Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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27
Um Para o Engraxate
o equilíbrio está nas lesmas escalando as
falésias de Santa Monica;
a sorte está em descer a Western Avenue
e acontecer que uma das garotas de uma casa
de massagem grite pra você “Alô, Doçura!”
o milagre está em ter cinco mulheres apaixonadas
por você aos 55 anos de idade,
e o bom de tudo é que você só é capaz
de amar uma delas.
o dom está em ter uma filha mais delicada
do que você é, cuja risada é mais bela
do que a sua.
a placidez está em ser capaz de dirigir um
Fusca 67 azul pelas ruas como um
adolescente, o rádio sintonizado no Apresentador que Mais Ama
Você, sentindo o sol, sentindo o sólido ronco
do motor retificado
enquanto você costura o tráfego
e deixa os mortos putos da cara.
a graça está em ser capaz de gostar de rock,
música sinfônica, jazz...
tudo que contenha o júbilo da energia
original.
e a matemática que retorna
é o profundo baixo-astral sob
você estendido sobre você
entre as paredes de guilhotina –
furioso com o som do telefone
ou com os passos de qualquer um passando;
e a outra matemática:
a iminente animação que se segue
fazendo com que os caras sentados nos bancos
junto aos carrinhos de taco
pareçam gurus
fazendo com que a garota do caixa no
supermercado pareça
Marilyn
ou Zsa Zsa
ou Jackie antes de pegarem seu amante de Harvard
ou a garota do ensino médio que
todos nós garotos seguíamos até em casa.
e a pureza que ajuda você a crer
em algo além da morte
é Sandy Hawley montando
cinco vencedores no Hollywood Park, cavalos fora de forma,
nenhum deles favorito,
ou alguém num carro que se aproxima de você
numa rua estreita demais,
e ele ou ela desvia de lado pra deixar você
passar, ou o velho lutador Beau Jack
engraxando sapatos
após ter torrado seu pé-de-meia todo
com festas
com mulheres
com parasitas,
cantarolando, soprando no couro,
mandando ver com o trapo,
olhando pra cima e dizendo:
“Que diabo, por um momento
eu tive tudo. uma coisa ganha da
outra”.
por vezes me mostro muito amargo
mas o gosto tem sido com frequência
doce, é só que tive
medo de dizê-lo. é como
quando sua mulher diz
“fala que me ama”
e você não consegue dizer.
se você chegar a me ver sorrindo em
meu Fusca azul
cruzando um sinal amarelo
dirigindo direto rumo ao sol
sem óculos escuros
estarei apenas trancado na
tarde de uma
vida louca
pensando em trapezistas de circo
em anões com charutos enormes
num inverno russo no início dos anos 40
em Chopin com seu saco de terra polonesa
ou numa velha garçonete me trazendo uma xícara
extra de café e parecendo rir de mim
enquanto me serve.
do melhor de você
eu gosto mais do que você imagina.
os outros não contam
exceto que eles têm dedos e cabeças
e alguns deles olhos
e a maioria deles pernas
e todos eles
sonhos bons e ruins
e um caminho para seguir.
o equilíbrio está em toda parte e está funcionando
e as metralhadoras e as rãs
e as sebes podem lhe contar
isso.
falésias de Santa Monica;
a sorte está em descer a Western Avenue
e acontecer que uma das garotas de uma casa
de massagem grite pra você “Alô, Doçura!”
o milagre está em ter cinco mulheres apaixonadas
por você aos 55 anos de idade,
e o bom de tudo é que você só é capaz
de amar uma delas.
o dom está em ter uma filha mais delicada
do que você é, cuja risada é mais bela
do que a sua.
a placidez está em ser capaz de dirigir um
Fusca 67 azul pelas ruas como um
adolescente, o rádio sintonizado no Apresentador que Mais Ama
Você, sentindo o sol, sentindo o sólido ronco
do motor retificado
enquanto você costura o tráfego
e deixa os mortos putos da cara.
a graça está em ser capaz de gostar de rock,
música sinfônica, jazz...
tudo que contenha o júbilo da energia
original.
e a matemática que retorna
é o profundo baixo-astral sob
você estendido sobre você
entre as paredes de guilhotina –
furioso com o som do telefone
ou com os passos de qualquer um passando;
e a outra matemática:
a iminente animação que se segue
fazendo com que os caras sentados nos bancos
junto aos carrinhos de taco
pareçam gurus
fazendo com que a garota do caixa no
supermercado pareça
Marilyn
ou Zsa Zsa
ou Jackie antes de pegarem seu amante de Harvard
ou a garota do ensino médio que
todos nós garotos seguíamos até em casa.
e a pureza que ajuda você a crer
em algo além da morte
é Sandy Hawley montando
cinco vencedores no Hollywood Park, cavalos fora de forma,
nenhum deles favorito,
ou alguém num carro que se aproxima de você
numa rua estreita demais,
e ele ou ela desvia de lado pra deixar você
passar, ou o velho lutador Beau Jack
engraxando sapatos
após ter torrado seu pé-de-meia todo
com festas
com mulheres
com parasitas,
cantarolando, soprando no couro,
mandando ver com o trapo,
olhando pra cima e dizendo:
“Que diabo, por um momento
eu tive tudo. uma coisa ganha da
outra”.
por vezes me mostro muito amargo
mas o gosto tem sido com frequência
doce, é só que tive
medo de dizê-lo. é como
quando sua mulher diz
“fala que me ama”
e você não consegue dizer.
se você chegar a me ver sorrindo em
meu Fusca azul
cruzando um sinal amarelo
dirigindo direto rumo ao sol
sem óculos escuros
estarei apenas trancado na
tarde de uma
vida louca
pensando em trapezistas de circo
em anões com charutos enormes
num inverno russo no início dos anos 40
em Chopin com seu saco de terra polonesa
ou numa velha garçonete me trazendo uma xícara
extra de café e parecendo rir de mim
enquanto me serve.
do melhor de você
eu gosto mais do que você imagina.
os outros não contam
exceto que eles têm dedos e cabeças
e alguns deles olhos
e a maioria deles pernas
e todos eles
sonhos bons e ruins
e um caminho para seguir.
o equilíbrio está em toda parte e está funcionando
e as metralhadoras e as rãs
e as sebes podem lhe contar
isso.
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