Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
337331
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27
Você e a Sua Cerveja e o Quão Maravilhoso você é
Jack entrou e encontrou o maço de cigarros junto à lareira. Ann estava no sofá lendo um exemplar da Cosmopolitan. Jack acendeu um cigarro e sentou-se. Faltavam dez minutos para a meia-noite.
– Charley disse para você não fumar – disse Ann, levantando os olhos da revista.
– Mereço um cigarro. Esta noite foi dura.
– Ganhou?
– Não foi unânime, mas ganhei. Benson era um cara duro, muita coragem. Charley disse que Parvinelli é o próximo. Ganhando do Parvinelli, ganhamos o campeonato.
Jack se levantou, foi até a cozinha, voltou com uma garrafa de cerveja.
– Charley me disse pra manter você longe da cerveja – disse Ann enquanto baixava a revista.
– Charley disse isso, Charley disse aquilo... Estou cansado disso. Ganhei a luta. Ganhei dezesseis seguidas, tenho direito a um cigarro e a uma cerveja.
– Tem de manter a forma.
– Não importa. Surro qualquer um deles.
– Você é tão bom... Quando você se embebeda, tenho que ficar ouvindo “como você é bom”. É de dar nos nervos.
– Eu sou bom. Dezesseis seguidas, quinze nocautes. Quem é melhor?
Ann não respondeu. Jack levou sua garrafa de cerveja e seu cigarro para o banheiro.
– Você nem me deu um beijo ao chegar. A primeira coisa que você fez foi pegar a sua garrafa de cerveja. Tão bom, certo. Um bom bebedor de cerveja.
Jack não respondeu. Cinco minutos mais tarde, apareceu em pé na porta do banheiro, com as calças e os calções pelos tornozelos.
– Pelo amor de Deus, Ann, não dá pra deixar nem um rolo de papel higiênico aqui?
– Desculpa.
Foi até o armário e levou um rolo para ele. Jack terminou o serviço e saiu. Então terminou sua cerveja e pegou outra.
– Aqui está você, vivendo com o melhor peso médio do mundo e tudo que faz é reclamar. Um monte de garotas gostaria de estar aqui comigo, e tudo que você faz é ficar sentada e reclamar.
– Sei que você é bom, Jack, talvez até seja o melhor, mas você não faz ideia de como é entediante ficar sentada e ouvir você dizer mais e mais uma vez o quão maravilhoso você é.
– Oh, então você está entediada, é isso?
– Sim, porra, você e a sua cerveja e o quão maravilhoso você é.
– Diga o nome de um peso médio que seja melhor. Você nem mesmo vai às minhas lutas.
– Existem outras coisas além de lutar, Jack.
– Como o quê? Passar o dia com essa bunda no sofá lendo Cosmopolitan?
– Gosto de exercitar a mente.
– E deveria. Tem muito ainda pra progredir nesse terreno.
– Estou dizendo que existem outras coisas além de lutar.
– Como o que, por exemplo?
– Bem, arte, música, pintura, coisas desse tipo.
– E você sabe fazer alguma delas?
– Não, mas aprecio.
– Merda, prefiro ser o melhor no que estou fazendo.
– Bom, melhor, o único... Deus, você não consegue apreciar as pessoas pelo que elas são?
– Pelo que elas são? O que a maioria delas é? Lesmas, sanguessugas, dândis, dedos-duros, cafetões, empregados...
– Você está sempre rebaixando os outros. Nenhum dos seus amigos é bom o suficiente. Você é o fodão!
– Isso mesmo, boneca.
Jack foi até a cozinha e voltou com outra cerveja.
– Você e a sua maldita cerveja!
– É um direito meu. Eles vendem. Eu compro.
– Charley disse...
– Quero que Charley se foda!
– Você é o melhor!
– Isso mesmo. Pelo menos Pattie sabia disso. Ela admitia e se orgulhava. Sabia o que isso custava. Tudo que você faz é reclamar.
