Cheia de Faltas
Eu sempre começo o dia
abrindo os olhos.
Queria amanhecer abrindo os braços de um abraço,
pra variar de vez em quando.
Talvez preenchesse esse vazio que chamam de existencial.
Enquanto o sol adentra pela janela
fico observando como ele esquenta as coisas,
só não os meus pés.
Meus pés andam frios. Penso até que é solidão,
ou tristeza talvez.
O fato é que a solidão deve ser mãe da tristeza.
Ela é grande e sua filha é pequena e
por isso só nos alcança os pés.
Tenho pra mim que esse vazio é inexistencial,
pois tem faltas na minha vida.
Algo inexiste em meus dias
e por isso esse frio não passa.
Já levanto sentindo falta de alguma coisa
e vou dormir acumulada de tanta falta.
Parece ilógico, mas estou cheia de sentir faltas.
Meus pés sentem falta,
meus olhos sentem falta,
meu sorriso sente falta.
Começo a pensar que preciso parar de sentir,
como alguns por aí…
Há muito o que fazer na sala,
sentir às vezes me toma tempo.
Mas como fazer o sentir dar um tempo?
Já tentei contar as horas para ganhá-lo e
só perdi tempo mesmo.
Não adianta contar…
o tempo não pára, eu não saio do lugar
e não paro de sentir.
O que é a natureza, não é? Uns sentindo falta de
tanto e outros com tanto sem dividir.
Clareanna V. Santana
Clareamente