
Outrora, a seiva do outono verteu-se
nas videiras esquecidas,
e as folhas, em fulgor crepuscular,
recobriram o chão com brasas mansas.
Na colina, um eco de sinos dissolvia-se
no vento errante,
e o sangue da terra pulsava como cântico em transe.
Nos antanhos dos círculos insondáveis,
quando o éter ainda palpitava
em silêncio de cristal,
o vinho arcano dos céus verteu-se
em cálices de sombra,
e o fogo oculto gravou seu selo
nos ossos do tempo.
Ergueram-se colunas de névoa hierática,
pórticos da noite em combustão seráfica,
onde os astros, como lâminas apotropaicas,
rasgavam o véu da matéria
em arabescos de ouro negro.
As águas primevas recitavam cifras abissais;
cada seixo guardava o oráculo dos abismos,
e no sopro gélido das raposas estelares
ressoava o cântico interdito das constelações.
Eis que os corcéis ígneos das estrelas,
em relinchos de magma e aurora,
atravessaram os umbrais do não-ser,
trazendo consigo a música cifrada
do nascimento da luz elementar.
O tempo, em órbitas cabalísticas,
traçava mandalas de fogo sobre o espaço;
e nas suas esferas melódicas,
a manhã se erguia como hieróglifo ardente
de uma verdade jamais pronunciada.
Tudo era rito, e tudo era enigma:
o feno em pira votiva,
a treva em clarão litúrgico,
o sol em êxtase abscôndito.
E quando a eternidade se voltou para si mesma,
no instante inefável do retorno,
a aurora coroou os mundos ocultos
com o selo indecifrável do ser.
Suspenso, o firmamento vertia clarões azuis
sobre os vales imemoriais;
as estrelas, como lâminas antigas,
fendiam o véu da noite.
O tempo pássaro invisível
permitia que eu tocasse o silêncio
e me erguia em claridade.
Nas margens do rio secreto,
corriam os cavalos de fogo,
ardentes, exalando orvalho em cada relincho sagrado;
e o dia nascia de suas crinas
como aurora primeira.
A luz inaugural rasgava os campos
e devolvia-lhes a eternidade.
Eis que o vento, em sua órbita translúcida,
trazia cânticos remotos de abismos e marés,
e tudo fluía em círculo perfeito
as nuvens, o feno flamejante, o astro cansado
até que o sol, desfazendo-se em ouro,
voltou a ser o silêncio do princípio.
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