– Bem, por que você não volta pra ela? O que está fazendo aqui comigo?
– Era bem nisso que estava pensando.
– Bem, não somos casados, posso ir embora a qualquer hora.
– Isso é o que está nos fodendo. Merda, chego aqui morto de cansado depois de uma luta dura de dez assaltos, e você nem mesmo fica feliz por eu ter vencido. Tudo que você faz é reclamar de mim.
– Escute, Jack, existe mais na vida além de lutar. Quando o conheci, admirei-o pelo que você era.
– Eu era um lutador. Não existe nenhuma outra coisa além de lutar. Isso é o que sou: um lutador. Essa é a minha vida e sou bom nisso. O melhor. Noto que você sempre simpatiza com os lutadores de segunda classe... como Toby Jorgenson.
– Toby é muito engraçado. Tem um senso de humor, um senso de humor de verdade. Gosto do Toby.
– Sua marca são nove vitórias, apenas cinco por nocaute e uma derrota. Dou uma surra nele mesmo podre de bêbado.
– E Deus sabe que você fica podre de bêbado frequentemente. Como você acha que me sinto nas festas quando você está caindo de bêbado, rolando no chão, quando não está se gabando pela sala, dizendo pra todo mundo “SOU O MELHOR, O MELHOR, O MELHOR DE TODOS!”? Não acha que isso faz com que eu me sinta um cu?
– Talvez você seja um cu mesmo. Se gosta tanto do Toby, por que não vai ficar com ele?
– Ah, só disse que gostava dele, achei ele engraçado, isso não quer dizer que quero ir para a cama com ele.
– Bem, você vai pra cama comigo e diz que sou entediante. Não sei o que diabos você quer.
Ann não respondeu. Jack se levantou, caminhou até o sofá, ergueu a cabeça de Ann e beijou-a, retornou ao seu lugar e se sentou.
– Escute, deixe-me contar sobre essa luta com o Benson. Até você teria ficado orgulhosa de mim. Ele me derruba no primeiro assalto, uma direita perigosa. Levanto e o seguro o resto do assalto. Caio outra vez no segundo assalto e quase não consigo me levantar quando a contagem já estava em oito. Seguro ele outra vez. Uso alguns dos assaltos seguintes para recuperar minhas pernas. Ganho o sexto, o sétimo e o oitavo assaltos, derrubo ele uma vez no nono e duas vezes no décimo. Não acho que era luta para decidir nos pontos. Mas os juízes acharam que era. Venci, mas não foi unânime. Bem, são 45 mil, entende, garota? Quarenta e cinco mil. Sou ótimo. Não dá pra negar. Sou muito bom. Dá pra negar?
Ann não respondeu.
– Vamos, diz que eu sou o melhor.
– Está bem, você é o melhor.
– Bem, começamos a nos entender.
Jack caminhou até ela e a beijou novamente.
– Sinto que sou tão bom. Boxe é uma obra de arte, realmente é. É preciso ter coragem para ser um grande artista e é preciso ter coragem pra ser um bom lutador.
– Tudo bem, Jack.
– Tudo bem, Jack? É tudo que você tem a dizer? Pattie costumava ficar feliz quando eu ganhava. Ficávamos ambos felizes a noite inteira. Você não pode compartilhar algo de bom que eu fiz? Porra, você está apaixonada por mim ou está apaixonada pelos perdedores, aqueles merdas? Acho que você seria mais feliz se eu chegasse aqui como perdedor.
– Quero que você vença, Jack, é só que você põe muita ênfase no que faz...
– Porra, é o meu sustento, minha vida. Me orgulho de ser o melhor. É como voar, é como sair voando pelo céu espancando o sol.
– O que você vai fazer quando não puder mais lutar?
– Porra, vamos ter bastante dinheiro para fazer o que quisermos.
– Menos nos dar bem, talvez.
– Talvez eu possa aprender a ler Cosmopolitan, melhorar minha mente.
