Apenas uma valsa
Há muitos anos, em ares remotos! Tão pequenina e indefesa. Ele conduziu a primeira valsa. A inocência perdurava na pureza da criança com ar de Cinderela com o seu príncipe. Mal escrevia os primeiros versos ou falava com a coerência de um ser.
Tempos mais tarde, na transição da semente em flor, onde os desejos foram aguçados pelo encantamento. Ainda pequena em teus braços, mas firme a bailar no teu ensejo. Nos olhares que se cruzavam e revelavam a impotência na adolescente persistente. Na delicadeza da música, no tom suave da tua mão ao conduzir os passos da vida adulta. A conclusão dos ensinos, lhe trouxe mais um passo, mal sabia que seria o último. Foi o mais intenso. Os sorrisos figurados, revelavam o fim de mais um capítulo, onde iniciaria de vez a caminhada com passos próprios.
As decisões, as eventuais dúvidas, se perduram na mente infantil. Passaram muitos danúbios azuis, ou pretos, cisnes de todos os lagos envelheceram e as flores murcharam na valsa que não mais valseia.
O ciclo se encerra e o que resta são adágios e noturnos, que se transfiguram na angústia infinda da dor.
O vestido rasgou, o salto quebrou, o batom borrou, os cabelos se emaranharam num rosto sem olhares.
A rosa que havia brotado se encheu de espinhos e atiçam a si por várias e muitas vezes, mas se tornou imune a dor.
N'alma esbagaçada aprendeu a suportar o maltrato físico.
Seria Sbelius ou Vivaldi? No ensejo de uma valsa triste ou nas estações já inerentes? De Baudelaire a Rimbaud. O ballet perdeu o classicismo, no mesmo instante que a poesia desencantou do lirismo.
Era para ser a última, a única! Os olhos fecham e refletem o devaneio inalcançável. E se esvai!
Em passos de valsa, em lágrimas soberbas, na solidão que valseja no coração inerte.