– Bem, há espaço para melhorias.
– Vai se foder!
– Quê?
– Vai se foder!
– Bem, é algo que você não faz já há algum tempo.
– Alguns caras gostam de foder mulheres que não param de reclamar, eu não gosto.
– Imagino que Pattie não reclamava?
– Todas reclamam, mas você é a campeã.
– Bem, por que não volta para Pattie?
– Você está aqui agora. Só posso hospedar uma puta de cada vez.
– Puta?
– Puta.
Ann se levantou e foi até o armário, pegou sua mala e começou a guardar suas roupas ali. Jack foi até a cozinha e pegou outra garrafa de cerveja. Ann estava chorando, tomada de fúria. Jack sentou com a cerveja e tomou um bom gole. Precisava de um uísque, precisava de uma garrafa de uísque. E de um bom charuto.
– Posso vir pegar o resto das minhas coisas quando você não estiver por aqui.
– Não se preocupe. Mando pra você.
Ela parou junto à porta.
– Bem, imagino que seja o fim – ela disse.
– Creio que sim – respondeu Jack.
Ela fechou a porta e se foi. Procedimento padrão. Jack terminou sua cerveja e foi até o telefone. Discou o número de Pattie. Ela atendeu.
– Pattie?
– Oi, Jack, como tem passado?
– Ganhei uma grande essa noite. Não foi unânime. Tudo que tenho que fazer é passar por cima do Parvinelli e levo o campeonato.
– Vai acabar com a raça deles, Jack. Sei que você consegue.
– O que vai fazer essa noite, Pattie?
– É uma da manhã, Jack. Andou bebendo?
– Um pouco. Estou comemorando.
– E Ann?
– Brigamos. Só ando com uma mulher por vez, você sabe disso, Pattie.
– Jack...
– Quê?
– Estou com um cara.
– Um cara?
– Toby Jorgenson. Ele está no banheiro...
– Oh, sinto muito.
– Também sinto muito, Jack. Eu amava você... talvez ainda ame.
– Merda, vocês mulheres gostam mesmo de jogar essa palavra por aí...
– Sinto muito, Jack.
– Tudo bem.
Ele desligou. Então foi até o armário pegar seu casaco. Vestiu, terminou a cerveja, desceu o elevador e foi até o carro. Dirigiu pela Normandie a cem quilômetros por hora, parou na loja de bebidas na Hollywood Boulevard. Saiu do carro e entrou na loja. Comprou um pacote de cerveja de seis garrafas Michelob, uma caixa de Alka-Seltzer. Então, no caixa, pediu ao funcionário por uma garrafa de Jack Daniels. Enquanto o funcionário estava somando as compras, um bêbado entrou com dois pacotes de seis cervejas Coors.
– Ei, cara! – ele disse a Jack. – Você não é Jack Backenweld, o lutador?
– Sou – respondeu Jack.
– Cara, vi a sua luta essa noite, Jack, você tem colhões. Você é realmente bom!
– Obrigado, cara – respondeu ao bêbado e então pegou sua sacola de compras e caminhou para o carro. Sentou lá, abriu a tampa do Daniels e tomou um bom trago. Então voltou, dirigiu em alta velocidade no sentido oeste, de volta pela Hollywood, dobrou a esquerda na Normandie e notou uma garota nova e bem feita de corpo cambaleando pela rua. Parou o carro, pegou a garrafa de uísque e mostrou a ela.
– Quer uma carona?
Jack ficou surpreso quando ela entrou.
– Vou ajudar você a beber isso, senhor, mas nada além disso.
– Claro que não – disse Jack.
Desceu a Normandie a sessenta quilômetros por hora, um respeitado cidadão, o terceiro melhor peso médio no ranking mundial. Por um momento sentiu vontade de contar para ela com quem estava andando, mas mudou de ideia e estendeu a mão para apalpar um dos joelhos dela.
– Você tem um cigarro, senhor? – ela perguntou.
Ele ofereceu rapidamente um cigarro com a mão, acionou o isqueiro do painel, que saltou para fora, e então acendeu o fogo para ela.
– Ao sul de lugar nenhum
– Charley disse para você não fumar – disse Ann, levantando os olhos da revista.
– Mereço um cigarro. Esta noite foi dura.
– Ganhou?
– Não foi unânime, mas ganhei. Benson era um cara duro, muita coragem. Charley disse que Parvinelli é o próximo. Ganhando do Parvinelli, ganhamos o campeonato.
Jack se levantou, foi até a cozinha, voltou com uma garrafa de cerveja.
– Charley me disse pra manter você longe da cerveja – disse Ann enquanto baixava a revista.
– Charley disse isso, Charley disse aquilo... Estou cansado disso. Ganhei a luta. Ganhei dezesseis seguidas, tenho direito a um cigarro e a uma cerveja.
– Tem de manter a forma.
– Não importa. Surro qualquer um deles.
– Você é tão bom... Quando você se embebeda, tenho que ficar ouvindo “como você é bom”. É de dar nos nervos.
– Eu sou bom. Dezesseis seguidas, quinze nocautes. Quem é melhor?
Ann não respondeu. Jack levou sua garrafa de cerveja e seu cigarro para o banheiro.
– Você nem me deu um beijo ao chegar. A primeira coisa que você fez foi pegar a sua garrafa de cerveja. Tão bom, certo. Um bom bebedor de cerveja.
Jack não respondeu. Cinco minutos mais tarde, apareceu em pé na porta do banheiro, com as calças e os calções pelos tornozelos.
– Pelo amor de Deus, Ann, não dá pra deixar nem um rolo de papel higiênico aqui?
– Desculpa.
Foi até o armário e levou um rolo para ele. Jack terminou o serviço e saiu. Então terminou sua cerveja e pegou outra.
– Aqui está você, vivendo com o melhor peso médio do mundo e tudo que faz é reclamar. Um monte de garotas gostaria de estar aqui comigo, e tudo que você faz é ficar sentada e reclamar.
– Sei que você é bom, Jack, talvez até seja o melhor, mas você não faz ideia de como é entediante ficar sentada e ouvir você dizer mais e mais uma vez o quão maravilhoso você é.
– Oh, então você está entediada, é isso?
– Sim, porra, você e a sua cerveja e o quão maravilhoso você é.
– Diga o nome de um peso médio que seja melhor. Você nem mesmo vai às minhas lutas.
– Existem outras coisas além de lutar, Jack.
– Como o quê? Passar o dia com essa bunda no sofá lendo Cosmopolitan?
– Gosto de exercitar a mente.
– E deveria. Tem muito ainda pra progredir nesse terreno.
– Estou dizendo que existem outras coisas além de lutar.
– Como o que, por exemplo?
– Bem, arte, música, pintura, coisas desse tipo.
– E você sabe fazer alguma delas?
– Não, mas aprecio.
– Merda, prefiro ser o melhor no que estou fazendo.
– Bom, melhor, o único... Deus, você não consegue apreciar as pessoas pelo que elas são?
– Pelo que elas são? O que a maioria delas é? Lesmas, sanguessugas, dândis, dedos-duros, cafetões, empregados...
– Você está sempre rebaixando os outros. Nenhum dos seus amigos é bom o suficiente. Você é o fodão!
– Isso mesmo, boneca.
Jack foi até a cozinha e voltou com outra cerveja.
– Você e a sua maldita cerveja!
– É um direito meu. Eles vendem. Eu compro.
– Charley disse...
– Quero que Charley se foda!
– Você é o melhor!
– Isso mesmo. Pelo menos Pattie sabia disso. Ela admitia e se orgulhava. Sabia o que isso custava. Tudo que você faz é reclamar.
– Bem, por que você não volta pra ela? O que está fazendo aqui comigo?
– Era bem nisso que estava pensando.
– Bem, não somos casados, posso ir embora a qualquer hora.
– Isso é o que está nos fodendo. Merda, chego aqui morto de cansado depois de uma luta dura de dez assaltos, e você nem mesmo fica feliz por eu ter vencido. Tudo que você faz é reclamar de mim.
– Escute, Jack, existe mais na vida além de lutar. Quando o conheci, admirei-o pelo que você era.
– Eu era um lutador. Não existe nenhuma outra coisa além de lutar. Isso é o que sou: um lutador. Essa é a minha vida e sou bom nisso. O melhor. Noto que você sempre simpatiza com os lutadores de segunda classe... como Toby Jorgenson.
– Toby é muito engraçado. Tem um senso de humor, um senso de humor de verdade. Gosto do Toby.
– Sua marca são nove vitórias, apenas cinco por nocaute e uma derrota. Dou uma surra nele mesmo podre de bêbado.
– E Deus sabe que você fica podre de bêbado frequentemente. Como você acha que me sinto nas festas quando você está caindo de bêbado, rolando no chão, quando não está se gabando pela sala, dizendo pra todo mundo “SOU O MELHOR, O MELHOR, O MELHOR DE TODOS!”? Não acha que isso faz com que eu me sinta um cu?
– Talvez você seja um cu mesmo. Se gosta tanto do Toby, por que não vai ficar com ele?
– Ah, só disse que gostava dele, achei ele engraçado, isso não quer dizer que quero ir para a cama com ele.
– Bem, você vai pra cama comigo e diz que sou entediante. Não sei o que diabos você quer.
Ann não respondeu. Jack se levantou, caminhou até o sofá, ergueu a cabeça de Ann e beijou-a, retornou ao seu lugar e se sentou.
– Escute, deixe-me contar sobre essa luta com o Benson. Até você teria ficado orgulhosa de mim. Ele me derruba no primeiro assalto, uma direita perigosa. Levanto e o seguro o resto do assalto. Caio outra vez no segundo assalto e quase não consigo me levantar quando a contagem já estava em oito. Seguro ele outra vez. Uso alguns dos assaltos seguintes para recuperar minhas pernas. Ganho o sexto, o sétimo e o oitavo assaltos, derrubo ele uma vez no nono e duas vezes no décimo. Não acho que era luta para decidir nos pontos. Mas os juízes acharam que era. Venci, mas não foi unânime. Bem, são 45 mil, entende, garota? Quarenta e cinco mil. Sou ótimo. Não dá pra negar. Sou muito bom. Dá pra negar?
Ann não respondeu.
– Vamos, diz que eu sou o melhor.
– Está bem, você é o melhor.
– Bem, começamos a nos entender.
Jack caminhou até ela e a beijou novamente.
– Sinto que sou tão bom. Boxe é uma obra de arte, realmente é. É preciso ter coragem para ser um grande artista e é preciso ter coragem pra ser um bom lutador.
– Tudo bem, Jack.
– Tudo bem, Jack? É tudo que você tem a dizer? Pattie costumava ficar feliz quando eu ganhava. Ficávamos ambos felizes a noite inteira. Você não pode compartilhar algo de bom que eu fiz? Porra, você está apaixonada por mim ou está apaixonada pelos perdedores, aqueles merdas? Acho que você seria mais feliz se eu chegasse aqui como perdedor.
– Quero que você vença, Jack, é só que você põe muita ênfase no que faz...
– Porra, é o meu sustento, minha vida. Me orgulho de ser o melhor. É como voar, é como sair voando pelo céu espancando o sol.
– O que você vai fazer quando não puder mais lutar?
– Porra, vamos ter bastante dinheiro para fazer o que quisermos.
– Menos nos dar bem, talvez.
– Talvez eu possa aprender a ler Cosmopolitan, melhorar minha mente.
– Bem, há espaço para melhorias.
– Vai se foder!
– Quê?
– Vai se foder!
– Bem, é algo que você não faz já há algum tempo.
– Alguns caras gostam de foder mulheres que não param de reclamar, eu não gosto.
– Imagino que Pattie não reclamava?
– Todas reclamam, mas você é a campeã.
– Bem, por que não volta para Pattie?
– Você está aqui agora. Só posso hospedar uma puta de cada vez.
– Puta?
– Puta.
Ann se levantou e foi até o armário, pegou sua mala e começou a guardar suas roupas ali. Jack foi até a cozinha e pegou outra garrafa de cerveja. Ann estava chorando, tomada de fúria. Jack sentou com a cerveja e tomou um bom gole. Precisava de um uísque, precisava de uma garrafa de uísque. E de um bom charuto.
– Posso vir pegar o resto das minhas coisas quando você não estiver por aqui.
– Não se preocupe. Mando pra você.
Ela parou junto à porta.
– Bem, imagino que seja o fim – ela disse.
– Creio que sim – respondeu Jack.
Ela fechou a porta e se foi. Procedimento padrão. Jack terminou sua cerveja e foi até o telefone. Discou o número de Pattie. Ela atendeu.
– Pattie?
– Oi, Jack, como tem passado?
– Ganhei uma grande essa noite. Não foi unânime. Tudo que tenho que fazer é passar por cima do Parvinelli e levo o campeonato.
– Vai acabar com a raça deles, Jack. Sei que você consegue.
– O que vai fazer essa noite, Pattie?
– É uma da manhã, Jack. Andou bebendo?
– Um pouco. Estou comemorando.
– E Ann?
– Brigamos. Só ando com uma mulher por vez, você sabe disso, Pattie.
– Jack...
– Quê?
– Estou com um cara.
– Um cara?
– Toby Jorgenson. Ele está no banheiro...
– Oh, sinto muito.
– Também sinto muito, Jack. Eu amava você... talvez ainda ame.
– Merda, vocês mulheres gostam mesmo de jogar essa palavra por aí...
– Sinto muito, Jack.
– Tudo bem.
Ele desligou. Então foi até o armário pegar seu casaco. Vestiu, terminou a cerveja, desceu o elevador e foi até o carro. Dirigiu pela Normandie a cem quilômetros por hora, parou na loja de bebidas na Hollywood Boulevard. Saiu do carro e entrou na loja. Comprou um pacote de cerveja de seis garrafas Michelob, uma caixa de Alka-Seltzer. Então, no caixa, pediu ao funcionário por uma garrafa de Jack Daniels. Enquanto o funcionário estava somando as compras, um bêbado entrou com dois pacotes de seis cervejas Coors.
– Ei, cara! – ele disse a Jack. – Você não é Jack Backenweld, o lutador?
– Sou – respondeu Jack.
– Cara, vi a sua luta essa noite, Jack, você tem colhões. Você é realmente bom!
– Obrigado, cara – respondeu ao bêbado e então pegou sua sacola de compras e caminhou para o carro. Sentou lá, abriu a tampa do Daniels e tomou um bom trago. Então voltou, dirigiu em alta velocidade no sentido oeste, de volta pela Hollywood, dobrou a esquerda na Normandie e notou uma garota nova e bem feita de corpo cambaleando pela rua. Parou o carro, pegou a garrafa de uísque e mostrou a ela.
– Quer uma carona?
Jack ficou surpreso quando ela entrou.
– Vou ajudar você a beber isso, senhor, mas nada além disso.
– Claro que não – disse Jack.
Desceu a Normandie a sessenta quilômetros por hora, um respeitado cidadão, o terceiro melhor peso médio no ranking mundial. Por um momento sentiu vontade de contar para ela com quem estava andando, mas mudou de ideia e estendeu a mão para apalpar um dos joelhos dela.
– Você tem um cigarro, senhor? – ela perguntou.
Ele ofereceu rapidamente um cigarro com a mão, acionou o isqueiro do painel, que saltou para fora, e então acendeu o fogo para ela.
– Ao sul de lugar nenhum
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